25 outubro 2007

O que aconteceu em 1973?

O ano de 1973 no Brasil estava sob o governo Médice, no auge do regime militar. O mundo estava em expansão e permitiu o aumento de investimento via endividamento externo. A moda era a calça boca de sino. A musa, Darlene Glória. O ídolo esportivo, Emerson Fittipaldi. Na vitrola, rodavam os Secos & Molhados.

Foi o grande estouro do ano. Os Secos & Molhados eram liderados pelo inquieto Ney Matogrosso. Com letras descomplicadas e muitas músicas feitas a partir de poemas de autores brasileiros, seu primeiro disco chegou rapidamente ao topo das paradas de sucesso e vendeu mais de 800 mil cópias no ano. Com eles, a música popular retomava as últimas consequências a antropofagia musical tropicalista. O grupo formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrad se tornaria um fenômeno em pouco mais de um ano de ida. Eles já irromperam na cena conquistando o público, rendendo a mídia e abocanhando o mercado fonográfico. Mais que um grupo, Secos & Molhados se tornou um conceito. O trio já nasceu cult e, ao mesmo tempo, super-popular. Várias faixas do disco viraram hits. Os mais poéticos embeveciam-se com “Rosa de Hiroshima”, poema de Vinícius de Moraes, os jovens se embalavam na força de “Sangue Latino”, e a garotada ia à loucura com “O Vira”.

As guitarras, a poesia, os arranjos modernos, a maquiagem, o vocal insólito e o rebolado de Ney provocaram um espanto sem precedentes. Lançado em agosto de 1973, o LP Secos & Molhados vendeu 300 mil cópias em três meses. Em um ano, chegou à marca das 800 mil, quase o dobro do campeão de vendas da época, Roberto Carlos, com a banda lotando estádios por todo o país. Em agosto de 1974, o grupo lançaria o segundo LP, simultaneamente ao anuncio da saída de Ney. A saída do vocalista foi seguida pelo violonista Gerson alegando a mesma razão, o controle dos direitos autorais e das finanças por João Ricardo, o principal compositor e que tentaria ressuscitar (sem sucesso) o grupo em 1977, 1980 e 1987. E o álbum de 1973 foi eleito um dos melhores discos da história do Brasil.

Outro emblemático disco de 1973, gravado em Londres, foi “Dark Side of the Moon”, do grupo psicodélico britânico Pink Floyd. O disco sombrio ficaria mais de 700 semanas na lista dos 200 de maior sucesso nos EUA, um recorde histórico. Escorado por músicas como “Money”, “Breathe”, “Time” e “The Great Gig in the Sky”, o álbum com a capa do prisma tornou-se um ícone da cultura pop. O conceito do disco, segundo o baixista, fundador e principal compositor do grupo, Roger Walter, gira em torno do individualismo e de como a sociedade tornou-se opressora. O disco permaneceu por 724 semanas na parada dos EUA, um recorde. Já foram vendidas mais de 30 milhões de cópias do álbum e relançado com materiais extras no 20º e 30º aniversários. Em março desde ano (2007) Walter apresentou-se na praça da Apoteose, Rio e no estádio do Morumbi, SP, tocando todas as canções de “Dark Side of the Moon”.

A importância do Pink Floyd surgiu a partir da utilização de recursos da música concreta (ruídos de portas que se abrem e fecham, de passos de pessoas, de água que escorre, etc) e eletrônico, fundidas com o estilo clássico, baladas inglesas tradicionais, blues e rock. Com ruídos inéditos, o Pink Floyd sugeria uma atmosfera de ficção científica, além de propor uma nova abertura, desde o aparecimento dos Beatles, no saturado universo da música pop. O conjunto é pioneiro no uso de laser, audiovisuais e suportes mecânicos em seus super-produzidos concertos ao vivo.

Ainda no mundo da música Raul Seixas lança seu grito de guerra no Lp “Krig-há, Bandolo” (na verdade, esse grito é dos macacos nos gibis de Tarzan que Seixas era fã), Tom Jobim com o seu “Matita Perê”, Milton Nascimento e o “Milagre dos Peixes”, o maldito Walter Franco e “Ou Não”, Paulinho da Viola com o excelente “Nervos de Aço”, Luiz Melodia e a sua “Pérola Negra”, “Tom Zé com “Todos os Olhos” e Gal Costa com “Índia”.

No cinema os destaques do ano são O Último Tango em Paris, de Bertolucci, Gritos e Sussurros, de Bergman, e Amarcord, de Fellini (1973). Os musicais pop, rescaldo da contracultura, fazem sucesso: Godspell, a Esperança, de David Greene e Jesus Cristo Superstar, de Norman Jewson. No Brasil chega às telas Toda Nudez Será Castigada, de Arnaldo Jabor. A adaptação da peça de Nélson Rodrigues causa escândalo nos cinemas. Tem ainda obras importantes como Uirá, o Índio em Busca de Deus, de Gustavo Dahl, Os Condenados, de Zelito Viana, Sagarana, o Duelo, de Paulo Thiago. O ano marca o auge da produção pornochanchada, gênero que tem uma fórmula baseada em humor, muito sexo e que consegue ampliar o público do cinema - em dez anos, o número de espectadores no país salta de 25 milhões para 60 milhões.

