Um dos mais importantes artistas
populares da Bahia celebra seus 50 anos de carreira, além completar 70 anos de vida no próximo dia
22 de outubro.Para festejar, Bule Bule volta aos palcos da Bahia para apresentar o
show Antônio 70, Bule-Bule 50. No dia 22, canta na Cidade do Saber. No dia 28,
se apresenta em Salvador, no Sesc Senac Pelourinho.
Ele é considerado um legítimo defensor
de gêneros musicais nordestinos como das chulas do sertão, cocos, martelos, agalopados,
xote, marche de pé-de-serra e repentes. Consegue unir o lado negro e mouro da
cultura do sertão com alguns elementos da cultura do Recôncavo. Escritor de
cordéis, Bule-Bule é sinônimo de celebração nordestina em alta voltagem, mas
desplugado da tomada.
“Cordelista de primeira geração,
escritor, poeta, repentista, compositor, Antônio Ribeiro da Conceição, o Mestre
Bule Bule, parece ser muitos em um, tantos são os significados do seu trabalho.
Talvez porque a essência de tudo o que faz seja mesmo a cultura tradicional do
Brasil nordestino, com suas múltiplas faces, mil vezes redesenhadas com as
tintas das necessidades e do senso de sobrevivência”, escreveu a gestora
cultural Rosiane Oliveira na apresentação do livro Bule Bule Literatura de
Cordel.
De chapéu e casaco de couro, Bule Bule
se tornou um grande representante da cultura brasileira. Em suas mãos, a poesia
vai entrando no tom e os acordes embalam a riqueza de um país rural.
A obra traz uma coletânea do trabalho
literário do artista, com a riqueza dos seus cordéis, aliada as contribuições
de alguns outros amigos escritores, estes conquistados ao longo dos seus 40
anos de carreira e de fortalecimento à cultura nordestina e brasileira. A arte
de Bule-Bule passa pelo lirismo, mas não abandona a crítica construtiva às
injustiças sociais e ao sistema deste Brasil tão bonito e cheio de contraste.
Tem a “Saudação a Bule Bule”, versos do
poeta Klévisson Vieira por ocasião da posse do mestre na Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, e seus cordéis: A Tragedia de Três Amante, O Encontro
Sangrento de José Caso Sério com Manoel Qualquer Hora, Irmã Dulce da Bahia –
Santa Mãe de todos nós, O Encontro da Aranha com o Reumatismo, O Tremendo Duelo
de Quirino Beiçola com Tomaz Tribuzana, Peço pra não Acabar o Raso da Catarina,
Judith mulher divina que salvou o marginal, Bimba espalhou capoeira nas praças
do mundo inteiro, Chora o Nordeste com a morte de Rodolfo Cavalcante, Beleza de
Bule Bule com Zé Maria de Fortaleza e Tancredo foi prestar contas no Tribunal
de Jesus.
SAMBA RURAL - Bule-Bule cresceu sob a
influência do samba rural do sertão e do Recôncavo, além dos repentes
sertanejos. Ele não esconde a paixão pela figura do pai, o tiraneiro Manoel
Muniz, que faleceu em 1996, aos 81 anos de idade. Por ele, que era sambador,
lhe ensinou as artes e traquejos da essência sertaneja que ele somou à vivência
com os repentistas e seus versos de cordel. Criado numa região que fica na
entrada do sertão e próximo ao Recôncavo, Bule-Bule mergulhou no samba rural derivado
da região sertaneja, mas com ligeira influência da chula do Recôncavo. Muitos
dos camponeses da região de Bule-Bule vão cortar cana-de-açucar quando retornam
com a influência da chula típica do Recôncavo, mais sincopada e menos “gritada”
do que a chula rural sertaneja.
“Eu vou do coco de embolada com
pandeiro, a vaquejada, a tirana, ao licutixo, a chula, ao repente, a literatura
de cordel, eu mexo em todas essas áreas culturais, graças a Deus e faço com
qualidade”
Escreveu diversos cordéis de tom
contemplativo existencial e, também, de cunho político. Fez cordel clamando por
liberdade de justiça social durante o regime militar. Cordel de fundo ecológico
ele também produziu: “A alma de Lampião resolveu dar um passeio/ Mas achou o
Raso feio, não quis nem pisar no chão/ Rezou uma oração sobrevoando a campina/
Apontou a carabina, somente pra ameaçar/ Peço pra não acabar o Raso da
Catarina”.
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