20 abril 2022

Erotismo e pornografia (03)

 

Há um binômio opositor entre erotismo e pornografia. Antes sinônimos de um mesmo malefício moral, agora se separam para cumprir uma compreensão simplista e binária sobre o permitido e o indesejado. Erotismo é apropriado, conceitualmente, para higienizar uma postura regrada sobre a sexualidade e pornografia é tida por uma rotulação de imundície e deturpação.

 

Erotismo atende ao que é “referente ao amor” e acresce por “literatura erótica”, deixando claro o entendimento de que se trata de algo legitimado através das letras e de um sentimento nobre. Pornografia está atrelada a palavras como “devassidão”, “obscenidade”, “caráter imoral de publicações”, abrangendo produções em suportes subalternos. A origem da pornografia começou com os estudos sanitários sobre a prostituição entre os séculos XVIII e XIX. O erotismo, por sua vez, surge no século XVI e também surge como uma ameaça, mas vinculada a um bom gosto, sob respaldo de uma parcela erudita e abastada da sociedade.

 

O erótico e o pornográfico, duas instâncias de representações culturais do prazer, estão presentes em centenas de espaços. A questão que se coloca é: a quem interessa dizer o que é obsceno e pornográfico? O que é erótico para um pode ser – e frequentemente é – pornográfico para outro.

 


O artista multimídia Eduardo Filipe que adota a alcunha de O Sama, numa entrevista ao site Raio Laser (https://www.raiolaser.net/home/13-perguntas-para-sama) falou sobre os limites entre erotismo e pornografia:

 

“Penso que a pornografia está contida no erotismo, mas o erotismo não cabe bem na pornografia. Entretanto, estes limites variam de cultura para cultura… Além disso, há o componente político presente em qualquer relação humana, que se dá através de lugares de poder. No Brasil, por exemplo, só recentemente as mulheres estão conseguindo se libertar do antiquado papel de submissão, e por isso começam a estabelecer novas direções e relações de poder no imaginário erótico, ou até mesmo pornográfico. Para o homem brasileiro médio, geralmente machista e carregado de preconceitos, isso poderá ser doloroso. Mas ou eles se adaptam ou vão merecer a extinção. O meu trabalho contém erotismo, mas não duvido que existam aqueles que o achem pornográfico.

 


“Não gosto de cagar regra, mas eu particularmente não curto nada que envolva a submissão de uma pessoa sem o consentimento da mesma. E também acho uma tremenda maldade envolver crianças e animais em situações eróticas e/ou pornográficas. Posso abrir algumas exceções para as representações artísticas, tipo desenhos ou pinturas com animais ou crianças em situações eróticas, que remontam tempos bem antigos, mas apesar de não curtir, acho bem menos grave do que situações que envolvam pessoas reais. Inevitável não lembrar do Mike Diana ou do Suehiro Maruo. Estes caras navegam por mares bem diferentes dos que eu navego, mas não posso negar que são grandes artistas. Fora isso, entre adultos que se respeitam e estão de acordo, por mim, vale tudo. Abaixo o falso moralismo!”

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