Seus enquadramentos trabalhados, os ângulos insólitos, as tomadas de nuvens, lagos e bosques não são jogos gratuitos da câmera. Ele integra à psicologia de seus personagens no instante preciso em que quer exprimir um sentimento preciso. Cineasta do instante, da solidão, das tensões amorosas e da incomunicabilidade, seus filmes são intimistas, profundos e autorais.
Os vigorosos filmes do cineasta sueco das décadas de 50 e 60, incluindo “O Sétimo Selo”, “Persona” e “Vergonha” eram envolvidos em temas teológicos, na luta de seres humanos em chegar a um acordo com a morte em um mundo atormentado em que a religião parecia alternadamente remota, poderosa e instável.
“Gritos e Sussurros” pareceu marcar uma passagem para Bergman, uma transição dolorosa e difícil para uma aceitação de que Deus desaparecera. “Cenas de um Casamento” marcou uma vívida mudança em sua mente, a alma humana. “Fanny e Alexandre” faz um acerto de contas com a Suécia e a tumultuada infância do diretor, criado segundo as rígidas regras de seu pai, um pastor protestante.
O que Bergman, apaixonado pelo teatro, fez foi traduzir em imagens suas inquietações acerca da vida e da morte, de Deus, do tempo e do desejo, da solidão, dos traumas de infância e da inconstância do amor materno. No dia 30 de julho de 2007 o escritor, dramaturgo e produtor sueco Ingmar Bergman morreu calma e docemente, aos 89 anos. O travelling recua ao nascer do sol, a cidade desperta. A câmera busca um rosto em close, e vai silenciosamente se aproximando para os olhos tomados de angústia. E um grito de silêncio se espalha no ar.
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