19 abril 2022

Erotismo e pornografia (02)

 


Juarez Paraiso (1934 - ) professor, pintor, escultor, gravador, fotógrafo, muralista, publicitário, cenógrafo, figurinista, decorador e artífice. Artista gráfico de todas as técnicas (xilogravura, metal, serigrafia, offset), pintor de todas as tintas (do pincel à pistola) assim respondeu em dezembro de 1999:

 

“O pornográfico surge quando desaparece o sentimento estético. A ausência do estético, portanto, qualifica o pornográfico. E nos parece claro que a prevalência do instinto também elimina o pornográfico. Uma situação onde o instinto sexual é predominante, portanto, não é uma situação pornográfica. O pornográfico seria a exposição do sexo ou de situações sexuais de forma exageradamente frontal, sem a solicitação do instinto sexual ou da presença da idealização artística, do sentimento estético.  A pornografia só existe pela banalização do sexo, pela sua exposição bizarra e escandalosa. O instinto sexual é uma condição primaria e natural. Fora os preconceitos sócio-culturais e os sentimentos de culpa impostos principalmente pela religião cristã, a pratica instintiva do sexo elimina o pornográfico. E mais ainda quando gera um prazer associado com o amor, a integração de sentimentos recíprocos e benfazejos. O erótico encarna o sentimento onde o sexo ultrapassa o simples sentimento de prazer sexual, por encontrar-se enriquecido com a vivencia do estético, isto é, com a construção do prazer associado com o sentimento do belo, ou da expressividade artística. (...) O erótico pode existir através de qualquer assunto, tornando-se o verdadeiro tema do artista. Também varia o grau de erotismo, a depender do assunto e da força expressional dos diversos artistas”.

 


O artista plástico, fotógrafo e crítico de arte César Romero em março de 2000 respondeu por email: “O erotismo está ligado a sensualidade, ao dengo, ao brincalhão e travesso. É suave e insinuante, não é imediatista, nem choca. No erotismo o libido é mostrado de forma lasciva e terna e pornografia é imediatista e por vezes na Arte, até grosseiro”.

 


Pintor, gravador, ilustrador, desenhista, entalhador e cenógrafo baiano Calasans Neto (1932 – 2006)  em 1999 respondeu: “O adjetivo erotismo que é relativo ao amor com toda conotação de sugestão ao desejo bolindo com o mais escondido dos libidos e o que tem de lubrico, lascivo é sempre sutilmente representado das imagens plásticas ou na literatura, é uma forma delicada de bolir com sentimentos sensuais e fazer o espectador participar de sonhos eróticos. Já a pornografia é outra vertente sem sutileza, grosseira, obscena onde o jogo do prazer é visto sob a ótica da devassidão sem a poesia sugestiva da paixão. Ela vem da forma mais chocante para o espectador. Para mim, infinidades de pintores e escultores já participaram de um erotismo poético e reputo como o mais perfeito símbolo do erotismo o quadro `Le Bain Turc´de Ingres hoje no Louvre – Paris”.

 


O jornalista Marcos Rodrigues, autor do livro Pasolini ainda vive?, em dezembro de 1999 assim se expressou: “Quando penso em erotismo a primeira ideia que me ocorre é a da sensualidade através de imagens, gestos, provocações, enfim a exploração do desejo (....). A pornografia consiste na publicação extravagante da nudez ou do ato sexual, sem nenhuma conotação de provocar ou chamar atenção, mas sim de escancarar. É o sexo do sistema que sugere a exploração a fundo de aspirações e fantasias. Na pornografia nenhum gesto é contido, executado mecanicamente, instantâneo, implicando na sacanagem explícita, na libertinagem, uma vez que o homem supõe sentir a interferência social nas suas atitudes sexuais. O que vale é dar vazão ao instinto (...) A pornografia tem a função da televisão, que atrai a atenção do espectador/leitor pelo produto que oferecessem direito de recusa”.

 

Nenhum comentário: