Quando se fala no mundo da capoeira nomes como Besouro, Bimba e Pastinha são logo lembrados. Mas na
Bahia existem muitos outros que lutaram com esse instrumento de resistência cultural. Um deles, pouco lembrados na história, mas na memória dos baianos, Caiçara que nasceu no dia 08 de maio de 1924 em Cachoeira de São Félix. Seu verdadeiro nome: Antonio Conceição Morais. Ele cresceu em meio às dificuldades e adversidades da localidade e logo percebeu que a roda de capoeira é o caminha que deveria seguir. Foi o que fez.
Adélia Maria da Conceição, sua mãe, deu
inicio à sua formação religiosa, fazendo-lhe a cabeça (ele era filho de Logun
Edé, orixá filho de Ogum com Oxossi) e ensinando os segredos da magia. Ele
aprendeu rápido e, pouco a pouco foi ganhando notoriedade nas rodas das
malandragem. E não demorou muito para se tornar um capoeira dos mais respeitados.
Ao entoar seus cânticos, todos paravam
para ouvir. Em 1973 ele lançou o disco Academia de Capoeira Angola São Jorge
dos Irmãos Unidos de Caiçara (gravado pela AMC – São Paulo), onde exemplifica
diversos toques de berimbau e onde canta ladainhas e sambas. Contador de causos
e histórias da capoeira, Caiçara estava sempre presente nas festas de largo de
Salvador e outros festejos populares, com seu grupo folclórico Santa Bárbara,
da qual era devoto, juntamente com São Jorge.
Assim, como devoto, muitas vezes vestia
sua camisa de cores fortes em vermelho e verde que se tornaram as cores de sua
academia. Era também defensor radical das tradições africanas e costumava
distribuir bênçãos em Nagô, Ketu, Gêge e Angola, e emitia suas opiniões sobre
os capoeiras do passado e suas considerações sobre os capoeiras atuais. Para os
meninos de rua ele ensinava a capoeira como forma de resistência social e
histórica.
Foi matador de boi em abatedouro e
funcionário público, além de dar aulas de defesa pessoal à polícia, mas sempre
teve problemas. Como ele mesmo descrevia em suas ladainhas, foi preso diversas
vezes pelo seu envolvimento em brigas e confusões. Muitos afirmaram que a
exemplo de tantos outros capoeiras, controlava algumas mulheres na zona no
meretrício de Salvador.
Em Salvador ele estava sempre presente
no Terreiro de jesus onde combinava com seus conhecidos sua fama de feiticeiro,
para jogar búzios em sua casa no bairro de São Caetano. Lá ele reunia os demais
capoeiras da época e confabulava suas crenças com voz firme e seu jeito
irreverente e amedrontador. Ao
questionar sobre a eficácia da capoeira, o mestre resumia dizendo: !cada qual
com seu cada qual”.
No dia 26 de agosto de 1997 ele foi
acometido de um efisema pulmonar, depois de uma parada cardio-respiratória. Mas
antes de ser levado para o hospital, reuniu seus filhos, pois queria ter todos
ao seu lado. Capoeiras de todas as tendências e estilos estiveram no
sepultamento. Uma roda em sua homenagem foi formada e cantada uma ladainha de
sua autoria, deixando saudades naqueles que tiveram o privilégio de conhecer
sua maestria.
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