Há
95 anos, no dia 28 de setembro de 1917, desaparecia o político
Severino dos Santos Vieira. Esse texto está publicado no meu
livro Gente da Bahia volume dois: Nasceu a 08 de junho de 1849, na
antiga Vila da Ribeira do Conde, atual São Francisco do Conde,
Bahia. Fez os primeiros estudos com o pároco de sua freguesia e com
o professor Francisco Lisboa. Vindo para a capital, em 1866, iniciou
os estudos de Humanidades até 1870 no Colégio São João, dirigido
por João Estanislau da Silva Lisboa. Ingressando na Faculdade de
Direito do Recife, transferiu-se, algum tempo depois, para a de São
Paulo, onde procurou melhorar de uma doença e, por onde se
bacharelou em 1874. Nomeado promotor da Comarca do Conde, em 1875,
exerceu a função por poucos meses, tendo assumido depois o cargo de
juiz municipal e de Órfãos do Termo do Conde até 1879. Abandonou
então a magistratura e dedicou-se à advocacia.
Ingressou
no Partido Conservador, no Império, elegendo-se deputado provincial
para a legislatura de 1882-83. Proclamada a República, foi eleito
para a Assembléia Constituinte Federal. Não conseguiu reeleger-se,
mas foi indicado para substituir, no Senado Federal, Manuel Vitorino,
eleito ao mesmo tempo senador e vice-presidente da República.
Permaneceu no senado até 1898, quando foi chamado pelo presidente
Campos Sales para a pasta da Agricultura, Indústria, Viação e
Obras Públicas (a sua administração nesse setor foi das mais
proveitosas), dela retirando-se para tomar posse como governador do
estado.
No
quatriênio 1901/1904, assumiu ao governo do estado. Foi aí então
que mais se caracterizou o seu espírito de homem público. Ponderado
e honesto, trabalhou pelo estado com a energia que lhe era própria,
equilibrando as finanças, empreendendo obras de vulto, que
assinalaram a sua passagem à frente dos destinos baianos. Durante
seu governo, o nono da Bahia, deu-se a cisão do Partido Republicano.
A partir de então, as faccões “vianista” e “severinista” se
enfrentaram abertamente em toda a Bahia. Afastou os “vianistas”
do governo e interveio nos redutos oposicionistas do interior. Criou
uma nova agremiação política: o Partido Republicano da Bahia,
instrumento da consolidação política e da centralização do
poder. Suas realizações no governo foram mais administrativas do
que materiais.
A
diminuição da receita e os gastos excessivos do governo anterior
justificaram a suspensão de diversas obras públicas. Ampliou os
serviços de desinfecção e de pesquisas bacteriológicas, pois
temia a invasão da peste bubônica que já havia se manifestado na
capital da República. O governo de Severino Vieira não transcorreu
placidamente. Além de sérias perturbações da ordem, no interior
do Estado, entra em luta com o Poder Judiciário e com o Comércio.
Dois são os conflitos que mantém com a Magistratura, o primeiro
pela supressão, por decreto administrativo de uma Vara de Órfãos
na Comarca da Capital, baseado numa autorização orçamentária; o
segundo com a decretação do imposto de consumo sobre o álcool por
meio de selo adesivo. Esta luta se desenrola nos últimos dias do seu
governo, já depois de eleito e reconhecido seu sucessor. Apesar da
reação provocada, o governador manteve sua decisão, embora
suspendesse a execução do decreto até a reunião do Poder
Legislativo a quem submeteu a questão. O Parlamento manteve o ato do
governador. Resultado: a poderosa Associação Comercial, resistindo
à criação do imposto de consumo sobre o álcool, ordenou ao
comércio que fechasse suas portas em repúdio ao governo, durante
três dias até que fosse empossado José Marcelino de Souza.
Em
sua gestão, Severino Vieira não aumentou a dívida externa, mas,
por meio de letras do Tesouro, contraiu empréstimos que vieram
agravar o passivo do Estado. Deixando o alto posto, a sua atitude foi
das mais altivas e independentes. Aí foi que se agigantou. Não se
recolhendo à vida privada, prosseguiu lutando, com seu caráter
incorruptível, pela autonomia do estado, pela garantia das
liberdades, como um apóstolo da democracia brasileira. Após passar
o cargo a seu sucessor, Severino Vieira realizou uma viagem à
Europa, como negociador de um empréstimo externo para o Estado.
Permaneceu como poderoso chefe político da Bahia, falando em nome do
PRB no Rio de Janeiro, quando assumiu uma cadeira no Senado Federal,
vaga com a morte de Artur Rios.
Rompeu
com José Marcelino em 1907, quando o partido da situação cindiu-se
em “marcelinistas” e “severinistas”, em torno da sucessão
governamental. O governador decide por influir na escolha de seu
sucessor e apóia o nome de Araújo Pinho, enquanto Severino Vieira
lança Inácio Tosta. Derrotado, após o conflito que envolveu o
Legislativo, Judiciário e Governo Federal, Severino Vieira passou
para a oposição combativa na imprensa, como proprietário e
redator-chefe do Diário da Bahia. Seus artigos naquela época
provocavam o grupo governista tendo o seu jornal uma grande
circulação e aceitação por toda a comunidade. Isso o deixava mais
forte, politicamente. Em 1911 disputou a reeleição senatorial, mas
foi derrotado no reconhecimento por Luís Vianna. Foi, na imprensa, o
maior opositor de J.J.Seabra. Em 1917, participou da fundação da
Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de nº 19 e tendo
sido o primeiro de seus membros a falecer. Ele morreu em Salvador, no
dia 28 de setembro de 1917.
“O
severinismo ficou e aí está, e perdurará, como expressão de
legítima cultura política, e como ele também se imortalizou o
próprio Severino - em sua obra inestinguivel de civismo sadio, na
tenacidade, na abnegação, no estoicismo inédito na política do
nosso país, com que enfrentou 10 longos anos de ostracismo, que
tantos foram os decorridos entre sua queda do poder e sua morte,
constituindo-lhe a fase mais edificante, da existência”. Assim
falou o professor Gelásio Farias sobre Severino Vieira. Em Salvador,
no bairro de Nazaré, um colégio foi erguido para perpetuar seu
nome, por ter sido ele um grande incentivador da Educação quando
governador da Bahia: Colégio Severino Vieira.
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