16 outubro 2007

Ironia e genialidade da vanguarda dadaísta (2)

Ao contrário de outros movimentos de vanguarda que surgiram no início do século passado, o dadaísmo assumiu desde o início um caráter de contracultura, desferindo suas principais setas contra o universo cultural da época e contra a linguagem, aos quais atribuía a responsabilidade pela barbárie emergente. “Estávamos em busca de uma arte que pudesse curar o homem da loucura de nossa época”. Esta é a declaração de Hans Arp, um dos dadaístas de maior militância em Zurique, berço do movimento.

O movimento dadaísta se extinguiu em 1921, no ano do famoso processo contra Barres quando o terrorismo das letras chefiado por Breton, perseguiu escritores mais importantes. No mesmo ano se extinguiu também na Alemanha. Breton, Aragon e Soupault foram em direção ao surrealismo, que fundariam em 1924, e Tzara seguiu sozinho sempre coerente com a sua idéia de renovação da poesia. Ainda que se possa notar no movimento dadaísta a falta de transcendência e de dramatismo tal como se deu também com o futurismo, dada teve enorme importância para a literatura do século passado.

Basta ver, por exemplo, o caso do Brasil em que a idéia de nossa Semana de Arte Moderna foi simplesmente copiada da idéia de um Congrés de l´ Espirit Moderne programado um ano antes para março de 1922, por André Breton, e que foi a causa da briga de Breton com Tzara e conseqüente desaparecimento do dadaísmo.

Dada não era somente colocar objetos estranhos no lugar de pinturas e esculturas consagradas. Ser dada era, antes de tudo, um estado de espírito, pagar para ver a reação do público, principalmente das madames que tinham por vezes de entrar em uma exposição pelo banheiro em uma época em que a palavra “toilete” jamais era pronunciada em público, muito menos por mulheres. Era ler poesias na mesma ordem em que foram apanhadas do chão após terem sido jogadas para o alto. Era uma subversão total de valores em todas as áreas.

Desde o seu início, o Dadaísmo assumiu um caráter de contracultura, desferindo suas setas contra a cultura vigente: a linguagem utilizada em todos os setores artísticos. Reunia niilistas, iconoclastas, anarquistas, individualistas. Ridículo e ironia eram utilizados para desmistificar uma arte que não condizia com o momento que se vivia, uma arte fora de contexto, “respeitável” demais enquanto o mundo se digladiava numa guerra terrível.

Hipocrisia. E isso precisava ser mostrado de alguma forma, da forma que melhor aprouvesse a cada um. Faziam a política do deboche. Nas exposições o guia geralmente um artista, poderia parar e destratar o espectador. Conforme escreveu o crítico americano Harold Rosemberg a respeito do movimento Dada: “Foi a creche da geração da Primeira Guerra Mundial”.

Tendo surgido primeiramente na literatura, o dadaismo é conhecido principalmente através das artes plásticas. Mas a verdade é que há de tudo no Dadaísmo. Desde as formas suaves de Hans Arp, até agressivas fotomantagens de John Heartfield, invenções como os raygrammes de Man Ray, aos ready-mades de Marcel Duchamp, objetos coletados sem nenhuma interferência estética, sem serem belos, indiferentes. Há no dadaísmo colunas de detritos de Kurt Schwitters e colagens de Max Ernst.

Em outubro de 1984 a Galeria Canizares de Salvador apresentou 200 reproduções artísticas desse movimento renovador. Tratava-se da mostra promovida pelo Instituto Goethe de Munique. Em maio de 1985 no Teatro Santo Antonio, o movimento foi contado em forma de ópera rock no texto de James Larson sob a direção de Deolindo Checcucci: Dadadadada. O espetáculo foi encenado pelo Grupo Tato que teve no elenco Armindo Bião, Fernando Fulco, Francisca Carelli, Márcia Schmalb entre outros talentos.

Um comentário:

Anônimo disse...

gutemberg,..

"O movimento dadaísta se extinguiu em 1921, no ano do famoso processo contra Barres quando o terrorismo das letras chefiado por Breton, perseguiu escritores mais importantes."

citação de gilberto mendonça teles deveria constar como tal,.. nao acha???