Estrada Real era o nome alusivo à via
terrestre que, no século XVIII, a partir da Capitania do Rio de Janeiro, dava
acesso à região das Minas Gerais e Chapada Diamantina, na Bahia. Devido ao
volume de riqueza explorado na região, a Coroa portuguesa procurou garantir o
seu controle e fiscalização de maneira severa, instalando postos de inspeção
(registros) para arrecadar os diversos tributos sobre minerais, como o ouro e
diamante, bem como mercadorias, escravos e animais em trânsito, instituindo
mais tarde as chamadas Casas de Fundição e mantendo na região dois
destacamentos de cavalaria, os chamados Dragões das Minas, além de um terceiro,
no Rio de Janeiro. A designação Estrada Real reflete o fato de ser esse o
caminho oficial, o único autorizado para a circulação. A abertura ou utilização
de outras vias constituía crime de lesa-majestade, sendo a origem da expressão
descaminho com o significado de contrabando. Como era proibido se fazer o
trajeto por outra via, o caminho foi usado por imperadores, soldados,
mercadores, músicos, aventureiros e intelectuais, que além de produtos,
carregavam ideais, como o de se transformar o Brasil em uma república
independente.
As vias hoje reunidas sob o nome de
Estrada Real foram fundamentais na história do povoamento e da colonização de
vastas regiões do território brasileiro, tornando-se verdadeiros eixos
histórico-culturais de construção de parte da nossa história. A grande
movimentação e importância da Estrada Real fizeram nascer ao longo dos seus
1.200 km, inúmeras vilas, povoados e cidades. Mas é claro que com o fim desse
ciclo econômico e com a industrialização, o caminho ficou por muito tempo
adormecido, que acabou por conservá-lo e possibilitou hoje o surgimento de
vários projetos de recuperação para explorar seu potencial turístico. A união desses destinos reuniu atrativos de
sobra para uma longa viagem. São construções coloniais, igrejas, museus,
reservas ecológicas, esportes de aventura, estações de águas minerais,
culinária mineira e, principalmente, muita história. Entretanto, a Estrada Real
não nasceu com toda essa extensão, foi devido a união de três caminhos surgidos
em momentos diferentes que deram origem ao que ela é hoje: o Caminho Velho, o
Caminho Novo e a Rota dos Diamantes.
Desde abril de 2004, 28 municípios
baianos, em um mil quilômetros de extensão, passaram a fazer parte dos caminhos
da Estrada Real. O marco inicial do roteiro da Estrada Real na Bahia começa na
cidade de Rio de Contas, localizada a 1,2 mil metros de altitude e com inúmeros
atrativos religiosos, culturais e históricos. São cerca de 287 prédios tombados
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sem mencionar a
riqueza natural, como inúmeras cachoeiras e o Pico das Almas, um dos pontos mais
altos do Estado. O projeto Estrada Real consiste em aproveitar, para fins de
turismo, o caminho construído na época do Brasil colônia. Na Bahia, a Estrada
Real atravessa pólos turísticos da Chapada Diamantina, onde os tempos áureos do
ciclo do diamante se fez com mais força, integrando os municípios de Lençóis,
Mucugê, Palmeiras, Andaraí, Seabra, Iraquara, Itaetê, Nova Redenção, Ibicoara,
Rio de Contas, Érico Cardoso, Rio do Pires, Jussiape, Piatã, Abaíra, Paramirim,
Livramento de Nossa Senhora, Morro do Chapéu, Jacobina, Miguel Calmon,
Piritiba, Wagner, Bonito, Ourolândia, Campo Formoso, Saúde, Caem e Utinga.
(Texto do livro Breviário da Bahia, de Gutemberg Cruz lançado em 2014 pela
Assembleia Legislativa da Bahia)
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