02 março 2016

A Bahia é de Oxum (N.S.da Conceição) e de Ogum (Sto Antônio), os padroeiros da terra


É sabido por quase todos os brasileiros, que a santa padroeira (e negra) do Brasil é Nossa Senhora Aparecida. Mas, e os municípios baianos? Será que cada um tem seu santo ou santa padroeira? Se cada um de nós elege um santo de fé para nossas aflições e necessidades, com uma cidade não é tão diferente. Cada município da Bahia elegeu por motivos históricos, culturais ou até mesmo político, seu santo patrono. São João, São Sebastião, São José, Santa Luzia, cada santo defende a cidade e o povo, tendo um dia dedicado somente a ele, com direito a festas, missas, procissões, muita fé, devoção e tradição de milhares de anos.

Nossa Senhora da Conceição surge como uma das maiores referências quando o assunto é ser padroeira, são 56 municípios baianos protegidos pela santa. Segundo relatos, três pescadores encontraram a imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Parnaíba, em São Paulo e deram o nome Aparecida, interpretando a palavra “aparecimento”. Ou seja, Nossa S. da Conceição, padroeira de Antas, Aporá, Conceição do Coité, Governador Mangabeira, Lagoa Real, Pintadas, Tabocas do Brejo Velho, Anguera, entre outros, e Nossa S. Aparecida são a mesma pessoa, ou melhor, a mesma santa. Talvez por isso, seu nome já seja interpretado como Nossa S. da Conceição Aparecida. Sincretizada no candomblé como Oxum, a santa se torna a orixá do amor, do ouro e da fertilidade.

CASAMENTEIRO - Santo Antônio surge como o segundo maior santo padroeiro da Bahia. São 49 municípios protegidos pelo santo com fama de casamenteiro. Abaré, Alagoinhas, Caravelas, Itororó, Jequié, Paramirim, Queimadas,   Não existe nenhum fato particular em sua vida ou referências históricas sobre a fama de ser “bom casamenteiro”. É certo, porém, que ele abençoava e ajuda os recém-casados: o santo pedia alimentos aos mais ricos para ajudar a vida do novo casal. Para o candomblé, Santo Antônio é Ogum, orixá associado à luta, à conquista, já que o santo católico é tido também como lutador e cheio de iniciativa.
Rui Barbosa e Serrolandia são alguns desses. Seu nome significa “o que não tem preço”, “o lutador”, e segundo seus biógrafos, Santo Antônio era alegre e chegado a uma boa conversa.

Outro santo que merece destaque é São João, eleito por 26 cidades como padroeiro, entre elas Anagé, Barreiras, Mucugê, Barrocas, Itabela e Quijingue. Tido como santo “festeiro”, ele também é conhecido como o protetor dos enfermos, principalmente no que se refere a dores de cabeça e de garganta. Alguns símbolos são conhecidos por remeterem ao nascimento de São João, como a fogueira, o mastro, os fogos e a capelinha. Existe uma lenda que diz que os fogos de artifício soltados no dia 24 de junho são para acordar São João. A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia, pois, se ficasse acordado vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem, não resistiria e desceria a terra.

OXALÁ - São Sebastião, por sua vez, é o patrono de 22 municípios, como América Dourada, Barra do Rocha, Belo Campo, Ibiassucê, Maraú, Antônio Gonçalves e Vereda. Já sob as bênçãos do Nosso Senhor do Bonfim, um dos santos mais devotados na Bahia, 21 cidades são resguardadas, entre elas Barra do Choça, Nilo Peçanha, Piritiba, Senhor do Bonfim, Xique-Xique, Apuarema, Baianopólis e Ibititá. Os louvores ao Senhor do Bonfim remontam ao ano de 1745, cinco anos após a data em que a imagem foi trazida à Bahia pelo capitão português Theodózio Rodrigues de Faria. No candomblé, ele é identificado como Oxalá, o Deus da criação da sabedoria, da paz, a divindade mais importante do panteão africano.

Aratuípe, Feira de Santana, Catu, Buerarema, Candiba e mais 19 cidades baianas são protegidas por Nossa Senhora Sant’Ana. Já Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, abençoa e sempre socorre 11 municípios, entre eles Almadina, Bonito e Caldeirão Grande. Existem as “nossas senhoras”
intituladas pelo lugar em que aparecem, como a de Fátima, que apareceu em Portugal e a das Graças, que faz referência a Nossa Senhora que surgiu para uma menina entregando-lhe uma medalha tida como milagrosa.

Que a Bahia é a terra de todos os santos, isso ninguém mais duvida. Talvez por isso, cada cidade do Estado referencia quem melhor lhe atende, chama pelo santo ou santa que mais se identifica com seu povo. O santo já é parte da identidade da cultura local, que remete quase sempre a ele para falar de si mesmo e da história da sua terra. Evocados assim, cada um em seu “território”, esses santos e santas seguem exemplificando o motivo maior que mantém o povo baiano sempre de pé e alegre apesar de todas as desventuras e desencantos. (Texto do livro Bahia, um estado d'alma, de Gutemberg Cruz)




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