O
tato é o nosso sentido mais essencial. É o sentido
que apresenta funções e qualidades únicas, mas que, frequentemente
se combina com os outros. Afeta todo o organismo, assim como sua
cultura e os indivíduos com quem entre em contato. O órgão é a
pele que se estende por todo o corpo. Se o tato não fosse uma
sensação gostosa, não existiria as espécies, as famílias ou a
sobrevivência. Se não gostássemos da sensação de tocar e
acariciar as outras pessoas, o sexo não existiria. O tato é a chave
da sobrevivência. É o primeiro sentido que se desenvolve no feto e,
em uma criança recém-nascida, é automático, sugerindo até mesmo
antes que os olhos se abram ou que o bebê comece a ter consciência
do mundo que o cerca. Logo depois do nascimento, apesar de não
enxergar ou falar, começamos instintivamente a tocar.
O tato
ensina-nos que a vida tem profundidade e contornos; faz com que
sintam os o mundo e nós mesmos tridimensionalmente. Sem esse
intricado conhecimento do mundo, não existiram os artistas, cuja
habilidade é fazer mapas sensoriais e emocionais. O sexo é a
intimidade em seu grau mais elevado, é o tato em seu mais alto
nível. No beijo penetramos a pele um do outro e a mente e o corpo se
ativam com deliciosas sensações. Mas o primeiro toque que os
namorados trocam, geralmente, é nas mãos. Ou o aperto de mão que
continua sendo um a espécie de contrato ou cumprimento comum. O tato
é tão importante em situações emocionais que somos levados a
tocarmos da maneira que gostaríamos que os outros nos consolassem.
As mãos são as mensagens da emoção. O tato é veículo de cura
tão poderoso que muitas vezes usamos os profissionais do toque
(médicos, cabeleireiros, massagistas, etc). Quando não existe o
toque, surge nosso verdadeiro isolamento. O contato aquece nossas
vidas.
Na
hierarquia dos sentidos, o gosto ocupa o primeiro posto na fase
inicial de cada biografia. A primeira interpretação humana é que a
criança estabelece ao chupar as coisas. O sábio (palavra de maior
prestígio intelectual e humano até há poucos séculos) é o homem
que entende de sabores, que sabe a quem sabe as coisas e o que
significa isso.
O paladar
é sentido íntimo. Não podemos sentir gosto a distância. E o gosto
que sentimos das coisas, assim como a composição exata de nossa
saliva, pode ser tão individual quanto nossas impressões digitais.
Ao longo da história e em muitas culturas, o paladar, ou gosto,
sempre teve duplo sentido. Paladar é sempre julgamento ou teste. As
pessoas que têm bom gosto são aquelas que apreciam a vida de
maneira intensamente pessoal, descobrindo sua parte sublime; o resto
não tem gosto. Uma coisa de mau gosto é tida como obscena ou
vulgar.
Todas as
culturas usam o alimento com o sinal de aprovação ou comem oração.
Precisamos comer para viver, da mesma maneira que precisamos
respirar. Mas o ato da respiração é involuntário, e a busca da
comida não, exige energia e planejamento, para nos obrigar a
abandonar nosso torpor natural. Sair de casa pela manhã, ir para o
trabalho são para “ganhar o pão de cada dia”, ou, se
preferirmos, “merecermos nosso sal”, de onde vem a palavra
salário.
A fome
sexual e a física sempre estiveram interligadas. Qualquer alimento
pode ser julgado afrodisíaco. Aqueles com formas fálicas, como
cenouras, pepinos, picles, bananas e aspargos, sempre foram julgados
afrodisíacos durante algum período, assim como as ostras e os
figos, que lembram os órgãos genitais femininos.
A audição
é o quinto sentido. O som engrossa o caldo sensorial de nossas vidas
e dependemos dele como auxílio para interpretar, comunicar e
expressar o mundo em torno de nós. O espaço sideral é silencioso,
mas na Terra, quase tudo produz algum ruído. Os sons cativam tanto a
gente que gostamos de ouvir palavras rimadas. A música, o perfume da
audição, surgiu provavelmente como um ato religioso, com a
finalidade de despertar grupos de pessoas. A música pode agitar ou
acalmar, transportando nossas emoções. Escutamos com nossos corpos.
É difícil ficarmos parados quando ouvimos música. A música produz
estados emocionais específicos compartilhados por todas as pessoas
e, como resultado, permite que comuniquem as nossas emoções mais
íntimas sem que tenhamos que mencioná-las ou defini-las por meio de
uma rede de palavras.
Para
Beethoven, a surdez não foi entrave na composição de obras-primas.
“Vendo Vozes” de Oliver Sacks (Cia das Letras), o autor conta a
história dos surdos e questiona qual a melhor maneira de serem
integrados à sociedade. Ariovaldo Franco descreve em sua obra “De
Caçador à Gourmet” (Senac) os rituais e costumes que se formaram
em torno da alimentação em diferentes civilizações. Já Jean
Anthelme Brillat-Savarin aborda em “A Filosofia do Gosto” (Cia
das Letras) as origens da gastronomia e do funcionamento do gosto.
Para conhecer mais a fundo cada sentido uma obra primordial é “Uma
História Natural dos Sentidos”, de Diane Ackerman (Betrand
Brasil).
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Um comentário:
ola gostaria de saber se tem o livro uma historia natural dos sentidos?
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