Há um binômio opositor entre erotismo e
pornografia. Antes sinônimos de um mesmo malefício moral, agora se separam para
cumprir uma compreensão simplista e binária sobre o permitido e o indesejado. Erotismo
é apropriado, conceitualmente, para higienizar uma postura regrada sobre a
sexualidade e pornografia é tida por uma rotulação de imundície e deturpação.
Erotismo atende ao que é “referente ao
amor” e acresce por “literatura erótica”, deixando claro o entendimento de que
se trata de algo legitimado através das letras e de um sentimento nobre.
Pornografia está atrelada a palavras como “devassidão”, “obscenidade”, “caráter
imoral de publicações”, abrangendo produções em suportes subalternos. A origem
da pornografia começou com os estudos sanitários sobre a prostituição entre os
séculos XVIII e XIX. O erotismo, por sua vez, surge no século XVI e também
surge como uma ameaça, mas vinculada a um bom gosto, sob respaldo de uma
parcela erudita e abastada da sociedade.
O erótico e o pornográfico, duas
instâncias de representações culturais do prazer, estão presentes em centenas
de espaços. A questão que se coloca é: a quem interessa dizer o que é obsceno e
pornográfico? O que é erótico para um pode ser – e frequentemente é –
pornográfico para outro.
O artista multimídia Eduardo Filipe que
adota a alcunha de O Sama, numa entrevista ao site Raio Laser (https://www.raiolaser.net/home/13-perguntas-para-sama)
falou
sobre os limites entre erotismo e pornografia:
“Penso que a
pornografia está contida no erotismo, mas o erotismo não cabe bem na
pornografia. Entretanto, estes limites variam de cultura para cultura… Além
disso, há o componente político presente em qualquer relação humana, que se dá
através de lugares de poder. No Brasil, por exemplo, só recentemente as
mulheres estão conseguindo se libertar do antiquado papel de submissão, e por
isso começam a estabelecer novas direções e relações de poder no imaginário
erótico, ou até mesmo pornográfico. Para o homem brasileiro médio, geralmente
machista e carregado de preconceitos, isso poderá ser doloroso. Mas ou eles se
adaptam ou vão merecer a extinção. O meu trabalho contém erotismo, mas não
duvido que existam aqueles que o achem pornográfico.
“Não gosto de
cagar regra, mas eu particularmente não curto nada que envolva a submissão de
uma pessoa sem o consentimento da mesma. E também acho uma tremenda maldade
envolver crianças e animais em situações eróticas e/ou pornográficas. Posso
abrir algumas exceções para as representações artísticas, tipo desenhos ou
pinturas com animais ou crianças em situações eróticas, que remontam tempos bem
antigos, mas apesar de não curtir, acho bem menos grave do que situações que
envolvam pessoas reais. Inevitável não lembrar do Mike Diana ou do Suehiro
Maruo. Estes caras navegam por mares bem diferentes dos que eu navego, mas não
posso negar que são grandes artistas. Fora isso, entre adultos que se respeitam
e estão de acordo, por mim, vale tudo. Abaixo o falso moralismo!”
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