O ano findara. Concluindo o segundo grau, chegou a hora de fazer o Vestibular, o momento de conflito em que se tem que ser frio quanto a um futuro incerto....O começo da certeza de que não se poderá mesmo transformar o mundo.
“As horas que antecedem o Vestibular são como passarinhos. Quando a gente começa a admirar seu voo solto e descontraído no espaço, eles desaparecem”. Assim, muitos dos vestibulandos, inclusive eu, justificara a falta de preparação ou interesse por esse tipo de seleção.
Fui envolvido na seleção, nessa luta desigual a que assistimos, de milhares de jovens que disputam as poucas vagas, sendo a própria negação da validade desse tipo de seleção, e circunstâncias as mais diversas contribuem para aprovar ou reprovar estudantes, a começar pelo estado emocional e a sorte nos testes de múltiplas respostas. Fiquei com o olhar vago, longe, olhando os gestos na hora da prova que eram todos iguais: dedos revolvendo cabelos, bocas mordendo lápis ou roendo unhas, mãos escorando cabeças, olhos perdendo-se em um ponto qualquer da sala. E foi assim que meus olhos se encontraram com nos de uma garota ao lado, mas fomos logo repreendidos pelo fiscal. Os mais nervosos sentiam-se mal, desmaiavam....Poucos eram os que demonstravam sinais de relaxamento ou descontração.
Aquilo para mim era absurdo e, por isso mesmo, fazia alheio à minha vontade. A seleção era – e ainda é – orientada exclusivamente pelos números de lugares disponíveis nas faculdades, o que já eram poucas. Para mim o certo seria verificar conhecimentos do candidato em níveis antecipadamente fixados para que o mesmo fizesse jus a continuidade dos estudos, já em nível superior.
O fato foi que passei, juntamente com Álvaro – este fez no Rio de Janeiro, pois iria participar das Olimpíadas no exterior -, raspamos os cabelos e fizemos novas amizades. Álvaro seguiu seu curso de História e eu, Comunicação, dando continuidade à minha vida de fotógrafo, vida cesta que era como uma fotografia, parada no tempo e espaço. Só externo. Os sussurros e as vozes apelativas de “você tem de ser alguém”, pressupondo já um fracasso antecipado, a caída do abismo, foi ficando para trás, as novas amizades, o novo colégio, tudo aquilo já estava na rotina.
Comecei a conhecer em mim alguma coisa, levando-me a compreender porque era assim e, portanto, amando-me e amando o próximo. Conheci o mal e procurava afastar-me o mais possível dele, mas no mundo quem não resistir ao mal, este o leva, pois a maioria é feita por maldade, ódio, vingança, condicionou-se a isso. Conheci o bom e a ele juntei-me,. Mas, algumas coisas minha ficaram montadas em mim, como a perseguir-me e até tento tirá-las, arrancar, nem que isso custe a minha vida.
Vida...haverá alguém que realmente vivesse? Muitos vegetam, outros balbuciam vi...mas ver eles não veem. Dotados de olhos, eles não enxergam que estão à beira do abismo. Dotados de nariz, eles não cheiram, e de ouvidos não ouvem. Eles movimentam apenas um movimento que perdeu de humano e se tornou mecânico.
Os pensamentos vinham à minha mente descontrolado, aquilo precisava ter um fim naquele momento. Resolvi ligar o velho toca fitas. A música entrou no recinto, quebrou o silêncio e mudou meus pensamentos. Parece até que a música falava por mim ou tomava a minha forma. Mas infelizmente já não podia escutá-la sozinho, lá vem um colega perguntar o nome da música, não sei porque tem de saber o nome de tudo. Digo-lhe que é qualquer coisa de aproveitável, o que não o convenceu, pois achou o nome bem estranho. Então tive de mudar o nome para “Roda Viva”. Ele aceitou imediatamente, o que foi ótimo para mim, assim não poderia ouvir a música.
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Estamos publicando um folhetim com 16 capítulos dessa história escrita em 1975------------------------------------------------
Final de junho até final de agosto o blog vai ser invadido pelos quadrinhos. Aguardem!!!
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