Uma
das características que
resgata as HQs
como componente geracional,
ou seja, inerente
à geração atual, é
determinado pelas propriedades
hibridizadas de sua
linguagem, devido aos
elementos semântico
de sua matriz visual
verbal. Já Barbieri (1998) defende
a premissa de que
as várias formas de
linguagem não estão
separadas, mas, sim,
interconectadas. Ele usa
uma metáfora para explicar
seu ponto de vista.
A linguagem seria como
um grande ecossistema,
cheio de pequenos nichos
distintos uns dos
outros (que chamou de
ambientes). Cada nicho
(ou ambientes) teria características
próprias, o que
garantiria autonomia
em relação aos demais.
Isso não quer dizer,
no entanto, que não
possam compartilhar características
comuns. Assim os quadrinhos
dialogam com recursos
da ilustração, da caricatura,
da pintura, da fotografia,
da parte gráfica, da
música e da poesia
(trabalhadas por Barbieri
de forma integrada),
da narrativa, do teatro
e do cinema.
Ramos (2009) definiu histórias
em quadrinhos como um
grande rótulo. Um hiper
gênero, queagregaria
diferentes outros gêneros,
cada um com suas
peculiaridades. O termo
hiper gênero é usado
por Maingueneau em
mais de uma obra
(2004, 2005, 2006). O linguista
defende que se
trata de um rótulo
que daria as coordenadas
para a formatação
textual de vários
gêneros que compartilhariam
diversos elementos.
O autor cita como
exemplo o caso
do diálogo, presente
em vários gêneros.
Em
seu estudo sobre Mundialização
e Cultura (1994), Renato
Ortiz informa que a
associação entre consumo
e nação não se
faz somente no caso
da publicidade. Também
as histórias em quadrinhos
são vistas como cimento
da unificação nacional: inculca
nas crianças conceitos
comuns, doutrinas, atitudes,
sentimentos. Consideradas
como diversão, expressam
a autenticidade das
crenças e dos
sonhos do homem médio
americano. Os gibis
difundem uma consciência
do destino e das
aspirações da América.
Os quadrinhos surgiram como
uma consequência das
relações tecnológicas
e sociais quealimentavam
o complexo editorial
capitalista, amparados
numa rivalidade entre grupos
jornalísticos (Hearts vs.
Pulitzer), dentro de
um esquema preestabelecido
para aumentar a vendagem
de jornais, aproveitando
os novos meios de
reprodução e criando
uma lógica própria de
consumo. Outra definição
abrangente para tentar
explicar e enquadrar
as HQs foi talhada
pelo quadrinhista e
pesquisador das HQs,
Will Eisner. Ele criou
o termo Arte Sequencial
com o intuito de
renomear as histórias
em quadrinhos, nos EUA
chamadas comics. O
termo criado por Eisner
traz incorporada a
palavra 'arte', associando
a palavra ao termo
“sequencial”, que visa
definir toda a
narrativa de imagens
em sequência. Esse termo
foi largamente divulgado
depois que ele lançou
o livro Quadrinhos
Arte Sequencial.
Na introdução
de seu outro livro
Narrativas Gráficas, Will
Eisner escreveu:
“Em nossa
cultura, os filmes
e as revistas em
quadrinhos são os
principais contadores
de histórias através de
imagens. Todos eles
empregam imagens e
texto, ou diálogo. Enquanto
o cinema e o
teatro já constituíram
sua reputação e se
estabeleceram há um
bom tempo, a história
em quadrinhos continuam
lutando para serem
aceitas, mas esta
forma de arte, depois
de mais de um
século em uso popular,
ainda ´tida como um
veículo literário
problemático. Na segunda
metade do século XX
houve uma mudança na
definição do que
é literatura. A proliferação
do uso de imagem
como um fator de
comunicação foi intensificado
pelo crescimento de
uma tecnologia que exigia
cada vez menos a
habilidade de se
ler um texto. Dos
sinais de trânsito às
instruções mecânicas,
as imagens ajudaram as
palavras e, muitas
vezes, até as substituíram.
Na verdade, a leitura
visual é uma das
habilidades obrigatórias
para a comunicação
neste século. E as
histórias em quadrinhos
estão no centro desse
fenômeno. (...). Como
as revistas em quadrinhos
são de fácil leitura,
sua utilidade vem sendo
associada a uma
parcela da população
de baixo nível cultural
e capacidade intelectual
limitada. Na verdade,
o conteúdo das histórias
em quadrinhos atendeu a
esse tipo de público
durante décadas. Muitos
criadores ainda se
contentam em fornecer
pouco mais do que
entretenimento descartável
e violência gratuita. Não
é para menos que,
durante um longo
tempo, houve pouco entusiasmo
por parte das instituições
educacionais em aceitar
os quadrinhos. A predominância
da arte no formato
tradicional dos quadrinhos
chamou mais atenção para
esta forma do que
para seu conteúdo literário.
Portanto, não é
de se surpreender
que os quadrinhos,
como uma forma de
leitura, sempre tenham
sido vistos como uma
ameaça à própria literatura,
como havia sido definido
na era pré-visual/eletrônica”.
(EISNER, 2008, p. 07)
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