29 outubro 2007

O que aconteceu em 1967?

Há 40 anos o mundo estava em ebulição na efervescente contracultura. A “febre do fazer” (na opinião de Lina Bo Barde) estava em alta. No cinema, Glauber Rocha mostrava as contradições do Brasil em “Terra em Transe”. Na teatro Zé Celso Martinez Corrêa estreou sua famosa montagem de “O Rei da Vela”, no Teatro Oficina. Na música Caetano Veloso e Gilberto Gil apresentaram “Alegria, Alegria” e “Domingo no Parque”, inaugurando o tropicalismo. Na literatura o colombiano Gabriel García Márquez consolidava o “realismo mágico” com seu “Cem Anos de Solidão” e o romantismo revolucionário do continente chegava ao fim com a morte, na Bolívia, de Che Guevara, o guerreiro imortalizado no mundo inteiro. E a ciência marcava pontos com o primeiro transplante de coração, realizado pelo médico sul-africano Christian Barnard. Ele transplanta o coração de uma jovem de 25 anos para um homem de 55 anos. E a pílula anticoncepcional desencadeou a revolução sexual. O sexo (antes para a reprodução) pendeu para o lado do prazer.

Jean-Luc Godard satiriza os filhos da classe média que se julgavam revolucionário no filme “A Chinesa”. Ele estilhaça a política provocando estranheza. Outro impacto de rajada de tiros e discursos numa alegoria do caos está presente no filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Reflexão amarga sobre a derrota da esquerda, seu fluxo narrativo obedece aos delírios do protagonista (um jornalista de classe média envolvido com um político populista), ferido mortalmente. Na enxurrada de recordações do protagonista podem-se ver as contradições de um país de terceiro mundo e da pequena burguesia urbana, dividida entre o sonho revolucionário romântico e os desejos mesquinhos da realidade. Catherine Deneuve começa sua carreira como heroína ingênua do cinema francês. Aos poucos, vai se transformando numa deusa loira sofisticada, uma mulher independente que escolhe cada filme que vai fazer. Em “A Bela da Tarde (1967) de Luis Buñuel ela faz o papel de pura e perversa, até fundir num novo modelo de mulher que, desde então, sempre acompanharia a atriz.

No mundo da música, era lançado o primeiro disco dos Doors e a experiência radical do Velvet Underground. Mas a ruptura aconteceu com o lançamento de Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. O disco introduziu referências da música erudita, sonoridades indianas e uma dissonância vanguardista influenciando todo mundo. Citado como o maior disco de rock de todos os tempos, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, inaugurava o experimentalismo eletrônico na música popular contemporânea, sendo a primeira vez que músicos do rock aproveitavam todos os recursos e possibilidades, tanto da gravação feita em estúdio quanto da eletrônica. Nesse LP, onde o popular e o erudito se encontravam, instrumentos se misturavam a estranhos sons e a música incorporava cores e gestos. Foi o primeiro “álbum conceitual”.

No Brasil uma injeção de criatividade no poético da palavra cantada surgia com “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso. Na letra feita de estilhaços de imagens para falar de um Brasil fragmentado, moderno e jovem. O mundo das bancas de revista, da comunicação rápida. O ícone vocal da América, Frank Sinatra, curvou-se ao gênio de Tom Jobim e dividiu um disco com ele.

O professor Marshall McLuhan lança seu livro-poema-produção visual-performance gráfica-multiautoral “O Meio É a Massagem” colocando em prática as teorias anunciadas em seu livro anterior. As expressões cunhadas por ele como “aldeia global”, “galáxia de Gutemberg” ou “era da informação” se tornaram voz corrente em todo o mundo e seu nome se transformou em conceito analítico. Foi venerado por muitos e desprezado por outros. Comentando as reações dos contemporâneos ao seu pensamento ele dizia: “Nós olhamos o presente pelo espelho retrovisor. Adentramos o futuro marchando para trás”.

Ainda em 1967, em São Francisco que surgiam os yuppies ou hippies politizados, nome derivado do YIP (Youth International Party - Partido Internacional da Juventude). Jerry Rubin, ex-líder estudantil de Berkeley, proclamava: “Os yuppies são revolucionários. Misturamos a política da Nova Esquerda com o estilo de vida psicodélico. Nossa maneira de viver, nossa própria existência é a revolução”. Consumava-se, assim, segundo alguns, a mistura da revolução cultural com a revolução política. Nas histórias em quadrinhos Guy Pellaert apresenta a personagem Pravda enquanto Guido Crepax desenha a erótica saga sadomasoquista de Valentina.

O jornalista Antônio Calado publicou em 1967 o romance “Quarup”, onde descreve o intelectual da cidade experimentando a realidade da selva. Seus personagens vão viver no Xingu e, no caminho, deparam-se com a repressão no Nordeste nos primeiros anos da Revolução de 1964. E no carnaval de rua de Salvador, em 1967, a presença marcante do bloco Apaches do Tororó, nova agremiação de jovens da comunidade negro mestiça, influenciados pelos filmes de caubói norte americanos. Polêmico, agressivo, pioneiro no uso de música própria e de um tema para cada carnaval, este bloco torna-se um dos mais importantes da década seguinte, chegando a contar cinco mil participantes.

2 comentários:

Dom Carlos disse...

amigo nasce neste ano sendo que no dia 2 de agosto de 1967, sou filho de um militar que por sinal é um crapula matador do regime militar e trabalho hojem em dia com crianças com leucemia.

Unknown disse...

Vale ressaltar mais dois acontecimentos importantes em 1967.
1) Perdemos GUIMARÃES ROSA
2) Nasce o ROLNEY DE ALMEIDA(simplesmente EU....rsrsrs)

Abraços!!!