16 junho 2011

Balada de um Homem Solitário (13)

Em voltas com o eu


Ele seguia seu caminho cabisbaixo. Ia só, enigmático. Procurava entre curvas e estradas tortas o caminho de si, do seu outro eu,m do eu interior que havia deixado longe. A ansiedade tornava-se maior quando pensava nisso. Vivia agora recompondo, aos poucos, o passado distante do seu mundo, um mundo diferente deste, puro, alegre, passivo e belo. Voltava ao seu mundo exterior onde objetos transpassavam à sua frente e ele seguia sem nada ver, mesmo nas poças de sangue que afogavam corpos tristes.

Ruídos e gemidos cortavam o ar e ele nada ouvia, nem os assobios de um velho cantador que antes era ouvido com lembranças. O céu estava azul, e no ar, um vento trazia de longe um aroma agradável que balançava as folhas das árvores do parque por onde ela passa agora, mas nada sente. Está solitário, mudo, cego e surdo a todos e tudo o que está em volta. É ele sim, estava assim quando não era completo, com seu outro eu. Aquilo fazia falta, nada existia para ele sem aquela parte. Ele agora sentia-se como uma árvore sem raiz, uma via sem ser feliz, um amor sem ter o que se diz...

Longe, muito longe da visão dos olhos, um pensamento estava imerso em saudade e o mundo todo reconhecia sua própria face. E ele continuava a andar não prestando a atenção as pessoas que passava,m por perto. Andava...ansiava chegar para poder unir-se ao outro eu. No local por demais distante, não sabendo onde, guardou seu eu interior, temeroso da humanidade. Era preciso andar muito para encontrá-lo. Guardou, lembra-se bem, há muito tempo, e agora volta para restituí-lo. E esse eu,. Esse ponto em que deixou num canto do infinito, espera-o.

Volta a sonhar as realidades passadas no sonho, ver seus dedos um desprendimento de si mesmo, seu braço no braço seu e a vida o abraça entre carícias, a outra sua face, um sorriso que se completa com o seu outro eu, a um só sorriso....sonhando, o tempo parou e o riso tornou-se mais vivo e dissipou ser e ele voltou ao seu mundo virtual onde se encontra entre a multidão que se dispersa, indiferente. E ele, imerso naquela massa, tornou-se ilha, isolou-se no imenso mar de nós mesmo. Tentava olhar e conversar, mas nada via, e nem sentia o som de sua voz. Não adianta conversar com alguém, pois os seus problemas eram os de todos. E cada um daquele ser fechava-se inteiramente, sem querer ouvir ver.

Muitos atiram-se do alto do sonho espatifando-se na realidade, mas ele procurava aproximar-se do seu eu que vagava solitário à procura da couraça para desenvolver a vida interior no exterior do mundo. Súbito, começou a sentir o pulsar mais forte, o sangue fluir mais velozmente. Seus olhos tornaram-se brilhante, parecia enxergar mais vivamente, os ouvidos tornaram-se apurados e ele ouvia o leve sopro da brisa derrubar as folhas secas. O corpo transformou-se. Então, respirou mais fundo e percebeu que seu eu estava próximo. Já sentia vida. Ao olhar o mundo, notou que era imenso, parado, procurou ao lado a estrada que antes seguia, não viu mais. Reconheceu que o passado foi enterrado longe e não seria importante relembrá-lo. Agora, já completo, continuou o caminho neste ciclo da vida. Seu sorriso estava largo, seus passos mais seguros, sua rota mais certa....

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Estamos publicando um folhetim com 16 capítulos dessa história escrita em 1975

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Final de junho até final de agosto o blog vai ser invadido pelos quadrinhos. Aguardem!!!

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