Várias foram as formas de resistência que os autores críticos usaram para se contrapor à política e ideologia do regime e para fazer chegar ao público suas mensagens, driblando a tesoura e o camburão. Entrelinhas, duplos sentidos, trocadilhos, mensagens cifradas: para bom entendedor, meia palavra tinha de bastar. Foram produzidas (e proibidas) várias obras críticas que versavam sobre os problemas sociais, o sufoco e a repressão daqueles tempos. Como exemplo, peça teatral como Um Grito Parado no Ar, de Gianfrancesco Guarnieri (1973).

Lima Duarte incorporou o cangaceiro Zeca Diabo e Paulo Gracindo viveu Odorico Paraguaçu na primeira novela em cores da TV brasileira: O Bem Amado. Nas noites de domingo uma voz anunciava “olhe bem, preste atenção!. Era o Fantástico, da Rede Globo, o programa revista de entretenimento com jornalismo.

Na Bahia a escola de samba Juventude do Garcia desfila pela última vez em 1973. É sinal de decadência desse tipo de agremiação momesca no carnaval baiano, cada vez mais identificado com o surgimento de grandes blocos e de trios elétricos com sistemas de som sempre mais potentes e sofisticados. Quem é da época pode relembrar mais atrações daquele ano....

18 comentários:

EVANGELICO disse...

Nasci em 1973 e sempre tive curiosidade saber os acontencimentos desta época, muito obrigado. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Olá Gutenberg,tudo bem?sou fruto do ano de 1973 e o que mais me atrai na cultura daquele ano é a musica.gostaria de saber onde posso obter mais informações sobre o que foi lançado na musica mundial, em especial no mes de Abril.Parabéns pela pesquisa e pela generosidade ao dividi-la com todos nos.Abraço e até...

Patrícia disse...

Parabéns Gutemberg. Está difícil encontrar um único local que reúna os acontecimentos mais importantes do ano do meu nascimento (1973) em vários aspectos: histórico, geo-político, economia, cultural; no Brasil e no Mundo...
Eu imaginei um blog que estivesse separado por ano e depois por aspecto. Você topa?

Grande abraço!
Patricia.

Anônimo disse...

obrigada , eu nasci nesse ano de 73

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mike do mosqueiro disse...

Nossaa! isso é muito gay ;)
' HAHA A Locaaa.. Uhu.. Lagy Gaga

Valéria disse...

Seu texto é excelente!Gostei de saber com detalhes o que aconteceu no ano em que nasci.Estou fazendo uma pesquisa para a elaboração de Memorial e seu texto é o melhor.Parabéns!

Gutemberg disse...

Valeria

1973 teve muito mais nas diversas áreas. O espaço do blog é pequeno para contar tudo, tive que resumir.
Forte abraço
Gutemberg

Vampira Dea disse...

De forma leve vc nos pegou pela mão e levou a conhecer ou lembrar um pouco desse ano emblemático, obrigada.

Gutemberg disse...

Vampira Dea

Você ainda não sabe o que aconteceu de trágico, sombrio, escatológico em
1973... resolvi só escrever o que havia de bom...esqueço esse lado escuro.
Forte abraço
Gutemberg

Gaucho disse...

Eu vivi tudo de bom que aconteceu nos anos 70.

Jean Peixoto disse...

Mto bom o teu texto Guttemberg,eu infelizmente não vivi os 70's...
Só p/ registrar,utilizei esse texto no meu trabalho de facul...
Espero um dia poder ser um jornalista de sucesso com você...
Abraço !!!

anycolors disse...

Parabéns pelo Blog, encontrei aqui informações valiosas para quem como eu, nasceu em 73 e tinha muita curiosidade sobre o cenário mundial daquela época.
Preserve essas informações na web por favor.
Um abraço.
Marcelo.
Novo Hamburgo RS

Amauri disse...

Eu também nasci em 1973, em janeiro, e achei o blog pesquisando no google sobre esse lindo ano! rs

Regina Majerkowski disse...

Sou mais uma nascida em 73 e amei o texto! Retirei muitas dicas artísticas pra comemorar meu dia amanhã! Muito obrigada!

Alexandre Marques disse...

Amigos internautas (como eu) nascidos em 1973, tem uma novidade. Bem, já não é mais tão nova assim. Em janeiro de 2014 foi publicado pela Sonora Editora um livro organizado pelo jornalista carioca Célio Albuquerque intitulado "1973 - O ano que reinventou a MPB", abordando cerca de 50 discos lançados naquele ano e resenhados por 50 autores diferentes (historiadores, produtores musicais, jornalistas, músicos, cronistas, etc.). Eu pessoalmente amei o livro. Procurem por ele e deem uma conferida! Fui!

Unknown disse...

Tenho 19 anos e acabei conhecendo obras incríveis dos anos 70 aqui em seu site. Gratidão!

Maria das Candeias disse...

1973
O mundo já foi menos "careta " 😁