09 junho 2015

Beijos espalhados no cinema e na música




Kiss, baccio, beso, baiser, patselui... em qualquer idioma o beijo é uma forma de contato entre
pessoas. Na literatura, na música, nas novelas de rádio e tevê, no cinema, nas artes plásticas e nos quadrinhos beijar é fundamental. Beijar é uma arte e Hollywood sempre soube disso. Burt Lancaster e Deborah Kerr rolam na praia em “A Um Passo da Eternidade” (1953), ajudando a desmoralizar o Código Hays, que não comportava esse tipo de exibição da luxúria. Os beijos ardentes de Rhett Butler (Clark Gable) e Scarlett O´Hara (Vivien Leigh) em “E o Vento Levou...” continuam na memória de muitos cinéfilos. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, a impetuosa duplas romântica de “Casablanca” tem quatro sequências de beijos trocados pelo seu melodramático casal de obstinados.

Da fantasia do cinema para a realidade da vida, Elizabeth Taylor e Richard Burton selam na cena de “Cleópatra” o adultério que abalou o começo dos anos 60. E Henry Fonda e Katharine Hepbum trocam beijo da terceira idade em “Num Lago Dourado” (1981). Inocentes, ilícito, desesperados, ternos, apaixonados: na história do cinema, como na vida, os beijos sempre foram tudo isso. Representam a comunicação e o amor.

Se todas as manifestações artísticas se apropriam do beijo não seriam o cinema que prescindiria dele. Na verdade, os melhores beijos do cinema são aqueles que trocamos no escurinho da sala de projeção. O grande mérito de Hollywood nessa história foi tornar o beijo público e notório, introduzindo isso no inconsciente coletivo. O primeiro beijo do cinema aconteceu há mais de 100 anos, num curta-metragem, “A Viúva Jones”, de 1896. A sensualidade tórrida da cena vivida por May Irvin e John C. Rice chocou a sociedade americana na época. Não demorou e surgiu a censura. Depois de alguns anos, foram fixados limites “razoáveis” para as cenas “bestiais e indecentes”. Para a moral e os bons costumes, um beijo não deveria ocupar mais de 2,15mm de filme (em torno de três segundos), desde o sorriso até a separação final. É vapt vupt! O
beijo mais longo no cinema é de 1940. Durou 185 segundos e foi compartilhado por Jane Wyman e Regis Toomey no filme “You´re in the Army Now”.

Quem lembra do belo “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, sobre um menino fascinado pela magia do cinema. Antes das sessões ao público, o padre fazia a censura, cortando cenas que ele acha serem desprovidas de pudor. Isso
sempre afetou as sessões, pois bem na hora daquele esperado beijo ardente, a cena é cortada para a seguinte, causando um furor entre os espectadores. Foi em uma dessas sessões de corte que o garoto Toto, o coroinha do padre, que sempre freqüentava o cinema escondido dele, conheceu o projecionista do cinema, Alfredo. Assim, começou a amizade entre os dois.

Um beijo é só um beijo: uma das coisas fundamentais da vida. É o que dizia, em 1942, a letra de “As time goes by”, a famosa canção que embalava o romance de Rick (Bogart) e Ilsa (Bergman) no filme “Casablanca”.Na música o rei do rock, Elvis Presley queria ser beijado rápido
em “Kiss Me Quick”. Os Beatles encantaram o mundo pedindo “Feche os olhos quando eu te beijo” (All My Loving), enquanto o guitarrista Jimni Hendrix incendiava platéias em delírio e pedia licença para beijar o céu (Purple Haze).

“Besame mucho”, diz a canção argentina. “Beija eu”, canta Marisa Monte. “Ele me deu um beijo na boca”, interpreta Caetano Veloso. Os compositores não se cansam de cantar as maravilhas que o encontro dos lábios provocam.Roberto Carlos, na época da Jovem Guarda, cantou o barulho do sarro que tirava com ela no cinema em “Splish Splash”. De Noel Rosa e Vadico tem a composição “Quanto Beijos”. “Molha tua boca na minha boca/tua boca é meu doce meu sal/mas quem sou eu nessa vida tão louca/mais um palhaço no seu Carnaval”. É o canto de Tom Jobim na trilha sonora de “Gabriela, o filme”.


Prince falava das experiências de um beijo em “Kiss”. Rita Lee chama por um “Doce Vampiro” (“mas nada disso importa/vou abrir a porta/pra você entrar/beija minha boca/até me matar de amor”). Bethânia canta, de Waldir Rocha, “meu Amor quando me beija/sinto o mundo revirar/vejo o céu aqui na terra/e a terra no ar” (“Lábios de Mel”). Caetano Veloso canta o beijo de muitas maneiras. “Em grandes beijos de amor”, em “Alegria, Alegria”; como um presente em “Menino do Rio” (“tome essa canção como um beijo”); e absolutamente político em “Ele me deu um
Beijo na Boca”: “Era um momento sem medo e sem desejo/ele me deu um beijo na boca/e eu correspondi àquele beijo”.

Marina Lima canta “Naturalmente ele me beija/e me põe literalmente louca/sob o sol, ah! E esse brilho no teu dorso/suor, cristal, gotas no seu rosto/fogo e sal nas curvas do teu corpo/é demais” (“Literalmente Louca”). “Foi sem querer que eu beijei a sua boca, menina tão louca, eu quero te beijar, beijo na boca, seu corpo no meu, suado, tem sabor de pecado, com jeito de bem-me-quer” é a letra de “Beijo na Boca” de João Guimarães e George Dias para o carnaval baiano. Existem outros beijos espalhados pela música como “Beijo Partido” (Milton Nascimento), “Nos Beijamos Demais” (Marina), “Lábios que Beijei” (Orlando Silva), “Aquele Beijo que te dei” (Roberto Carlos), “Eu Também Quero Beijar” (Pepeu Gomes), “Beijo Exagerado” (Mutantes), “Beijo Moreno” (Raimundo Sodré) e muitos outros. Todos resgatam emoção e o sabor de um momento único.
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