07 maio 2010

Memórias, trajetória (5)

Quem exerce seu senso crítico na sociedade atual é frequentemente suspeito de agressividade, maldade, independentemente da conveniência de sua crítica. Nos colóquios acadêmicos ou no cenário da mídia, o exercício da critica é reduzido a um empreendimento mal intencionado. Não se pode discordar com argumento, tem que ter o bom senso de concordar com tudo para participar do grupo tido como empreendedor que, na verdade, é apenas usurpador.


Estabelecer prioridades e ir em busca deles é um bom motivo para continuar na atividade, mas sempre observando a satisfação de quatro necessidades básicas: físicas, mentais, sociais e espirituais. É preciso cuidado e atenção em cada uma delas para reencontrar o equilíbrio. Venho observando todo esse tempo como as pessoas aqui em nossa terra tem mania de atrasar compromissos, seja no trabalho, no lazer ou mesmo na vida. Atrasa-se para uma festa ou algum evento social, ou mesmo no trabalho talvez seja aceitável aqui entre nós, o que acho um absurdo. Mas isso é considerável ofensa, insulto em outros países. Aqui em Salvador por exemplo era comum tanto o artista atrasar por longas horas o show assim como o público chegar atrasado no espetáculo.


Diante de tantos problemas, a direção do Teatro Castro Alves resolveu (no final dos anos 80) implantou um tipo de comportamento civilizado. Isso porque, nós da imprensa, martelávamos o tema toda vez que havia show. O artista não poderia mais atrasar o espetáculo sob pena de multa e o público também teria limitado seu tempo de atrasar a entrada para o espetáculo. Essa atitude demonstrou uma mudança de comportamento na sociedade local. E a síndrome do atraso começou a diminuir. Sabem que todo mundo deixa para depois algumas coisas, mas na hora em que precisa, acaba correndo atrás para não se prejudicar.


JORNALISMO

Ingressei no Curso de Jornalismo na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFBA em 1979. O curso considerei fraco, na época, mas me formei logo. E logo me vi trabalhando na Tribuna da Bahia, uma revolução no jornalismo baiano. Primeiro jornal off-set, composição a frio, inovação de linguagem, valorização de fotografia e muito calor humano na redação. Em seguida trabalhei no Correio da Bahia, A Tarde, Bahia Hoje e também nas rádios Cruzeiro, Piatã, Bandeirantes, Educadora. Naquela época eu e Agnes Cardoso fomos os primeiros universitários a trabalhar nas emissoras de rádio, pois havia um preconceito muito grande contra essa mídia, inclusive na própria universidade.


A Universidade se afastou da vida social, se tornou abstrata, puramente racional. Acho que na pós modernidade, a universidade deveria reencarnar o conhecimento, a sabedoria, na vida humana social, popular. É preciso saber olhar a importância da vida cotidiana, onde reside a verdadeira cultura. Quando a universidade foi fundada na Idade Média era uma reação ao pensamento abstrato das escolas monásticas. Hoje o desafio é romper com o saber dogmático, puramente racionalista e retornar a tudo o que faz a cultura cotidiana.


Há uma verdadeira mudança de paradigma onde estamos vendo o fracasso dos valores modernos, de trabalho, racionalismo e futuro. No lugar do trabalho o foco é posto sobre a criação, no lugar do racionalismo, a imaginação e no lugar do futuro é o presente que predomina. É preciso entrar no trânsito, nessa viagem que a cultura faz cotidianamente, entre universos em diálogo constante, tenso, rico e indispensável. O que interessa são as questões, os valores e as soluções que precisam ser discutidas, compartilhadas e resolvidas.

"Jornalista não fala - informa;

Jornalista não vai à festas - faz cobertura;

Jornalista não acha - tem opinião;

Jornalista não fofoca - transmite informações;

Jornalista não pára - pausa;

Jornalista não mente - equivoca-se;

Jornalista não chora - se emociona;

Jornalista não some - trabalha em off;

Jornalista não lê - busca informação;

Jornalista não traz novidade - dá furo de reportagem;

Jornalista não tem problema - tem situação;

Jornalista não tem muitos amigos - tem muitos contatos;

Jornalista não briga - debate;

Jornalista não usa carro - mas sim veículo;

Jornalista não passeia - viaja a trabalho;

Jornalista não conversa - entrevista;

Jornalista não faz lanche - almoça em horário incomum;

Jornalista não é chato - é crítico;

Jornalista não tem olheiras - tem marcas de guerra;

Jornalista não se confunde - perde a pauta;

Jornalista não esquece de assinar - é anônimo;

Jornalista não se acha - ele já é reconhecido;

Jornalista não influencia - forma opinião;

Jornalista não conta história - reconstrói;

Jornalista não omite fatos - edita-os;

Jornalista não pensa em trabalho - vive o trabalho;

Jornalista não é esquecido- é eternizado pela crítica;

Jornalista não morre - coloca um ponto final".


MEIO AMBIENTE

Estamos a caminho da morte de uma relação corrompida que a humanidade estabeleceu com o planeta Terra que é seu habitat, sua casa. Se a humanidade não está se propondo a fazer uma reforma, o planeta fará. É a Teoria de Gaia, de Lovelock, que a Terra é um organismo vivo e que está se regulando, criando condições para isso. Basta observar as manifestações da natureza, no mar, no ar e na terra, maremotos, terremotos, vulcões, grandes tempestades e tsunamis. O aquecimento global gera acontecimentos em cadeia e uma varredura planetária. O consumismo irresponsável onde as pessoas consomem o que é desnecessário e viveu no mundo do marketing, da propaganda, teleguiados. E hoje o indivíduo está cada vez mais amedrontado e quando se tem medo, a primeira reação é agredir, é violência. As relações estão sendo destruídas porque estamos pautados por valores efêmeros. Perdemos as relações saudáveis, fraternas, amorosas.


Como lembrou o geógrafo Milton Santos, com a globalização, momento da história que consagra o reino do efêmero e abre espaço, tornando excessivo, às demandas de um saber prático em detrimento do saber filosófico.


O conceito de culpa que imperou nos últimos dois mil anos está terminando e o conceito agora é de liberdade, autenticidade, individualidade (e não individualismo). A Igreja Católica que é a igreja mãe do cristianismo, está co os dias contados, segundo pesquisadores e estudiosos no tema. O cristianismo é uma dádiva. Não vivemos o cristianismo e sim o catolicismo que foi extremamente venenoso para a humanidade. Se cada um olhar verdadeiramente para si, sabe que está vivendo o seu inferno pessoal, todos, uns mais, outros menos. Ninguém, alcança a luz se não passar pela sombra.


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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929

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