A narrativa se passa numa Inglaterra
futurista. Após uma Terceira Guerra Mundial e assolada por bombardeios, a cidade
está mergulhada no caos. Depois de algum tempo, a ordem é estabelecida, mas por
meio de manipulações políticas e ideológicas de um governo fascista que caça os
direitos civis, impõe uma forte censura aos meios de comunicação e reprime
violentamente os opositores e livros, músicas e obras de arte considerados
perigosos para a manutenção da ordem são destruídos.
Dentre aqueles considerados não
adequados à nova ordem estão os estrangeiros, muçulmanos, negros e os
homossexuais que são encaminhados aos chamados campos de readaptação, onde são
torturados e feitos como cobaias de experiências. V é um homem que sobreviveu
às experiências e, usando sempre uma máscara, vai eliminando os líderes
fascistas. Tanto a HQ quanto o filme são sobre o amor e sobre o que regimes
totalitários podem fazer com a vida das pessoas, no que elas podem se
transformar, no que elas podem ser roubadas, na sua essência e dignidade e na
possibilidade de lutarem contra a submissão.
V de Vingança permanece como uma das
maiores obras dos quadrinhos. O trabalho revelou ao mundo seus criadores, Alan
Moore e David Lloyd. Trata-se de uma poderosa e aterradora história sobre perda
de liberdade e cidadania em um mundo bem possível.
V de Vingança foi a primeira tentativa
de Alan Moore de produzir uma série continuada, ao longo de vários meses e anos
– começou a ser publicada em 1982 na revista britânica Warrior e seguiu até
1983, para depois ser relançada pela DC Comics em seu selo adulto, Vertigo.
Hoje, é relativamente fácil de ser encontrada nas livrarias brasileiras em uma
edição encadernada lançada pela Panini, e ganhou adaptação cinematográfica em
2006, por James McTeigue.
V for Vendetta é um sombrio thriller
futurista, encenado sob uma atmosfera orwelliana, que une a tradição do
suspense britânico a paralelos com a ascensão do nazismo na Alemanha dos anos
30. O hiper-realismo dos desenhos de David Lloyd, utilizando reproduções de
fotos xerocadas, sugere ao leitor imagens de um filme antigo, de colorido
desbotado.
A obra original é um drama político
denso, ilustrado em tons de história noir, repleto de personagens e tramas
complementares que rodeiam o personagem principal, V, mascarado que desafia o
governo fascista de uma Inglaterra futurista. Após salvar a adolescente Evey
Hammond de um ataque de agentes do governo, ele arregimenta a garota para sua
causa, manipulando-a e criando com ela uma estranha relação, às vezes sádica,
às vezes quase fraternal.
Ao longo de dois anos, V embarca em uma
série de maquinações e ataques com o objetivo direto de instaurar o caos e
derrubar o status quo vigente, substituindo o fascismo pela completa anarquia.
No meio do caminho, tenta abrir os olhos dos cidadãos para a tirania do
governo, não os eximindo de culpa por terem permitido que o partido atual
chegasse ao poder.
O texto-fonte é uma alegoria política
que critica as mazelas da política imperialista da Inglaterra de Margareth
Tatcher, a “dama de ferro”, e, de quebra, a restrição dos direitos individuais
nos EUA. Moore utiliza-se de uma agressiva visão neoliberal, muito próxima ao
anarquismo, para levantar uma série de críticas a Estados totalitários, que
espalham o medo generalizado e utilizam-se da mídia para manipular a população.
O filme é do diretor James McTeigue e
produzido por Joel Silver e os irmãos Wachowski, que também contribuíram com o
roteiro. Os cineastas removeram muitos dos temas anarquistas e as referências a
drogas que estavam na história original e também alteraram a mensagem política
para o que eles acreditavam que seria mais relevante para um público de 2006. O
filme foi visto por muitos grupos políticos como uma alegoria da opressão do
governo. Libertários usaram isso como uma afirmação conservadora contra a
intervenção governamental na vida dos cidadãos. Posteriormente a mascara virou
um símbolo dos anarquistas para divulgar a teoria política do anarquismo.
A fita mostra como a indústria cultural
(representado pela mídia), o terrorismo e as teorias política agem e se
relacionam como instrumentos de manipulação e inibição das reflexões da
sociedade. O filme tem como grande ícone da liberdade e vingança a mascara de
V, que não por coincidência representa o número cinco em algarismo romano (V),
e também o dia da comemoração do evento de cinco de novembro, “Não existe
coincidência, apenas a ilusão de uma coincidência."(V de Vingança).
A poética do filme está nas cenas em que
o protagonista V recita versos de Shakespeare, “Mac Beth” e “Noite de Reis”, e
o clássico “O Conde de Monte Cristo” (referência esta que já existia nos gibis
de Moore e Lloyd). Também está inserido nela a teoria anarquista de Mikhail
Bakunin e Alexandre Dumas.
“V” é o homem da máscara branca, sempre
sorridente, de capa preta e atitudes teatrais; inspirado visualmente no
extremista Guy Fawkes, que tentou detonar o parlamento inglês em 1605. Mas V é,
acima de tudo, a representação de uma filosofia, de um ideal político e social,
da luta dos oprimidos, da busca pela liberdade e igualdade. V simboliza a nova
ordem, o futuro melhor. Alan Moore construiu um personagem universal, um
“símbolo”. Por isso não é difícil entender como que a máscara de V, hoje em
dia, simboliza todo esse anseio por liberdade de uma nova geração, estando
presente em quase todo tipo de protesto e manifestação ao redor do mundo. É
como se a HQ tomasse vida própria e todo o conjunto de valores do personagem
viessem à tona.
As posições defendidas pelo personagem
fizeram com que em novembro de 2006, manifestantes do grupo americano "Fundação
para a Educação Constitucional" protestassem fantasiados das personagens
de "V da Vingança" em Washington. O grupo
caminhou em frente à Casa Branca
exigindo o direto de fazer uma petição ao governo e
receber respostas para as violações à
educação na Constituição.
A máscara de Guy Fawkes, o principal
ícone de V de Vingança, é constantemente usada em protestos ao redor do mundo.
Começou com o Occupy Wall Street e até nas manifestações no Brasil, sem
esquecer do grupo hacker Anonymous, usam a máscara.
“Você usa tanto uma mascara que, acaba
esquecendo de quem você é” sugere que o protagonista luta não somente uma
guerra contra o governo totalitário da Inglaterra, mas também uma luta interna,
o personagem havia sido preso e torturado e posto às experiências, quando a
prisão explode, o espectador vê o protagonista saindo das chamas, em um
acidente na prisão. Ele parte para uma grande batalha contra si, seus instintos
e seus desejos. Sua mascara simboliza a luta de um governo que mente para a
população sobre o massacre, portanto, ela também vai simbolizar esta mentira. Essa
mascara, que já foi utilizada em passeatas e manifestos na vida real tem um
simbolismo muito forte, representa uma vontade de justiça mascarada pela ideia
de vingança, o autor da HQ Moore tem uma concepção anarquista da existência,
seu personagem propõe uma sociedade sem representantes, portanto, uma sociedade
auto governável, de ausência de governantes, portanto, pode ser a HQ como uma carta
aberta ao povo sobre a possibilidade de retirar o poder da elite e devolver ao
povo a direção de suas vidas.
A hora é certa para uma revolução, canta
Mick Jagger nos créditos finais do filme, na clássica Street Fighting Man.
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