18 abril 2022

Erotismo e pornografia (01)

 

Em 1999 estava fazendo uma pesquisa sobre a relação entre erotismo e pornografia. Vários artistas foram consultados por meio de email. E alguns deles responderam. O antropólogo, historiador, pesquisador, professor de Antropologia da UFBa e na época, presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott, autor do livro, Bahia: Inquisição & Sociedade, respondeu:

 


“Erotismo tem a ver com excitação dos sentidos provocados por emoções sensuais. Varia de pessoa para pessoa, de povo para povo, podendo ou não implicar em sentimentos de amor e afeto, mas sempre em excitação que pode ou não chegar ao orgasmo. Quanto a pornografia, é um conceito oriundo da moral judaico-cristã, que rotula negativamente como indecentes certas atitudes ou comportamentos eróticos, geralmente associados ao deleite libidinoso  e que pode chocar ou causar emoções lúbricas em terceiros” (11/11/1999)

 


O poeta e escritor carioca radicado em Salvador, Zeca de Magalhães (1959-2007), sobrinho-bisneto do escritor Graça Aranha, arte-educador e autor de livros como O Nome do Vento, Exercícios da Morte Vizinha' respondeu em 1999:

 

“O erotismo é o deleite da sedução, é o eterno desejo. Já a pornografia é a avidez da conquista sem surpresa, é o desejo saciado. O pornográfico expõe e o erótico sugere. A diferença entre eles pode ser sintetizada em duas palavras:  a sutileza e o escracho, e que encontram-se pois, embora diferentes entre si, provocam os gens de humano desejo”.

 


Pintor, desenhista, gravador, cenógrafo, Floriano Teixeira (1923 – 2000) foi senhor de um traço inconfundível, seguro, gracioso e que é suporte visível de todas as suas artes múltiplas – a gravura, a escultura e sobretudo a pintura. Um desenhista raro, detalhista ao extremo. Ele respondeu:

 

“Erotismo  e pornografia, qualidades distintas uma da outra. A primeira, nos transporta a um pensamento, ou estado de pureza e amor sexual sem pecados. A segunda, fere porque é o caracter de baixa qualidade, cujo objetivo principal é agredir com obscenidade, imoralidade e indecência” .

 


O professor, jornalista e escritor Marcos Uzel, autor dos livros Guerreiras do Cabaré - A Mulher Negra no Espetáculo do Bando de Teatro Olodum, A Noite do Teatro Baiano e O Teatro do Bando - Negro, Baiano e Popular, em agosto de 2000, respondeu: “Erotismo e pornografia são  abordagens e percepções do lado sensual da vida humana. As pessoas sentem necessidade de enfocar a sexualidade como forma de se aproximar de seus mistérios e da sua complexidade, numa tentativa de entende-la melhor. De acordo com uma leitura mais psicanalista, seria esta uma maneira de driblar a própria morte. Se Eros é o Deus do Amor, por outro lado temos em Thanatos o Deus da Morte. Como bem escreveu a autora gaúcha Lya Luft em O Quarto Fechado, ´toda negação do amor gera a morte, não importa que amor, não importa que proibição`. Enquanto o erotismo reveste-se de um contorno mais implícito, a pornografia cerca-se de um aspecto mais explícito.  Ao enfoque erótico interessa mais sugerir e menos, expor. Se ambos lidam com o sensualismo, distinguem-se, contudo, na revelação deste. O erótico apela mais à imaginação.  Já o pornográfico não se preocupa com a alimentação do mistério, preferindo a revelação imediata, que, no erotismo resiste sob forma de um véu de promessas do quanto ainda está por ser desvelado”.

 

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