Esse fenômeno já havia sido sinalizado nos anos 80 pelo sociólogo francês Gilles Lipovetsky (autor de A Era do Vazio e O Império do Efêmero) que observou a fugacidade das manifestações culturais, sua relação com a sociedade de consumo e as diversas transformações que esse processo tem provocado. Um bom exemplo disso é que o game Guitar Hero (espécie de karaokê de guitarristas), inspirou a recente formação de uma banda com o mesmo nome,
Para muitos, esse entretenimento instantâneo ter virado febre está relacionada como a lógica da sociedade de consumo onde os produtos culturais são feitos para serem rapidamente consumidos a fim de que novos sejam produzidos e introduzidos no mercado. E com todo acelerado desenvolvimento tecnológico, esses produtos culturais são disponibilizados. Apesar do formato ser superficial, por outro lado ele possibilita uma série de trocas (interatividade) e um dinamismo nas rodas de discussões. Todo esse sucesso do entretenimento em pílulas é conseqüência da dificuldade de concentração e atenção das novas gerações. Eles estão sempre pulando do e-mail para as conversas no MSN Messenger, seguidas de atenção rápida no celular que toca com mensagem cifrada....E o mercado de trabalho quer um profissional de conhecimentos múltiplos, o faz tudo. Neste mundo da atenção parcial, a cultura do aperitivo encontra um território perfeito. E neste mundo novo, menos é mais, superficialmente. Verdadeiro mosaico de informações.
O jornalista, apresentador e diretor de TV Marcelo Tas diz acreditar que a instantaneidade causada pela revolução digital tem efeitos mais amplos. “A febre não atinge só o entretenimento, mas a informação, a comunicação e até a vida afetiva”. Assim, a snack culture funciona como “um índice para o internauta decidir onde vai gastar seu tempo”. Com o desenvolvimento tecnológico que estamos atravessando, mais e mais produtos culturais instantâneos serão lançados porque estes são subprodutos que aumentam o leque de oferta de um determinado produto. O novo cd de Vanessa da Mata por exemplo foi disponibilizado no mercado na versão longa (com todas as faixas) e na curta (só com sucesso).
E já existe grande possibilidade de fazer negócio com esse entretenimento instantâneo. Steve Ellis, o fundador do programa de licenciamento on-line de música independente Pump Áudio (www.pumpaudio.com), pagou só em 2006, trechos de músicas para programas de TV, filmes, sites e jogos de videogame, US$ 125 mil (cerca de R$241 mil) a artistas independentes por suas obras. Desde 2001 que ele está nos negócios. A radio Sass (www.radiosass.com) toca 30 músicas em uma hora (enquanto uma rádio tradicional levaria mais de 12 para tocar). O motivo: as faixas são picotadas, e os intervalos não chegam a um minuto e meio. Na rádio on-line, idealizada pelo DJ George Gimarc, as versões enxutas das músicas, toca muito mais vezes do que as de outras estações, servindo de aperitivos instantâneos para consumo. “A gente vive em uma época em que a velocidade é supervalorizada. Buscamos uma internet mais veloz, dirigimos mais rápido, comemos fast-food. Queremos mais estímulos do que antes”.
Essa cultura do aperitivo (snack culture) se espalhou graças a internet, e o entretenimento instantâneo vem tomando forma com a proliferação de pequenas doses de diversão que incluem snack tones (músicas de dez a 30 segundo compostas para tocar em celular), minigibis (disponíveis para download), filmes de ginástica com menos de dois minutos (para serem assistidos pelo iPond na academia), versões reduzidas de clássicos como Pulp Fiction (Quentin Tarantino), Elefante (Gus Van Sant), O Verão de Sam (Spike Lee), Scarface (Brian De Palma), entre outros, além de galeria de arte visual, séries de TV e jogos.
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