07 junho 2011

Balada de um Homem Solitário (07)

Realização

Cresci, e no limiar da adolescência conheci pessoas reais, gente de verdade. Enfim, suspirei, restam pessoas que não vivem por trás de máscaras, por trás de cortinas de fumaça que poluem a mente, o cérebro. A adolescência havia tirado a doçura da minha voz e tornou-me silencioso e definitivamente solitário, mas por outro lado, tinha restituído a expressão intensa que tive nos olhos ao nascer. Estava percorrendo um caminho complexo, mas preciso: o caminho de meu corpo. Estava conhecendo-me.

Conhecer não é só elaboração da mente, é um gesto de crescimento com o outro. O homem só se descobre como homem na medida que entra em contato com a mulher. Nessa fase, conheci a mulher e isto tornou uma prova decisiva em minha vida, a partir daquele dia, pois, antes, sonhava, coisa natural na adolescência, mil coisas sobre a mulher e era sempre tão diferente.

Muitas vezes continuava o sonho, tentando ir além...procurando a mulher ideal e, a cada noite, ia fazendo a peça imaginária, mas nunca chegava o dia de encontrá-la...e não chegou ainda. Talvez a minha felicidade tenha passado bem perto de mim e eu, na minha cegueira, não a vi. Talvez mês,mo me tenha falado e eu não tenha ouvido por causa do barulho das tempestades que começara a se desencadear dentro de mim. Será que estou pedindo mais do que a natureza pode me dar? Amor, simplesmente amor. Anjo ou demônio, virgem ou prostituta, rica ou pobre, feia ou bonita, tua a quem tanto imagino conhecer, mas não a conheço e amo, aproxima-te, abraça-me, entrega-me o teu amor pois o meu horizonte será apenas os teus olhos.

Lembro-me perfeitamente do meu primeiro contato com a mulher...estava zangado pelas ruas, já passava das 2l horas. Estava aborrecido por alguma coisa qualquer e, sem perceber, entrei numa ruela escura. Uma mão suave agarrou-me e pediu para eu seguir. A mão pertencia a um braço, o qual correspondia a um ombro fazendo parte de um corpo, um corpo de mulher. A obscuridade era total. Orientava-me apenas pelo ruído de seus passos, segui não sei porquê, mas estava realmente chateado e obediente.

Caminhávamos pela estreita rua que se estendia num a extensão de casas e muros, tão estreita e escura e agora começava a subir, suave, a princípio, depois mais abrupta, foi-se estreitando e empinando cada vez mais, até se transformar numa simples viela. Caminhávamos colados um ao outro, e sua mão descansava docemente na minha. Entramos numa casa que logo de início não deu para perceber se era antiga, mas pelo ruído que a porta fez ao abrir, logo percebi que não era nova.

Esperava que ela acendesse uma vela ou uma luz, mas, em vez disso, enlaçou-me docemente. Senti os seus lábios aproximando-se dos meus, esperando-os tão perto que eu percebia o seu calor na minha boca, a leve carícia do hálito.... Seu vestido caiu ao chão, ficando uma camisa fina de cambraia que também seguiu o exemplo do vestido, desprendendo-se, caindo sobre seus quadris, cujo contorno arredondado a deteve um pouco, descendo logo em seguida e enrodilhando-se circularmente em volta dos seus pés. Ficou nua, inteiramente nua. Fiquei deslumbrado, não pela sua nudez pois nada via naquela escuridão, mas contemplava-a com minhas mãos, suas formas que me diziam tudo.

Despi rápido e nervosamente, e deitando-me logo em seguida ao lado dela. Esta inclinou-se para mim e enlaçou-me estreitamente nos braços. A frescura daquela pele macia incendiava-me. A cabeça encostada no meu ombro, os dedos alisando mansinhos os cabelos do peito. Do meu peito de homem. Novamente ela beijou-me os olhos, depois deitou a cabeça no meu peito nu de adolescente...Ela sentiu que meu coração batia aceleradamente, e notou que era a minha primeira experiência.

A palavra não era necessária, bastava os gestos. Ela não largava a minha boca. Seus lábios mordiam os meus lábios, seus dentes batiam nos meus dentes e os nossos hálitos se confundiam inteiramente. No instante seguinte,. Perdemo-nos um ou outro, tornamo-nos um único ser, entrelaçamo-nos em uma unidade amorosa que mergulhava cada vez mais fundo n a insondável fonte do amor.

Na minha memória, lembro claramente essa noite, embora hoje, ocorrido um bom tempo, ainda conserve a mesma vida em mim e é como jamais tivesse experimentado qualquer outra coisa. Através da escuridão cheio de calor, ouvia sussurros com sua voz inesquecível, doce e um pouco trêmula. Passou quase toda a noite aplacando-nos. Exaustos, afinal, adormecemos em estreito abraço, creio que ao mesmo tempo. Entretanto, não acordamos ao mesmo tempo. Acordei mais cedo com uma sensação de felicidade que a princípio não soube explicar. Depois lembrei-me e, a luz um tanto opressiva da manhã, filtrada pelas altas vidraças, via-a deitada ao meu lado, nua, o rosto expressivo, bonito. Eu a estava vendo pela primeira vez. Talvez não fosse inteiramente como a imaginava: não tão jovem, nem tão bela. Ao mesmo tempo compreendi que não formara nenhuma imagem precisa dela, por mais que a minha fantasia se tivesse entretido com ela.

Suas pernas eram divinamente belas com formas tão bem delineadas que eu nada tinha com o que as comparasse, pois jamais vira um corpo de mulher, mas estava certo do que era estupendo. O corpo de todas as mulheres deve ser maravilhoso, pensei comigo.

A propósito, eu não era um belo homem. Deitado ali, olhei o meu corpo anguloso e nada vi de atrativo. Nunca o tinha visto ainda – pelo menos, devidamente – como estava vendo agora, quando o usara para o fim a que fora destinado, e assim, pela primeira vez, ele existiu realmente. No entanto, apesar de toda a minha magreza, tinha uma construção robusta e, posteriormente, me transformei no latagão em que agora me vejo.


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Estamos publicando um folhetim com 17 capítulos dessa história escrita em 1975

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