Na Idade Média a utilização de imagens seriadas (através de cartazes ilustrados) tornou-se constante por facilitar as camadas populares e iletradas a compreensão das narrativas feitas pelos cantores e contadores de histórias. Podemos considerar os vitrais ou pinturas encontradas nas igrejas católicas narrando visualmente a Via Sacra de Cristo. Todas essas manifestações denotam a importância da trajetória comunicativa do homem, revelando que não há um século de imagem, simplesmente porque todos o foram, diferenciando-se apenas na questão do alcance de sua difusão, e mostram também que o germe da linguagem dos quadrinhos já se fazia presente.
Povos de diferentes origens e culturas aperfeiçoaram, com o passar do tempo, maneiras de perpetuar suas histórias e mitos, suas conquistas e seus costumes por meio de signos pictóricos (ao lado da comunicação gestual e oral), algumas vezes pintados ou desenhados formando uma sequência, aos quais eram atribuídos significados específicos, que se referiam a fatos reais (a caça, a colheita ou conflitos com outros grupos) ou às crenças e mitos dessas sociedades primitivas. Precursoras da palavra escrita, as imagens tinham por função descrever um dado momento da história de um povo, fixando-o para as gerações futuras.
Os hierógrifos egípcios foram um passo adiante na evolução da linguagem pictórica, uma vez que seus símbolos representam sons que, articulados, formam frases e narram eventos, dando provas de que o ser humano havia maturado como ser pensante e social. Povos como os egípcios e os assírios testemunharam o surgimento da escrita pictográfica, que, relacionada com a voz humana, foi reproduzida graficamente, gerando os caracteres silábicos e alfabéticos, conquista creditada aos fenícios.
A invenção das técnicas de impressão no Ocidente foi um avanço para tornar a comunicação escrita e a própria sociedade mais democrática. Antes da invenção da tipografia, entretanto, outras técnicas de reprodução já eram empregadas. A xilografia, por exemplo, já era utilizada no século VIII, no Japão, para imprimir em papel orações budistas.
As transformações na Europa que levaram à “descoberta” de novos mundos vieram acompanhadas de outra mudança que trouxe de volta à cena as cidades, dando vida a um novo personagem histórico: o burguês. As condições sociais, políticos e econômicos da Europa (a partir da segunda metade do século XVIII) mostraram-se favoráveis à consolidação da imprensa como veículo de comunicação massivo: a Revolução Industrial (que substituiu a produção artesanal pela mecanizada e começava a usar vapor, combustível fóssil e eletricidade) também se verificava na reprodução gráfica, melhorando a qualidade da impressão, por meio de novas técnicas.
Ao mesmo tempo, o processo de urbanização e a alfabetização (que deixava de ser privilégio dos ricos) garantiam público suficiente para os jornais; as ideias liberais e os momentos de trabalhadores propiciavam a discussão e a crítica de valores. Foi nesse contexto histórico que vários artistas, de diferentes países – inclusive no Brasil -, desenvolveram a arte de contar histórias por meio de imagens sequenciais impressas, os quadrinhos.
Referências:
BAGNARIOL, Piero e outros. Guia Ilustrado de Graffiti e Quadrinhos. Belo Horizonte: Fapi, 2004.
GONTIJO, Silvana. O Mundo em Comunicação. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
LUYTEN, Sônia Bibe. Manga: o Poder dos Quadrinhos Japoneses, 2ed. São Paulo: Hedra, 2000
MOYA, Álvaro de. Shazam! São Paulo: Perspectiva, 1970
2 comentários:
Grande mestre, permita-me publicar seu texto no Quadro a Quadro:
http://quadro-a-quadro.blog.br/
As duas partes!
Desde já agradeço.
Lucas,
Pode publicar o texto, afinal a história dos quadrinhos deve ser conhecida portodos.
Um grande abraço, e obrigado pela leitura do blog.
Gutemberg
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