A contribuição feminina no
processo de luta pela independência da Bahia foi muito importante. Entre as
milhares de combatentes que lutaram pela nossa independência, a história
oficial cita apenas três mulheres: Maria Quitéria, a mais conhecida porque ela
vestiu a farda de soldado e foi para a linha de frente da batalha; a mártir
Joana Angélica, assassinada na porta do convento; e recentemente, a Maria
Felipa, mulher negra da Ilha de Itaparica. Segundo a diretora do Centro de
Estudos de Pós-Graduação das Faculdades Integradas Olga Metting, Eny Kley
Vasconcelos Farias, “na memória dos itaparicanos, Maria Felipa e 40 mulheres
incendiaram a barca Constituição, composta por 42 embarcações, tendo imobilizado
os portugueses com uma surra de cansanção”.
“Os feitos de Maria Felipa de
Oliveira – continua Eny Kleyde – contidos nos diálogos com os itaparicanos,
Cartas de Cessão, com firma reconhecida e autores renomados como Ubaldo Osório,
Xavier Marques e João Ubaldo Ribeiro, expressam emoções que permitem um retorno
simbólico à ancestralidade – o continente africano enquanto lugar da família de
origem”.
A doutora em história social pela
Universidade de São Paulo (USP) e diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lina Aras ao falar do papel
que coube às mulheres na guerra da independência da Bahia informa: “Elas
estavam basicamente na retaguarda. Na
própria conquista da América já
encontramos uma mulher cuidando dos feridos, das enfermarias, da alimentação
dos soldados, costurando os uniformes. Não temos que valorizar apenas quem
pegou nas armas, mas quem esteve participando para que essa força armada fosse
vitoriosa. Essas mulheres também merecem vir à tona. Para isso é necessário
pesquisa. Elas estão aí nos documentos, resta que pesquisemos”.
E diz mais: “Elas romperam com o
padrão estabelecido naquela época, saindo do lugar onde eram colocadas como
subalternas para terem um lugar à frente da história. Assumiram a dianteira. A
Maria Felipa tem uma característica interessante porque ela faz parte de uma
memória que hoje é muito valorizada. A documentação sobre ela é bastante
escassa, mas isso não quer dizer que não tenha tanta importância quanto as
outras, inclusive Maria Felipa lutou sem precisar de nenhum outro recurso que
não fosse ela própria e o sentimento de defesa do grupo da Ilha de Itaparica”.
NOTORIEDADE - Um momento
histórico importante em que mulheres ganharam notoriedade na Bahia foi
durante
as lutas pela Independência do Brasil. Personagens como Joana Angélica, Maria
Quitéria e Maria Felipa – esta ainda pouco conhecida – se destacaram nesta
época. Maria Felipa de Oliveira participou das lutas pela independência, na
Ilha de Itaparica. Negra, alta, corpulenta, ela liderou a resistência popular à
invasão da ilha, durante a guerra pela independência do Brasil. Sua bravura foi
narrada no romance “Sargento Pedro”, do escritor baiano, Xavier Marques, também
nascido em Itaparica. Durante muito tempo seu nome foi ocultado da história.
Somente depois de mais de 180 anos da conquista da independência sua atuação
foi relembrada. A lenda sobre Maria Felipa dá conta de que ela liderou a queima
de 42 embarcações da frota portuguesa na Praia do Convento.
Atualmente, Maria Filipa é
considerada matriarca da Independência de Itaparica, devido a seu ato de
bravura contra os portugueses nas praias da Ilha. Seus feitos heróicos foram
mencionados, inicialmente, nos estudos do historiador Ubaldo Osório Pimentel.
Em 2007, a heroína entrou no circuito oficial das comemorações do 2 de Julho,
como uma das grandes homenageadas pela Independência baiana.
RESGATE - Segundo pesquisa de Eny
Farias, Ubaldo Osório relata que em janeiro de 1905 o Conselho Municipal da
Ilha de Itaparica recebe um abaixo assinado, solicitando que determinada rua
passe a ter o nome de Maria Felipa. Uma das ruas de Itaparica tem o nome de
Maria Felipa, porém isto só ocorreu em
2007, ou seja, em mais de um século. O
silêncio que faz calar o nome de Maria Felipa faz lembrar a autora Neusa Souza,
que escreveu a obra “Tornar-se Negro”, na qual afirma que “saber-se negra é
viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em
suas perspectivas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas”.
Os diálogos na Ilha apontam o fato de Maria Felipa ter sido negra como motivo
para seu esquecimento nos livros didáticos e nas comemorações. Contudo,
lembramos mais uma vez Neusa Souza quando comenta que a experiência de ser
negra é de igual modo “comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em
suas potencialidades”.
“A heroína excluída das
festividades no dia em que se comemora a independência da Bahia é historiada
por Ubaldo Osório, que, inclusive, presta homenagem a Maria Felipa ao colocar o
seu nome na primeira filha. Outro autor que comenta sobre ela é Xavier Marques
em seu livro Sargento Pedro, premiado pela Academia Brasileira de Letras em
1920. Jurandir Pires Pereira cita seu nome, considerando-a como heroína, e, em
1985, João Ubaldo Ribeiro trata de Maria Felipa como Maria da Fé,
atribuindo-lhe diversas atitudes políticas no seu famoso livro Viva o Povo
Brasileiro” E conclui: “As Faculdades Integradas Olga Mettig se orgulham em ter
retomado as pesquisas sobre a heroína e de ter somado novas revelações com a
Irmandade do Rosário do Pelourinho, na criação da Casa Maria Felipa, quando
coordenou o Curuzu: Corredor Cultural da Liberdade, quando divulgou em jornais
de Salvador os feitos desta mulher negra e apresentou trabalhos em dois
eventos: I Congresso de Pesquisadores Negros da Bahia e no Seminário A Abolição
Inacabada”. É preciso divulgar mais os valores da nossa terra.
Excluída dos livros didáticos e
esquecida pela maioria dos historiadores, a guerreira Maria Felipa é, agora,
finalmente enaltecida no livro “Maria Felipa de Oliveira – Heroína da
Independência da Bahia”, de Eny Kleyde Vasconcelos Farias, educadora.
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