O termo kitsch é muito relativo e subjetivo na sua definição. Trata-se de um termo muito expressivo, mas de difícil tradução; por isso, é universalmente empregado no idioma original. Assim, para alguns, kitsch é o produto caracterizado pelo mau gosto; para outros é sinônimo de vulgar; para outros ainda é artesanato seriado, é pseudo-arte, anti-arte ou ainda pode ser considerada como signo de industrialização, podendo ser confundido com o próprio folclore urbano das sociedades industrializadas.
MISCELÂNIA – Os meios de comunicação de massa vieram suprir a lacuna que antes era preenchida pela arte; o produto dessa “cultura” era uma miscelânia onde o kitsch foi encontrar o seu meio propício. Os artistas, ao invés de reagirem e de encontrarem nova forma de comunicação para um público maior, fecharam-se num processo de individualismo e introspecção, enclausularam-se em seus mundos, distanciando-se das massas, por terem achado que estas gostavam de se enganar com os estereótipos que a nova sociedade lhe ofereciam. Ao fazerem isso, os artistas se constituíram numa casta – por vezes chamada vanguarda -, que produzia para uma elite privilegiada, quer pelos dotes intelectuais, quer pelos econômicos.
Esses meios de comunicação de massa voltaram-se para um público heterogêneo e desprovido de cultura; para atingi-lo, adotaram uma média de gosto e, ao se utilizarem dela, destruíram as características distintas de vários grupos, criando, em conseqüência, um tipo único a que integrava a massa. Esta, por sua vez, não tinha consciência de si como grupo seguro e caracterizado, tornando-se alvo fácil de mistificação tanto política como artística.
EXAGERADO – O objeto kitsch é feito com intenção de ser arte, mas não é. A pop art, a literatura popular e a pornografia não são kitsch, mas estão intimamente ligadas a ele. O kitsch ultrapassa todos os gêneros, não se prende a nenhum deles a não ser ao princípio do exagero. Por isso, chega facilmente ao bizarro. Pra Abraham Moles (1920/1992), o kitsch constitui um estado de espírito, eventualmente cristalizado em objetos. É o oposto da simplicidade, o inverso da sobriedade, o avesso da austeridade. Tudo no objeto kitsch remete aos sentidos, à profusão. Não há espaço para mesquinharia no kitsch. Ele é multicolorido, repleto de reentrâncias, de informações visuais.
O abajur de fuxico (retalhos coloridos, costurados à mão), a almofada transparente de plástico, repleta de plumas lilás, as velas de gel com duas serpentes enlaçadas, o puf forrado de pelúcia em forma de dado, a luminária espetada por tubo de plástico... Um mundo de cores e formas a explorar. “O kitsch é a arte da felicidade”, sentencia Abraham Moles. “O kitsch tem humor”, emenda Sig Bergamin. O arquiteto e decorador distingue o kitsch do cafona. Para ele a diferença está na brincadeira. “O Pós-Modernismo revigorou o kitsch”, afirma a professora da Escola de Comunicação e Artes da USP, Ana Mãe Barbosa.
Há, na nossa época, uma obsessão pelos objetos e uma veneração pelo autêntico, pelo que é velho, pelo tradicional. Essa característica é uma decorrência das mudanças bruscas que ocorrem em nossos dias, de movimento e velocidade das transformações técnico-científicas que distanciam do que antes era o natural – que, hoje, substituído pelo artificial. No afã de se produzir, criam-se objetos na sua maioria inúteis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário