25 janeiro 2016

Viagem musical pela Bahia (1)



Berço da brasilidade, a Bahia se tornou uma imagem idílica para os brasileiros. Estereótipos como o dapreguiça, do tempero ou do suingue baiano rondam o imaginário popular e são usados pelos próprios baianos como forma de autopromoção.Baiano não nasce, estreiaé uma das frases utilizadas para mostrar a artisticidade inata do povo local. A Bahia, terra de filhos ilustres em todas as áreas da cultura, é cantada por seus admiradores, baianos ou não.


Quando se apresentava na rádio Sociedade da Bahia, na década de 1940 o sambista Riachão ficou conhecido como o cronista musical da cidade. Isso porque, além de compor músicas que tem Salvador como cenário, Riachão costuma falar de fatos que aconteceram nesses lugares, como o de uma baleia que foi exposta na Praça da Sé. Seu primeiro CD lançado em 2000, canta Salvador num estilo que ele chama de samba cartão postal. As imagens dos bairros e das ruas da cidade são cantadas de um modo que faz o ouvinte ter a sensação de percorrer os lugares citados:Quem chega na Praça Cayru/olha pra frente o que é que vê/vê o elevador Lacerda/que vive a subir e a descer/É o retrato fiel da Bahia/baiana vendendo alegria/coisinha gostosa de dendê/acarajé ôôôô.

O bairro de Itapuã cantada em música de Dorival Caymmi como uma bucólica vila de pescadores não é mais a mesma, mesmo assim o local ainda é uma referência.Saudade de Itapuã(Caymmi) eTarde em Itapuã(Vinícius de Moraes e Toquinho) são músicas emblemáticas. O bairro perdeu a tranquilidade de outrora, mas os compositores cantaram o local da época deles. O local era de veraneio para os soteropolitanos na época de Caymmi, anos 30 e 40. Nos anos 60 e 70, quando Vinícius morou lá, havia uma avenida que ligava a cidade à antiga vila, mas o local ainda era vasto como um recanto.

Na letra do samba "Você foi à Bahia?" é iniciada com uma pergunta: "Você foi a Bahia, nega?" e em seguida são listados vários argumentos para convencer a "nega" - e a todos os seus ouvintes - a irem à Bahia. Aspectos diferentes do estado são salientados na letra: motivos de ordem religiosa, ao mencionar a Igreja do Senhor do Bonfim e das graças que alcançará quem visitá-la; a típica culinária baiana como vatapá, caruru, mungunzá; a diversão através do samba; e por fim motivos históricos são alegados como a memória do tempo do Império, com suas donzelas, através da arquitetura da "cidade velha". Tudo é motivo para se visitar a Boa Terra. Ao fim do samba o afeto do compositor transparece quando revela que não terra como a Bahia.

Os autores de algumas das mais famosas (e apaixonadas) músicas sobre a Bahia não nasceram lá. Trata-se do mineiro Ary Barroso, que passou apenas alguns dias na capital baiana, e do paulista Denis Brian. Compositor deBahia com H. Na música, Brian pede licença para se declarar ao Estado: licença de gostar um pouquinho só/a Bahia eu não vou roubar tem dó/e disse o poeta/que terra mais linda não há/isso é velho e do tempo em que se escrevia Bahia com H. Ele também canta as paisagens soteropolitanas:Deixa ver, Baixa dos Sapateiros, Charriot, Barroquinha, Calçada, Taboão..../deixa ver, teus sobrados, igrejas/teus sambas, ladeiras/e montes tal qual um postal.

as canções de Barroso, tais comoNo Tabuleiro da Baiana,Quando em Penso na BahiaeBaixa dos Sapateiros, fazem o ouvinte percorrer um itinerário geográfico musical pela Bahia, mais precisamente por Salvador, o que faz com que muitos turistas cheguem à cidade cantarolando as músicas.Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia/a morena mais frajola da Bahia/pedi-lhe um beijo, não deu/pedi-lhe um abraço,  não quis,/pedi-lhe a mão, não quis dar, fugiu://Bahia, terra da felicidade.

E quem não se lembra de Gordurinha cantandoo pau que nasce torto/não tem jeito, morre torto/baiano burro, garanto que nasce morto/sou da Bahia e comigo não tem horário/não sou otário ninguém pode me zombar/sou cabra macho, sou baiano toda hora/meio dia, duas horas, quatro e meia, o que é que há/cabeça grande é sinal de inteligência/eu agradeço a providência, ter nascido lá/salve a Bahia Ioiô/Salve a Bahia Iaià.

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