Kiss, baccio, beso, baiser, patselui...
em qualquer idioma o beijo é uma forma de contato entre
pessoas. Na literatura,
na música, nas novelas de rádio e tevê, no cinema, nas artes plásticas e nos
quadrinhos beijar é fundamental. Beijar é uma arte e Hollywood sempre soube
disso. Burt Lancaster e Deborah Kerr rolam na praia em “A Um Passo da
Eternidade” (1953), ajudando a desmoralizar o Código Hays, que não comportava
esse tipo de exibição da luxúria. Os beijos ardentes de Rhett Butler (Clark
Gable) e Scarlett O´Hara (Vivien Leigh) em “E o Vento Levou...” continuam na
memória de muitos cinéfilos. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, a impetuosa
duplas romântica de “Casablanca” tem quatro sequências de beijos trocados pelo
seu melodramático casal de obstinados.
Da fantasia do cinema para a realidade
da vida, Elizabeth Taylor e Richard Burton selam na cena de “Cleópatra” o
adultério que abalou o começo dos anos 60. E Henry Fonda e Katharine Hepbum
trocam beijo da terceira idade em “Num Lago Dourado” (1981). Inocentes,
ilícito, desesperados, ternos, apaixonados: na história do cinema, como na
vida, os beijos sempre foram tudo isso. Representam a comunicação e o amor.
Se todas as manifestações artísticas se
apropriam do beijo não seriam o cinema que prescindiria dele. Na verdade, os
melhores beijos do cinema são aqueles que trocamos no escurinho da sala de
projeção. O grande mérito de Hollywood nessa história foi tornar o beijo
público e notório, introduzindo isso no inconsciente coletivo. O primeiro beijo
do cinema aconteceu há mais de 100 anos, num curta-metragem, “A Viúva Jones”,
de 1896. A sensualidade tórrida da cena vivida por May Irvin e John C. Rice
chocou a sociedade americana na época. Não demorou e surgiu a censura. Depois
de alguns anos, foram fixados limites “razoáveis” para as cenas “bestiais e
indecentes”. Para a moral e os bons costumes, um beijo não deveria ocupar mais
de 2,15mm de filme (em torno de três segundos), desde o sorriso até a separação
final. É vapt vupt! O
beijo mais longo no cinema é de 1940. Durou 185 segundos
e foi compartilhado por Jane Wyman e Regis Toomey no filme “You´re in the Army
Now”.
Quem lembra do belo “Cinema Paradiso”,
de Giuseppe Tornatore, sobre um menino fascinado pela magia do cinema. Antes
das sessões ao público, o padre fazia a censura, cortando cenas que ele acha
serem desprovidas de pudor. Isso
sempre afetou as sessões, pois bem na hora
daquele esperado beijo ardente, a cena é cortada para a seguinte, causando um
furor entre os espectadores. Foi em uma dessas sessões de corte que o garoto
Toto, o coroinha do padre, que sempre freqüentava o cinema escondido dele,
conheceu o projecionista do cinema, Alfredo. Assim, começou a amizade entre os
dois.
Um beijo é só um beijo: uma das coisas
fundamentais da vida. É o que dizia, em 1942, a letra de “As time goes by”, a
famosa canção que embalava o romance de Rick (Bogart) e Ilsa (Bergman) no filme
“Casablanca”.Na música o rei do rock, Elvis Presley queria ser beijado rápido
em “Kiss Me Quick”. Os Beatles encantaram o mundo pedindo “Feche os olhos
quando eu te beijo” (All My Loving), enquanto o guitarrista Jimni Hendrix
incendiava platéias em delírio e pedia licença para beijar o céu (Purple Haze).
“Besame mucho”, diz a canção argentina.
“Beija eu”, canta Marisa Monte. “Ele me deu um beijo na boca”, interpreta
Caetano Veloso. Os compositores não se cansam de cantar as maravilhas que o
encontro dos lábios provocam.Roberto Carlos, na época da Jovem Guarda, cantou o
barulho do sarro que tirava com ela no cinema em “Splish Splash”. De Noel Rosa
e Vadico tem a composição “Quanto Beijos”. “Molha tua boca na minha boca/tua
boca é meu doce meu sal/mas quem sou eu nessa vida tão louca/mais um palhaço no
seu Carnaval”. É o canto de Tom Jobim na trilha sonora de “Gabriela, o filme”.
Prince falava das experiências de um
beijo em “Kiss”. Rita Lee chama por um “Doce Vampiro” (“mas nada disso
importa/vou abrir a porta/pra você entrar/beija minha boca/até me matar de
amor”). Bethânia canta, de Waldir Rocha, “meu Amor quando me beija/sinto o
mundo revirar/vejo o céu aqui na terra/e a terra no ar” (“Lábios de Mel”).
Caetano Veloso canta o beijo de muitas maneiras. “Em grandes beijos de amor”,
em “Alegria, Alegria”; como um presente em “Menino do Rio” (“tome essa canção
como um beijo”); e absolutamente político em “Ele me deu um
Beijo na Boca”:
“Era um momento sem medo e sem desejo/ele me deu um beijo na boca/e eu
correspondi àquele beijo”.
Marina Lima canta “Naturalmente ele me
beija/e me põe literalmente louca/sob o sol, ah! E esse brilho no teu
dorso/suor, cristal, gotas no seu rosto/fogo e sal nas curvas do teu corpo/é
demais” (“Literalmente Louca”). “Foi sem querer que eu beijei a sua boca,
menina tão louca, eu quero te beijar, beijo na boca, seu corpo no meu, suado,
tem sabor de pecado, com jeito de bem-me-quer” é a letra de “Beijo na Boca” de
João Guimarães e George Dias para o carnaval baiano. Existem outros beijos
espalhados pela música como “Beijo Partido” (Milton Nascimento), “Nos Beijamos
Demais” (Marina), “Lábios que Beijei” (Orlando Silva), “Aquele Beijo que te
dei” (Roberto Carlos), “Eu Também Quero Beijar” (Pepeu Gomes), “Beijo
Exagerado” (Mutantes), “Beijo Moreno” (Raimundo Sodré) e muitos outros. Todos
resgatam emoção e o sabor de um momento único.
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