Há 80 anos morria o
engenheiro, geógrafo, urbanista, historiador, cartógrafo, arquiteto, etnólogo e
gravurista Theodoro Sampaio
(1855-1937). Ele combinou a precisão técnica com aguçado olhar antropológico e
sociológico. O homem que nomeia duas cidades – uma na Bahia e outra em São
Paulo – era filho de uma escrava (ou ex-escrava) do Engenho Canabrava, no
Recôncavo Baiano, de propriedade dos Costa Pinto. Desenvolveu trabalho marcante
no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), instituição que presidiu
enquanto esteve na Bahia.
Suas obras sobre
navegação, povos indígenas e saneamento, apesar de datadas, converteram-se em
registros eloquentes de um Brasil que começava a se desenvolver e conhecer. O
intelectual negro que, sem negar sua cor, silenciou sobre o passado e
naturalizou uma certa igualdade, mesmo às custas da história que conheceu tão
bem.
Após 18 anos em São
Paulo, em 1905 ele volta à Bahia, onde permaneceu por 32 anos. Na trajetória
profissional, somam-se suas contribuições ao desenvolvimento da região do São
Francisco, criação de infraestrutura para o desenvolvimento de São Paulo, e a
reforma e ampliação da rede de esgotos em Salvador. Foi presidente do IGHB, de
1922 a 1937 e reformou prédios como a Faculdade de Medicina e a Igreja da
Vitória. Também projetou o bairro da Pituba (Cidade Luz) em 1919.
União
Da união entre a
escrava Domingas da Paixão e do engenheiro Antônio da Costa Pinto nasceu
Theodoro Sampaio. Negro, nascido em 1855, no Engenho Canabrava, local que hoje
pertence ao município baiano que leva o nome desta personalidade, ele foi um
dos maiores pensadores brasileiros de seu tempo. Engenheiro por profissão,
também foi geógrafo e historiador, deixando o legado de uma bibliografia de
vasta erudição geográfica e histórica sobre a contribuição das bandeiras
paulistas à formação do território nacional, entre outros temas.
Ainda em Santo Amaro,
Theodoro Sampaio estuda as primeiras letras no colégio do professor José
Joaquim Passos. É levado, em 1864 para São Paulo e depois para o Rio de
Janeiro, onde estuda no Colégio São Salvador e, em seguida, ingressa no curso
de Engenharia do Colégio Central. Ao tempo em que estuda, leciona nos Colégios
São Salvador e Abílio, do também baiano Abílio César Borges (Barão de Macaúbas),
sendo ainda contratado como desenhista do Museu Nacional.
Engenheiro
Formou-se em 1877,
quando finalmente volta a Santo Amaro, na Bahia, onde nasceu. Ali, revê a mãe e
os irmãos, onde no ano seguinte, compra a carta de alforria de seu três irmãos.
Por ser filho de branco, Theodoro Sampaio nunca fora um escravo. Em 1879
integra a “Comissão Hidráulica”, nomeada pelo imperador Dom Pedro II, sendo o
único engenheiro brasileiro entre estadunidenses. A convite de Orville Derby,
que conhecera na expedição aos sertões sanfranciscanos, participa de nova
comissão que realiza o levantamento geológico do Estado de São Paulo (1886).
Antes havia realizado o
trabalho de prolongamento da linha férrea de Salvador ao São Francisco (1882).
No ano seguinte é nomeado engenheiro chefe da Comissão de Desobstrução do Rio
São Francisco, que deixa quando do convite de Derby para ir a São Paulo. Ali,
dentre outra realizações, participa em 1990 da Companhia Cantareira
(engenheiro-chefe), é nomeado Diretor e Engenheiro Chefe do Saneamento do
Estado de São Paulo (de 1898 a 1903). Theodoro Sampaio também participou da
fundação da Escola Politécnica.
Entre seus livros e
artigos estão: O rio São Francisco e a chapada Diamantina, O tupi na geografia
nacional, Atlas dos Estados Unidos do Brasil, Dicionário histórico, geográfico
e etnográfico do Brasil, História da Fundação da Cidade do Salvador, Os kraôs
do Rio Preto no Estado da Bahia, com um vocabulário e uma carta etnográfica, e
Contribuição para a história da catequese e civilização dos índios do Brasil.
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