11 março 2021

HQ brasileira está mais autoral (03)

 


Com seu traço denso, o artista JULIO SHIMAMOTO (1939- ), mais conhecido como Shima e considerado um mestre dos quadrinhos de terror, já passou por quase todas as editoras e publicações do país (O Gaucho, Musashi, Cidade de Sangue). Rapidez, ousadia e distorção dos desenhos, aliados a vasto conhecimento e experiência que o torna também excelente roteirista. Seus desenhos não são contidos, mas muito expressivos.



RENATO CANINI (1936-2013), um gaúcho, ousou dar um traço autoral ao papagaio carioca nos anos 1970. Autoral demais. É das mãos de Canini o traço mais brasileiro de Zé Carioca. A matriz norte americana pediu que o desenhista fosse posto de lado. O desenhista conseguiu se destacar dentro das condições padronizadas da indústria de massa. Nacionalizou o de deveria ser visto como estrangeiro. O tom brasileiro podia ser percebido no traço sintético de Canini e nas assinaturas que deixava nas histórias que fazia.

Grande versatilidade de narrativa quadrinhística na obra de MOZART COUTO (1958- ). Desenho fluído, expressivo com domínio absoluto da anatomia, perspectiva, sombra e luz. Transita por várias técnicas e gêneros. Publicou quadrinhos em várias editoras do Brasil, Europa e EUA.



ZIRALDO ALVES PINTO (1932- ) é um dos maiores artistas gráficos brasileiros e de renome internacional. Artista de mil instrumentos, autor de O Menino Maluquinho e Flicts, entre 130 títulos, fundador do jornal O Pasquim, bastião de humor e crítica contra ditadura militar, criador dos quadrinhos da Turma do Pererê que encantaram gerações, romancista, cartunista, apresentador de TV, e muitas coisas mais. Criador de Supermãe, Mineirinho e Jeremias o bom. Em 1960, a pedido do editor de O Cruzeiro, Ziraldo criou Pererê, a primeira revista em quadrinho nacional de um único autor e toda colorida. A publicação foi um marco na trajetória das HQs no Brasil. Pererê circulou entre outubro de 1960 a abril de 1964, com uma tiragem média de 120 mil exemplares, e chegou a vender 150 mil, número muito expressivo para a época.



LAERTE COUTINHO (1951- ) começou nos anos 1970. Seu quadrinho foi marcado por uma pessoalidade, uma intimidade franca que dava um tom de transubjetividade cotidiana bem humorada. Basta conhecer sua obra: Hugo Baraccini, seu alter ego, como integrante dos Piratas do Tietê, Muriel, Os Gatos, Overman, Deus, Los Três Amigos e Piratas do Tietê. Ele consegue, com um humor ao mesmo tempo refinado e mordaz, explorar temas relevantes da existência humana. Em 2004 ingressa em uma fase mais introspectiva de sua carreira e abandona alguns de seus personagens. Sua produção retorna e aprofunda o caráter experimental de seus primeiros quadrinhos. A partir de 2009 as questões da transgeneridade passam também a figurar em alguns de seus trabalhos. Ao renovar seu quadrinho, ele buscou renovar a si mesmo.



ANGELI (1956- ) é um dos mais conhecidos chargistas. Criador de quadrinhos com narrativas de situações tipicamente paulistanas, da boêmia e da vida cotidiana: Mara Tara (ninfomaníaca), Rê Bordosa (junkie  porralouca), Wood & Stock (velhos hippies), Bob Cuspe (anárquico punk), Meia Oito (esquerdista anacrônico), Nanico (homossexual enrustido), Skrotinhos (versão underground dos Sobrinhos do Capitão), Bibelô (machão machista), Ritchi Pareide (roqueiro  do Leblão), Walter Ego (egocêntrico), Luke e Tantra (adolescentes que querem deixar de serem virgens), Orgasmo (sujeitinho vapt vupt), Rapel (paranormal), Rigapov (imbecil do Apocalipse), Aderbal e muitos outros.



LOURENÇO MUTARELLI (1964- ) está diretamente influenciado pela estética e propósito underground. Homem de múltiplas identidades, romancista, quadrinista, dramaturgo. A deformação exuberante que ele causa nos rostos dos personagens reais e imaginários, ainda nos serve como força de destruição e reconstrução. Tem uma obra visceral e extremamente pessoal (Diomedes, Transubstanciação, Desgraçados). Expressionismo visceral e contundente. Levando o grotesco a cabo em suas narrativas gráficas, leva também um pouco mais adiante a arte das histórias em quadrinhos autorais.

Ele canibalizou a influência do quadrinho underground norte americano e criou algo novo, a escatologia crua e doentia. FRANCISCO MARCATTI (1962- ) é um quadrinista que trabalha de forma independente desde os anos 1980. Seus traços são arredondados e sujos. Seu trabalho costuma apresentar uma profusão de personagens repugnantes envolvidos em situações nojentas, além dos limites da escatologia: Lodo, Refugo, Tralha, Pântano, Mijo.

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