Em 1999 estava fazendo uma pesquisa sobre
a relação entre erotismo e pornografia. Vários artistas foram consultados por
meio de email. E alguns deles responderam. O antropólogo, historiador, pesquisador,
professor de Antropologia da UFBa e na época, presidente do Grupo Gay da Bahia,
Luiz Mott, autor do livro, Bahia: Inquisição & Sociedade, respondeu:
“Erotismo tem a ver com excitação dos
sentidos provocados por emoções sensuais. Varia de pessoa para pessoa, de povo
para povo, podendo ou não implicar em sentimentos de amor e afeto, mas sempre
em excitação que pode ou não chegar ao orgasmo. Quanto a pornografia, é um
conceito oriundo da moral judaico-cristã, que rotula negativamente como
indecentes certas atitudes ou comportamentos eróticos, geralmente associados ao
deleite libidinoso e que pode chocar ou
causar emoções lúbricas em terceiros” (11/11/1999)
O poeta e escritor carioca radicado em
Salvador, Zeca de Magalhães (1959-2007), sobrinho-bisneto do escritor Graça
Aranha, arte-educador e autor de livros como O Nome do Vento, Exercícios da
Morte Vizinha' respondeu em 1999:
“O erotismo é o deleite da sedução, é o
eterno desejo. Já a pornografia é a avidez da conquista sem surpresa, é o
desejo saciado. O pornográfico expõe e o erótico sugere. A diferença entre eles
pode ser sintetizada em duas palavras: a
sutileza e o escracho, e que encontram-se pois, embora diferentes entre si,
provocam os gens de humano desejo”.
Pintor, desenhista, gravador, cenógrafo, Floriano
Teixeira (1923 – 2000) foi senhor de um traço inconfundível, seguro, gracioso e
que é suporte visível de todas as suas artes múltiplas – a gravura, a escultura
e sobretudo a pintura. Um desenhista raro, detalhista ao extremo. Ele respondeu:
“Erotismo
e pornografia, qualidades distintas uma da outra. A primeira, nos
transporta a um pensamento, ou estado de pureza e amor sexual sem pecados. A
segunda, fere porque é o caracter de baixa qualidade, cujo objetivo principal é
agredir com obscenidade, imoralidade e indecência” .
O professor, jornalista e escritor Marcos
Uzel, autor dos livros Guerreiras do Cabaré - A Mulher Negra no Espetáculo do
Bando de Teatro Olodum, A Noite do Teatro Baiano e O Teatro do Bando - Negro,
Baiano e Popular, em agosto de 2000, respondeu: “Erotismo e pornografia
são abordagens e percepções do lado
sensual da vida humana. As pessoas sentem necessidade de enfocar a sexualidade
como forma de se aproximar de seus mistérios e da sua complexidade, numa
tentativa de entende-la melhor. De acordo com uma leitura mais psicanalista,
seria esta uma maneira de driblar a própria morte. Se Eros é o Deus do Amor,
por outro lado temos em Thanatos o Deus da Morte. Como bem escreveu a autora
gaúcha Lya Luft em O Quarto Fechado, ´toda negação do amor gera a morte, não
importa que amor, não importa que proibição`. Enquanto o erotismo reveste-se de
um contorno mais implícito, a pornografia cerca-se de um aspecto mais
explícito. Ao enfoque erótico interessa
mais sugerir e menos, expor. Se ambos lidam com o sensualismo, distinguem-se,
contudo, na revelação deste. O erótico apela mais à imaginação. Já o pornográfico não se preocupa com a
alimentação do mistério, preferindo a revelação imediata, que, no erotismo
resiste sob forma de um véu de promessas do quanto ainda está por ser
desvelado”.
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