O escritor, poeta e jornalista Florisvaldo
Mattos completa hoje 08 de abril) 90 anos. O texto a seguir está no meu livro
Gente da Bahia, volume dois: Nasceu em Uruçuca, antiga Água Preta do Mocambo,
em 08 de abril de 1932 (há 90 anos), onde aprendeu as primeiras letras e
completou o curso primário no Grupo Escolar Carneiro Ribeiro. Mudando-se com a
família para Itabuna, aí cursou o secundário no Ginásio da Divina Providência.
Iniciado em Ilhéus, conclui o curso colegial no Colégio da Bahia, em Salvador,
onde se diplomou pela Faculdade de Direito da então Universidade da Bahia, em
1858, quando ingressa no jornalismo, como integrante da equipe fundadora do
Jornal da Bahia. Passou depois ao Diário de Notícias, da cadeia dos Diários
Associados, de Assis Chateaubriand, em ambos inicialmente como extensão da
militância cultural de uma parcela do grupo nuclear da chamada Geração Mapa,
que girava em torno da revista Mapa, com Glauber Rocha, João Carlos Teixeira
Gomes, Paulo Gil Soares, Fernando Rocha, Antônio Guerra Lima e outros que
optaram pelo jornalismo. “Sou personagem de palco e plateia do grande momento
que foi a marcha da Universidade da Bahia para sua firmação e consolidação, nos
anos 50, desenvolvendo e criando escolas, principalmente as escolas de arte.
Por este caminho estrelado é que fui me encontrando com o pessoal que logo se
afirmaria como os integrantes da chamada Geração Mapa”.
Neste campo atuou ainda no vespertino
Estado da Bahia e dirigiu na Bahia por 14 anos a sucursal do Jornal do Brasil
do Rio de Janeiro, do qual era correspondente. Desde maio de 1990, integra a
redação do jornal A Tarde, a convite do jornalista Jorge Calmon para dirigir o
suplemento A Tarde Cultural que, em 1995, viria a receber o prêmio de
divulgação cultural, conferido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. No
âmbito das atividades literárias, começou a publicar poemas seus em jornais do
interior, como A Voz de Itabuna e Diário da Tarde, este de Ilhéus. Em Salvador,
publicou inicialmente nas revistas Única e Ângulos, esta da Faculdade de
Direito, de cuja equipe editorial participou, com João Eurico Matta e Nemésio
Salles. No Jornal da Bahia e Diário de Notícias, de com Glauber Rocha, Paulo
Gil e Inácio Alencar compôs a equipe editorial do SDN, suplemento dominical de
expressão na década de 60. Em 1962 estava incluído na Antologia da novíssima
poesia brasileira, editada pelos Cadernos Brasileiros, no Rio de Janeiro.
Fez ainda Mestrado em Ciências Sociais
pela Universidade Federal da Bahia em 1972. No período de 1987 a 1989 foi
presidente da Fundação Cultural do Estado, e em 1995 tomou posse na Cadeira nº
31 da Academia de Letras da Bahia. Florisvaldo Mattos publicou em 1974 o ensaio
A Comunicação na Revolução dos Alfaiates; A Caligrafia do Soluço & Poesia
Anterior (recebendo por essa obra o Prêmio Copene de Cultura e Arte); e Estação
de Prosa & Diversos (coletânea de ensaios, um conto e uma peça teatral).
Os poemas escritos nesses anos foram
publicados em Reverdor, seu livro de estreia (1965), pelas Edições Macunaíma,
que depois editariam os poemas de Fábula Civil (1975) e a plaqueta Dois Poemas
para Glauber Rocha, em cooperação com o poeta Fernando da Rocha Peres. “Os
poemas deste livro - escritos de 1995 a 1963 - foram escolhidos pelo autor,
para publicação, tendo em vista uma unidade temática de base agrária”, escreveu
no seu primeiro livro. Tal escolha fez com que Florisvaldo passasse a ser visto
como um poeta do campo. “Foi este vínculo primeiro do poeta com a região
grapiúna, suas roças adubadas com o sangue dos homens de aluguel e os sonhos
desfeitos, que deu à sua voz o selo de compromisso com o Homem. Num momento em
que o engajamento partidário foi o caminho encontrado por muitos escritores e
artistas, o engajamento telúrico de Florisvaldo Mattos traçou a arquitetura do
seu humanismo inteiro - sem rótulos ou partidos. Hoje, passadas as águas do
tempo de apogeu dos vagões, podemos constatar que a procura da poesia foi a
ambição maior de Florisvaldo Mattos. Não se desviava deste caminho, mesmo
quando o abrigo acolhedor de uma opção partidária apontava possíveis atalhos”,
comentou Cid Seixas.
Os temas líricos que se diversificam em
Fábula Civil ganham novas direções em A Caligrafia do Soluço & Poesia
Anterior (lançado pela Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, em 1996), mas, de
um modo geral, fugindo sempre das confissões subjetivas, o poeta - como afirmou
João Carlos Teixeira Gomes - se compraz com o espetáculo variado do mundo,
celebra as viagens que fez pelos caminhos distantes, seu sentimento de
hispanidade, a memória dos amigos desaparecidos, as experiências de leitura e
suas afeições literárias, breves reminiscências de infância e outras vivências
pessoais, sua paixão pelo jazz, num universo temático que busca sempre
depurar-se, evitando transbordamentos emocionais. Tudo isto, em suma, dentro de
estruturas formais construídas com rigor, que refletem a eficácia da sua
linguagem poética, plena de poderosas metáforas e imagens dinâmicas.
“Alta poesia - continua João Carlos -, em
suma, de requintada fatura, de um dos poetas mais importantes da sua geração,
na Bahia ou no Brasil. Pela riqueza de certos processos metafóricos um
construtor de verdadeiros prodígios verbais”. Para Jorge Amado, Florisvaldo
Matos faz “poesia madura, ardente e sumarenta, invenção e experiência”. Os
poetas que marcou Florisvaldo em sua trajetória foram os brasileiros Raimundo
Correia, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Jorge de Lima, Joaquim Cardoso e o
baiano Sosígenes Costa, que conheceu pessoalmente em Ilhéus, além dos poetas
latino -americanos Neruda, César Vallejo, Rubén Dario, Nicolás Guillén, e os
espanhóis Antônio Machado, Lorca, Miguel Hernandez e Vicente Aleixandre.
Florisvaldo Mattos faz a defesa da consciência formal na construção do poema,
citando uma frase de Ezra Pound, segundo a qual “a técnica é a prova de
sinceridade do poeta”. Em 2011 ele publicou o livro Poesia reunidas e inéditos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário