Como
assíduo leitor de livros sobre cinema, música, quadrinhos, artes plásticas, filosofia e sociologia, confesso que poucas vezes abro o dicionário. Agora parece que mudei. Estou apaixonado por um dicionário. “Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento”, livro de Adriana Falcão traz preciosidades poéticas, reflexivas, bom mesmo. Leitura agradável, Falcão parece que aprisionou as palavras que o vento soprou para ela e agora está soltando, uma por uma, de A a Z. Vou selecionar algumas para que o leitor possa apreciar o trabalho dela:
Abandono
– quando uma jangada parte e você fica.
Bondade
- aquilo que sai do coração quando a torneira está aberta.
Calendário
– Onde moram os dias.
Desculpa
– Palavra que pretende ser um beijo.
Escuridão
– o resto da noite, de alguém recortar as estrelas.
Fotografia
– Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.
Gula
– quando chocolate é mais importante que espelho.
Imaginação
– todo filme que passa na cabeça da gente.
Juventude
– os primeiros capítulos da pessoa.
Lealdade
– qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.
Manhã
– o prelúdio do dia.
Nome
– Toda palavra que já tem dono.
Óbvio
– não precisa explicar.
Poeta
– quem nasceu com talento para pôr do sol.
Querer
– quando o olho do desejo brilha.
Razão
– quando o juízo aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Sonho
– um outro você que fica acordado enquanto você dorme.
Ternura
– amor com recheio de goiaba.
Universo
– um só verso que contém toda a poesia desse mundo.
Virgula
– a respiração da ideia.
Xô
– única palavra do dicionário das aves traduzida para o português.
Zíper
– fecho que precisa de um bom motivo para ser aberto.
Adriana
recolheu todas essas palavras e muitas outras e colocou neste precioso dicionário. A cada página, essas palavras soltas vão direto para a alma da gente. Ela estreou com o romance “A Máquina”. Depois veio a experiência no teatro com o musical “Cambaio”, parceria de Chico Buarque e Edu Lobo. Ela publica crônicas na revista Veja Rio, uma delas transformada no infanto-juvenil “Mania de Explicação”, sucesso de público.
Emoções,
sentimentos e palavras estão no livro “Mania de Explicação”, a história de uma menina que
tinha a mania de explicar o mundo. Nele, a menina explica que “saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue” e que “lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo”.
Falcão
escreve roteiros para programas de TV, como “A Grande Família”, “Comédia da Vida Privada” e “O Auto da Compadecida”, da Globo. Outro sucesso da escritora e roteirista é o realismo mágico de um casal de adolescentes chamado “Luna Clara e Apolo Onze”, onde cria personagens tão extravagantes quanto Aventura e Doravante e que mistura amor adulto, amor juvenil, paciência, sorte, enganos e desenganos. Uma prosa gostosa de se ler, com jeito de criança pedindo bala. Sua prosa é talentosa.
Outra
obra de Adriana Falcão é “O Doido da Garrafa”, coletânea de textos preparados para a edição carioca do suplemento de serviço da revista Veja no Rio de Janeiro. Suas crônicas são leves e livres, preparadas com esmero de uma artesã que sabe trabalhar o vernáculo com descontração e beleza. “A sala do coração tem muitas janelas e duas portas. A que dá para dentro e a que dá para fora. A que dá para dentro está sempre aberta. A que dá para fora vive trancada”, escreveu. Como um falcão, Adriana tem pleno domínio da palavra, do texto simples, belo, romântico. Quando se abre um livro de Adriana Falcão as portas e janelas da alma se abrem também e as palavras começam a circular em nossas mentes e corações. É uma boa companhia.
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