As mulheres tiveram um
papel importante na infância de Hugo Pratt na cidade de Veneza. “As mulheres da
minha família conheciam montes de histórias, de lendas, de mitos, encontavam-nos
à maneira delas. Tudo isso se misturava na minha cabeça, mas eu orientava-me
sem dificuldade nesse mundo de fábulas. Esses anos da infância em Veneza foram
essenciais na minha formação. Desde a mais tenra idade, fui habituado a evoluir
por entre todas as espécies de crenças, de culturas, de mitologias, e essas
questões nunca deixaram de me apaixonar”, revelou Pratt a Dominique Petitfaux
no livro O Desejo de ser Inútil (Relógio D´Água Editores, 2005, pagina 32).
Seus quadrinhos estão
cheios de mulheres de todos os tipos, das duquesas às prostitutas, mas todas têm
pontos comuns: são geralmente belas, aventureiras e perigosas. E sobre as
mulheres ele explicou. “Nunca fui fascinado por uma mulher por razões sociais.
Gostei de mulheres de todas as condições sociais, de todas as idades, de todas
as cores de pele. Dei-me com todos os tipos de mulheres, mas nunca fui
particularmente atraído pelo exotismo, esse racismo às avessas; a maioria das
mulheres que conheci era de tipo europeu, e com uma mentalidade não diversa da
minha (...) Nunca fui machista com ela, nunca pensei que o homem era por
definição superior, nem sequer no plano físico, pois as mulheres vivem em geral
mais tempo (...) As mulheres da minha
vida nunca prejudicaram a minha obra, pelo contrário, diria até que
foram complementares. Ajudaram-me a viver, logo, a trabalhar, e enriqueceram a
minha vida: a minha experiência das mulheres encontra-se nas minhas histórias”
(paginas 258, 259 e 261).
O que o guiou na sua
vida, pergunta Dominique. E ele responde: “A curiosidade intelectual. Eu tenho
curiosidade de conhecer o amanhã. A minha vida está cheia de surpresas e de
prazeres. As minhas pesquisas em diversos domínios abriam-se ao mundo e a mim
mesmo” (pagina 288).
E para encerrar, ele
revelou que encontrou a sua ilha do tesouro. “Achei-a no meu mundo interior,
nos meus encontros, no meu trabalho. Passara minha vida com um mundo imaginário
foi a minha ilha do tesouro (...) quando penso naqueles que me acusavam de ser
inútil, e no que eles julgavam ser útil, então, garante eles, não tenho apenas
o prazer de ser inútil, mas também o desejo de ser inútil”. A entrevista foi
realizada entre janeiro de 1990 a março de 1991.
Seu personagem, Corto
Maltese que há 50 anos espalhou o seu charme e o seu mistério. De Veneza à
Irlanda, da China ao Saara, passando por Hollywood, Petrogrado, Etiópia, etc,
etc, etc. Como frisou Michel Pierre, “Corto Maltese é sem dúvida um dos heróis
mais sedutores da banda desenhada. E sem mulheres faltar-lhe-ia realmente uma
razão de existir”. Pandora, Soledad, Banshee, Morgana, Madame Java, Boca
Dourada, Xangai-Li são apenas algumas das razões de existir de Corto Maltese.
(Este ano, em homenagem
aos 50 anos de nascimento de Corto Maltese, Bruno Enna e Giorgio Cavazzano produziram
uma historia em quadrinhos de aventura do Mickey Maltese em duas partes que a
Editora Abril publicou)
Com poderosos traços e
simbolismo, Corto é retratado junto às mulheres de uma forma que as dignifica.
As mulheres que se cruzam com Corto Maltese e que lhe ficam no coração são
ricas em personalidade, emoções, sensualidade e são de fato diversas no seu
caráter e origens. Pratt explora, de novo com talento, a diversidade que a beleza
feminina étnica possui e retrata as mulheres de varias raças e origens de forma
real e inconfundível.
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