23 novembro 2015

Dandara, a guerreira de Palmares


Todos os brasileiros, de alguma forma, já ouviu falar do líder negro Zumbi dos Palmares. Embora sua figura
e história sejam marcantes, é preciso não ocultar outras personagens de igual importância na luta contra a escravidão negra no Brasil. E a guerreira e esposa de Zumbi é uma delas. Há um ditado que diz que ao lado de um grande homem, sempre existe uma grande mulher. De fato a história do casal Zumbi e Dandara só reforça esta ideia.

Dandara, que quer dizer “a mais bela”, além de esposa de Zumbi, com o qual teve três filhos, foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registros do local do seu nascimento, tampouco da sua ascendência africana. Mas, relatos levam a crer que ela tenha nascido no país e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina. Dandara não era apta só para os serviços domésticos da comunidade, ela plantava, trabalhava na produção de farinha de mandioca, caçava e também lutava capoeira.

O seu título de guerreira não é à toa: Dandara também sabia empunhar armas e quando adulta, passou a liderar os grupos femininos do exército negro palmarino. Ela foi uma das provas reais da inverdade de que a mulher é sexo frágil. Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava com Ganga-Zumba (Grande Senhor), o primeiro líder do quilombo e também tio de Zumbi. A guerreira negra participou de todos os ataques e defesas da resistência de Palmares.

VALENTIA - Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se ao Grande Senhor, ao lado de Zumbi. Sempre perseguindo o ideal de liberdade, ela não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Certa vez, chegando perto da cidade de Recife, depois de vencer várias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade, provando sua valentia. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas.

Para Dandara, a paz em troca de terras no Vale do Cacau, proposto pelo governo de Portugal, não era o bastante. Ela preferiu a guerra constante, pois via neste acordo, a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. (“É dando espinho, é dando amor, é dando/Dandara, Dandara, Dandara//Dando carinho, dor e flor, é dando/Dandara, Dandara, Dandara//É flor que brota em grota/em greta, em grota, em gruta/ingrata, o dedo espeta/e grita, berra, braba, forte, mata/Dandara/bonita, bárbara, felina, flor do gravatá//Vibra o punhal de prata!/vibra o punhal de prata!/vibra o punhal de prata!//E ainda assim tão terna/tão ternamente rara/a flor do gravatá/medra na pedra/na pedra se escancara//Dandara, Dandara, Dandara. Dandara, a Flor do Gravatá, letra de Gilberto Gil e Waly Salomão para o filme Quilombo, de 1983)

DEUSA - Dandara foi morta com outros quilombolas no dia 6 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo. Não se sabe como era seu rosto, nem como ela era fisicamente. No entanto, podemos compará-la a duas deusas do panteão africano: uma Obá ou Iansã, uma leoa defensora da liberdade. Dandara pode ser vista em cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por liberdade e acredita em seus sonhos.

Portanto, neste mês de novembro, prestamos homenagem a todas as mulheres através de Dandara.Sejam
negras, brancas, de todas as etnias, crenças, lutas, belezas, sorrisos, tristezas, dores, amores, fica o desejo de que cada uma busque a guerreira que há em si mesma, não esquecendo jamais que a luta é diária e o sonho de respeito, igualdade, liberdade e dignidade é atemporal.

“Ela tem nome de mulher guerreira/E se veste de um jeito que só ela/Ela vive entre o aqui e o alheio/As meninas não gostam muito dela/Ela tem um tribal no tornozelo/E na nuca adormece uma serpente/O que faz ela ser quase um segredo/É ser ela assim tão transparente//Ela é livre e ser livre a faz brilhar/Ela é filha da terra, céu e mar/Dandara//Ela faz mechas claras nos cabelos/E caminha na areia pelo raso/Eu procuro saber os seus roteiros/Pra fingir que a encontro por acaso/Ela fala num celular vermelho/Com amigos e com seu namorado/Ela tem perto dela o mundo inteiro/E à volta outro mundo admirado//Ela é livre e ser livre a faz brilhar/Ela é filha da terra, céu e mar/Dandara//Ela tem nome de mulher guerreira/E se veste de um jeito que só ela/Ela vive entre o aqui e o alheio/As meninas não gostam muito dela/Ela tem um tribal no tornozelo/E na nuca adormece uma serpente/O que faz ela ser quase um segredo/É ser ela assim tão transparente//Ela é livre e ser livre a faz brilhar/Ela é filha da terra, céu e mar/Dandara”. Dandara, de Ivan Lins e Francisco Bosco)

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