18 novembro 2015

Pacifico Licutan e a revolta de escravos


Enquanto no Brasil, a escravidão ainda era uma triste realidade, a Inglaterra se mobilizava desde o início do
século para o fim do tráfico de escravos, dando origem ao regime global de proibição que baniu juridicamente o tráfico humano. Porém, aqui muito ainda haveria de ser feito para extirpá-la. A família real portuguesa acabara de chegar ao Brasil. As naus da corte escalaram Salvador em janeiro de 1808 e, depois de “abrir os portos às nações amigas”, rumaram para o Rio de Janeiro. D. Marcos de Noronha e Brito, o 8º Conde dos Arcos, governava a Capitania da Bahia desde então, e teve de enfrentar o levante de 1813.

O alufá Bilal Licutan, batizado Pacífico, aguardava na cadeia que o seu senhor viesse resgatá-lo. Era janeiro de 1835, e Licutan, que era escravo, fora penhorado pela Justiça a pedido dos frades do convento do Carmo em razão de dívidas de seu proprietário, o médico Antônio Pinto de Marques Varella. Sua custódia coincidiria com um dos maiores levantes de escravos da história do Brasil. Revolta dos malês.

Uma revolta de escravos africanos ocorreu em Salvador, na madrugada de 25 de janeiro de 1835. O movimento envolveu cerca de 600 homens. Tratava-se, em sua imensa maioria, de negros muçulmanos, em especial da etnia nagô, de língua iorubá. Vem daí o nome que a rebelião recebeu: Revolta dos Malês. A expressão "malê" provém de "imalê", que no idioma iorubá significa muçulmano.

O primeiro alvo dos rebeldes - inicialmente um grupo de 60 homens - foi a Câmara Municipal de Salvador, em cujo subsolo localizava-se uma prisão onde estava preso o velho Pacífico Licutan, um dos mais populares líderes malês. Entretanto, o ataque à prisão não obteve sucesso, devido à reação conjunta dos carcereiros e da guarda do palácio do governo, situada na mesma praça (a atual praça Tomé de Sousa).

Esse primeiro grupo de rebeldes espalhou-se então pelas ruas da cidade, convocando os outros escravos a se unirem a eles. Durante algumas horas, a revolta expandiu-se por diversas regiões de Salvador, traduzindo-se em confrontos violentos entre os revoltosos e as forças policiais. Os malês foram duramente reprimidos e, afinal, vencidos. Mais de 70 rebeldes e cerca de dez soldados morreram nos combates.

Não se conhecem os planos dos revoltosos no caso de uma vitória do movimento. O historiador João José dos Reis, estudioso do episódio, afirma que "há indícios de que não tinham planos amigáveis para as pessoas nascidas no Brasil, fossem estas brancas, negras ou mestiças. Umas seriam mortas, outras escravizadas pelos vitoriosos malês".

Dezesseis dos acusados pela revolta foram sentenciados à morte, mas, posteriormente, 12 deles conseguiram ter sua pena comutada. Quatro foram executados no Campo da Pólvora, no dia 14 de maio de 1835, por um pelotão de fuzilamento. Os outros malês receberam diversos tipos de punição: prisão simples, prisão com trabalho, açoite e deportação para a África.

Na época da revolta, Salvador contava com aproximadamente 65 mil habitantes, dos quais cerca de 40 % eram escravos. No entanto, incluídos homens livres e alforriados, os negros e os mestiços representavam 78 por cento da população. De qualquer modo, a identidade étnica e religiosa teve grande importância no movimento. Os negros nascidos no Brasil, por exemplo, não participaram da revolta. Ela se deveu exclusivamente aos africanos islâmicos, em especial de origem nagô.

O medo de uma nova revolta se instalou durante muitos anos entre os habitantes livres de Salvador, bem como nas demais províncias brasileiras. Em quase todas elas, principalmente no Rio de Janeiro, sede do Império do Brasil, os jornais noticiaram o ocorrido na Bahia. Por isso, as autoridades passaram a submeter a população africana a uma vigilância mais cuidadosa, bem como, muitas vezes, a uma repressão abusiva.
Bibliografia

Leia a obra de João José Reis, "Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835", São Paulo, Companhia das Letras, 2003.


Nildão é atração do Conversas Plugadas e lança livro no TCA
 
No próximo dia 3 de dezembro, quinta feira, o projeto Conversas Plugadas recebe o cartunista e designer Nildão para um bate-papo com a plateia às 19 horas no Foyer do Teatro Castro Alves.

Nessa segunda edição do projeto em 2015, Nildão é o convidado para falar da sua trajetória de mais de 30 anos desenvolvendo trabalhos em múltiplas linguagens como cartum, grafite, design e poesia.

Após o bate-papo, Nildão receberá o público para o lançamento da reedição do seu livro de cartum “É duro ser estátua”.

Segundo Nildão, que não publica cartuns há muito tempo, “esse livro é uma síntese do meu trabalho como cartunista onde o lírico e a delicadeza dialogam com a arrogância e a sanha destruidora da natureza humana.”

SERVIÇO
O que: Conversas Plugadas com Nildão seguido de lançamento do livro de cartum “É duro ser estátua”.
Onde: Foyer do TCA
Quando: Dia 03 de dezembro, quinta-feira, às 19h.
Ingressos: Entrada gratuita, convites na bilheteria do TCA até 30 minutos antes do início. O livro será vendido ao preço promocional de lançamento de R$30,00.
Informações: (71) 99184-1822  ou alice@nildao.com.br (Alice Lacerda - Produtora Cultural).


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