12 junho 2015

Alma da mulher


Os primeiros letristas da nossa música popular viam a mulher como vulnerável e traiçoeira. Depois,
musa inatingível. Tudo isso porque a religião e a ciência afirmavam que o papel da mulher era de uma pessoal frágil, emocionalmente instável, fútil. Outros viam a mulher como o diabo de saias. Esses estereótipos ainda estavam presentes até a década de 70. Em 1980 a cantora e compositora Joyce trouxe um novo modelo de mulher: “Ô mãe! Me explica, me ensina,/me diz o que é feminina?/-Não é no cabelo ou no dengo ou no olhar/é ser menina em todo lugar” (Feminina). De Ivan Lins e Francisco Bosco veio a imagem da nova mulher brasileira na voz de Simone: “Ela tem nome
de mulher guerreira/e se veste de um jeito que só ela/ela vive entre o aqui e o alheio/as meninas não gostam muito dela (...)/o que faz ela ser quase um segredo/é ser ela assim tão transparente (...)/ela é livre e ser livre a faz brilhar/ela é filha da terra, céu e mar, Dandara!” (Dandara).

“Há um brilho de faca/onde o amor vier/e ninguém tem o mapa/da alma da mulher”. A canção “Entre a Serpente e a Estrela” é um verso de Aldir Blanc para a música de Terry Stafford e P. Frazer (Armadillo by Money). Já a cantora Rita Lee em “Todas as Mulheres do Mundo” canta: “Toda mulher quer ser amada, toda mulher quer ser feliz, toda mulher se faz de coitada, toda mulher é meio Leila Diniz”. E a própria Lee em “Cor de Rosa Choque” define: “Um certo sorriso de quem nada quer/sexo frágil não foge à luta/e nem só de cama vive a mulher(...)/mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”.

Quem melhor conheceu a alma da mulher foi o cantor e compositor Chico Buarque. “Todo dia ela diz
que é pra eu me cuidar e essas coisas que diz toda mulher” (Cotidiano), “Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz, e atrás dessa mulher mil homens sempre tão gentis” (Deixe a Menina), “Vou voltar, haja o que houver, eu vou voltar. Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás, palavra de mulher, eu vou voltar” (Palavra de Mulher).E muitas outras...

Visionário, Gilberto Gil canta “louvo a força do homem e a beleza da mulher” (Louvação) e “quem sabe, o superhomem venha nos restituir a glória, mudando como um deus o curso da história por causa da mulher” (Super Homem). E Caetano Veloso questiona: “Mas a gente nunca sabe mesmo o que é que quer uma mulher” (Pecado Original) e continua no mistério: “a mulher se enfeita, mas ela é um livro místico e somente a alguns a que tal graça se consente é dado lê-la” (Elegia). E Gonzaguinha fascina: “e eu sinto a menina brotando da coisa linda que é ser tão mulher” (Infinito Desejo).

Marina Lima e Antonio Cícero dão a pista: “Eu gosto de ser mulher, que mostra mais o que sente, o lado quente de ser que canta mais docemente” (O Lado Quente do Ser) e C. César revela: “para pisar no coração de uma mulher basta calçar um coturno, com os pés de anjo noturno” (Mulher eu Sei). Ataulfo Alves confessou seu erro: “lembro-te agora que não e só casa e comida que prende por toda a vida o coração de uma mulher” (Errei Sim). Ismael Silva, N.Bastos e Francisco Alves falam desse jogo: “A mulher é um jogo difícil de acertar, e o homem como um bobo não se cansa de jogar”. Já Adoniran Barbosa despacha: “Não seja bobo, não se escracha, mulher, patrão e cachaça em qualquer canto se acha”. Ataulfo Alves responde: “Mulher a gente encontra em toda parte, só não encontra a mulher que a gente tem no coração” (Pois É).


Billy Blanco e S.Silva têm um modelo: “Eu vou voltar de vez pra solidão pois ela foi fiel, nunca mentiu, nada pediu. É o modelo mais perfeito de mulher, pois volta sempre fica o tempo que eu quiser” (Modelo de Mulher). Ainda é Blanco que compôs: “Ela diz não mas depois vem o bom do amor, o talvez, e amanhã diz que sim como toda mulher” (Lágrima Flor). Ivan Lins e Vitor Martins em “Mãos de Afeto”, gravada por Nana Caymmi abordaram a alma
feminina: “Preparei minhas mãos de afeto/pra esse rapaz encantado/pra esse rapaz namorado./o mais belo capataz de todos/os cafezais/o mais belo vaqueiro de todos/os cerrados/o mais belo vaqueiro de todos/os cerrados//Eu tinha um ombro de algodão/pra ajeitar seu sono/eu tinha uma água morna/pra lavar o seu suor/e o meu corpo um fogueira/pra esquentar seu frio/e minha barriga livre/pra gerar seu filho//Preparei minhas mãos de afeto/pra esse rapaz encantado/pra esse rapaz namorado/que partiu pra nunca mais/traído nos cafezais/e os seus olhos roubaram o/verde dos cerrados/e os meus olhos lavaram todos/os meus pecados”


Simone fez sucesso com “Atrevida”, da dupla Lins e Martins: “Estou mais atrevida/mordaz e ferina/estou cheia de vida/sagaz e ladina/já não sou mais a mesma/respiro outros ares/navego outros mares/são tantos olhares/convites, sorrisos/eu gosto, eu preciso, pois é.../que ficou impossível não ver/mudei de você/por isso me esqueça.../virei a cabeça//Nas noites mal dormidas/rezava seu nome/olhava na janela/chorava seu nome/mexia em sua roupa/gemia seu nome/morria de sede/subia as paredes/me amava sozinha/você não me vinha, pois é.../que ficou impossível não ver/mudei de você/já não me inicia/já não me arrepia//estou mais atrevida/to cheia de vida/você não me provoca/nem quando me
toca/agora eu tenho é fome/de homem que seja feliz”.

E Dorival Caymmi na sua simplicidade cantou que “um amigo meu me disse que em samba canta-se melhor flor e mulher” (Das Rosas) e P. Vanzoline, em “Paz”, disse: “Mulher que não dá samba eu não quero mais”. Noel Rosa foi taxativo: “Pra que mentir se tu ainda não tens a malícia de toda mulher” (Pra que Mentir). E Pepeu e Moraes Moreira descobriram a força: “A todos mostrava naquele momento a força que tem a mulher brasileira” (Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira).




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