10 outubro 2007

Mar: o começo e o fim de todas as coisas vivas (1)

Em quase todas as línguas européias, a palavra mar tem a mesma raiz. E o mesmo significado: morrer. Em latim, maré; em irlandês, muir, genitivo, mara; em cimério, môr, myr; em gótico, marei; em armoricano, môr; em anglo-saxão, mere; em alemão antigo, mari, meri; em francês, mer; em escandinavo, mar; em eslavo antigo e em russo, moru; em polonês, morze; em sânscrito, mira. Um dos nomes sânscritos do oceano (martyo-dbhava) significa a origem ou a fonte da morte, assim como maru corresponde a deserto.

Fonte de vida, dos medos e da inspiração poética, o mar fecunda a história desde os mais recriados tempos. “Tudo saiu da água e tudo se resolve em água”, escreveu Thales há 27 séculos, o que inclui a vida e também a morte, o começo e o fim de todas as coisas vivas. Cenário da história, o mar sempre foi objeto de guerras e disputas. Portugueses e espanhóis estenderam a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo. E, mesmo que genéricos e escandinavos já tivessem enfrentado o Atlântico, coube a Camões imortalizar os feitos singulares dos lusíadas. Sangue no mar de Camões, sal de lágrimas no mar de Fernando Pessoa. O mar uniu, ao invés de separar, “viu a terra inteira, de repente, surgiu, redonda, do azul profundo” (Mensagem). Redonda para o poeta, como se mostrou azul para o astronauta, refletindo em seu espelho de água o céu dos viajantes.

Os desbravadores do passado buscavam na existência de água a raiz de fixação de suas bases e de onde surgiam os primeiros povoados. Os atuais desbravadores dos novos mundos buscam a presença da água nos diversos planetas como sendo um possível sinal de vida e esperança única de sua habitação para a sobrevivência futura de nossa espécie.

Como o Ouro Negro (petróleo) foi o principal motivo das disputas políticas econômicas e das guerras do século 20, o Ouro Branco (água) será a principal fonte de disputa no século 21. Fonte de vida e morte. Ameaça vem do oceano. O aquecimento global pode provocar um aumento do nível do mar mais rápido que o previsto para este século. O aumento das temperaturas pode fazer o nível do mar subir, aumentando o risco de inundações em áreas baixas e tempestades. Os mares desempenham um papel vital na formação e na regulação do clima. O aquecimento dos oceanos tem consequências para a segurança da humanidade, com a elevação da força dos ventos e da altura das ondas. A produtividade marinha também vem sendo prejudicada.

Os oceanos cobrem aproximadamente 70% da superfície do nosso planeta e tiveram papel importante na história da Terra. Foi dentro dele que a vida começou. Os oceanos também serviram de principal via para expansão dos horizontes da humanidade, quando na virada dos séculos 15 e 16, com o advento das grandes navegações, novas terras foram descobertas e foi, finalmente, comprovado que a Terra era redonda.

A água do mar é composta basicamente por hidrogênio, oxigênio, cloro, sódio, carbono e nitrogênio. Pesquisas mostram que os elementos químicos da água do mar se precipitam ao fundo como sedimentos na mesma taxa que são fornecidos aos oceanos pelos rios do mundo. Assim, o oceano é visto como resultado de um processo estável e contínuo.

Há um ciclo de vida do oceano. O primeiro estágio, o nascimento, é representado no leste africano, onde estão localizados os grandes lagos como o Vitoria e o Tanganike. O segundo estágio, jovem, é representado pelo Mar Vermelho. O Oceano Atlântico representa o estágio maduro de um oceano. O Oceano Pacífico representaria o estado de declínio de vida de um oceano e finalmente, o Mar Mediterrâneo corresponderia ao estado final, terminal de um oceano.

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