É sabido por quase todos os brasileiros, que a santa padroeira (e negra) do Brasil é Nossa Senhora Aparecida. Mas, e os municípios baianos? Será que cada um tem seu santo ou santa padroeira? Se cada um de nós elege um santo de fé para nossas aflições e necessidades, com uma cidade não é tão diferente. Cada município da Bahia elegeu por motivos históricos, culturais ou até mesmo político, seu santo patrono. São João, São Sebastião, São José, Santa Luzia, cada santo defende a cidade e o povo, tendo um dia dedicado somente a ele, com direito a festas, missas, procissões, muita fé, devoção e tradição de milhares de anos.
Nossa Senhora da Conceição surge
como uma das maiores referências quando o assunto é ser padroeira, são 56
municípios baianos protegidos pela santa. Segundo relatos, três pescadores
encontraram a imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Parnaíba, em São
Paulo e deram o nome Aparecida, interpretando a palavra “aparecimento”. Ou
seja, Nossa S. da Conceição, padroeira de Antas, Aporá, Conceição do Coité,
Governador Mangabeira, Lagoa Real, Pintadas, Tabocas do Brejo Velho, Anguera,
entre outros, e Nossa S. Aparecida são a mesma pessoa, ou melhor, a mesma
santa. Talvez por isso, seu nome já seja interpretado como Nossa S. da
Conceição Aparecida. Sincretizada no candomblé como Oxum, a santa se torna a
orixá do amor, do ouro e da fertilidade.
CASAMENTEIRO - Santo Antônio
surge como o segundo maior santo padroeiro da Bahia. São 49 municípios
protegidos pelo santo com fama de casamenteiro. Abaré, Alagoinhas, Caravelas,
Itororó, Jequié, Paramirim, Queimadas, Não existe nenhum fato particular em sua vida
ou referências históricas sobre a fama de ser “bom casamenteiro”. É certo,
porém, que ele abençoava e ajuda os recém-casados: o santo pedia alimentos aos
mais ricos para ajudar a vida do novo casal. Para o candomblé, Santo Antônio é
Ogum, orixá associado à luta, à conquista, já que o santo católico é tido
também como lutador e cheio de iniciativa.
Rui Barbosa e Serrolandia são alguns
desses. Seu nome significa “o que não tem preço”, “o lutador”, e segundo seus
biógrafos, Santo Antônio era alegre e chegado a uma boa conversa.
Outro santo que merece destaque é
São João, eleito por 26 cidades como padroeiro, entre elas Anagé, Barreiras,
Mucugê, Barrocas, Itabela e Quijingue. Tido como santo “festeiro”, ele também é
conhecido como o protetor dos enfermos, principalmente no que se refere a dores
de cabeça e de garganta. Alguns símbolos são conhecidos por remeterem ao
nascimento de São João, como a fogueira, o mastro, os fogos e a capelinha.
Existe uma lenda que diz que os fogos de artifício soltados no dia 24 de junho
são para acordar São João. A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia,
pois, se ficasse acordado vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem,
não resistiria e desceria a terra.
OXALÁ - São Sebastião, por sua
vez, é o patrono de 22 municípios, como América Dourada, Barra do Rocha, Belo
Campo, Ibiassucê, Maraú, Antônio Gonçalves e Vereda. Já sob as bênçãos do Nosso
Senhor do Bonfim, um dos santos mais devotados na Bahia, 21 cidades são
resguardadas, entre elas Barra do Choça, Nilo Peçanha, Piritiba, Senhor do
Bonfim, Xique-Xique, Apuarema, Baianopólis e Ibititá. Os louvores ao Senhor do
Bonfim remontam ao ano de 1745, cinco anos após a data em que a imagem foi
trazida à Bahia pelo capitão português Theodózio Rodrigues de Faria. No
candomblé, ele é identificado como Oxalá, o Deus da criação da sabedoria, da
paz, a divindade mais importante do panteão africano.
Aratuípe, Feira de Santana, Catu,
Buerarema, Candiba e mais 19 cidades baianas são protegidas por Nossa Senhora
Sant’Ana. Já Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, abençoa e sempre socorre 11
municípios, entre eles Almadina, Bonito e Caldeirão Grande. Existem as “nossas
senhoras”
intituladas pelo lugar em que aparecem, como a de Fátima, que
apareceu em Portugal e a das Graças, que faz referência a Nossa Senhora que
surgiu para uma menina entregando-lhe uma medalha tida como milagrosa.
Que a Bahia é a terra de todos os
santos, isso ninguém mais duvida. Talvez por isso, cada cidade do Estado
referencia quem melhor lhe atende, chama pelo santo ou santa que mais se
identifica com seu povo. O santo já é parte da identidade da cultura local, que
remete quase sempre a ele para falar de si mesmo e da história da sua terra.
Evocados assim, cada um em seu “território”, esses santos e santas seguem
exemplificando o motivo maior que mantém o povo baiano sempre de pé e alegre
apesar de todas as desventuras e desencantos. (Texto do livro Bahia, um
estado d'alma, de Gutemberg Cruz)
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