26 janeiro 2021

Cultura popular e manifestação folclórica

 

“Pedra pisada de preto/luso, bantú, sudanesa/precipício de beleza/reconvexa alegria/ímã de toda utopia/rima de toda riqueza/tudo isso com certeza/só se vê na Bahia//Gente que tira alegria da dor/no batecum do batente/todas as cores de gente/contas de todos os guias/uma nação diferente/toda prosa e poesia/tudo isso finalmente/só se vê nas Bahia” (Só Se Vê na Bahia, de Roberto Mendes e Jorge Portugal)

 

A Bahia revela os encantos das suas manifestações folclóricas e a cultura popular para seus visitantes. Seja nas festas de reis, no samba de roda, na marujada, festa do divino, levada do mastro ou cavalgada. Essa variedade de atrativos faz da Bahia uma atração mundial. Visitantes do mundo inteiro fazem uma viagem ao estado baiano para conhecer as manifestações culturais. A Bahia tem um rico acervo folclórico, desde o bumba meu boi, a chula, os festejos juninos, as famosas micaretas, além das festas da padroeira de cada cidade, emancipação e do enterro do ano (ou reveillon).

 

Há uma cultura dos pequenos mundos com aspectos míticos e ritualísticos presentes n as festas, folguedos e rituais religiosos populares que precisam de uma maior valorização e divulgação. A TV Educativa com a série Bahia Singular e Plural fez esse registro e difusão audiovisual revelando um conjunto de expressões culturais. O Governo do Estado com o projeto Domingueiras  valorizou e divulgou as autênticas manifestações culturais populares da Bahia. Iniciado em 2003, o projeto visitou municípios baianos, onde reuniu, sempre no último final de semana de cada mês, todas as manifestações culturais e o artesanato produzido e os expõem feiras de artesanato e apresentações em praça pública. A musica local, as filarmônicas, as fanfarras e as mais diversas manifestações da cultura tradicional são evidenciadas pelo Domingueiras, que também oferece palco livre e oficinas de arte com especialistas nas áreas de teatro, música, dança e canto coral.

 



IDENTIDADE - Os folguedos, festas e rituais religiosos populares funcionam como elementos de afirmação de identidades locais. Enquanto o sertão da Bahia tem nos penitentes da semana santa um dos elementos mais visíveis, com a religiosidade sertaneja organizada em torno da morte e marcado por rituais para a expiação de culpas e pela sobrevalorização da cruz em detrimento de imagens de santos, a disseminação de folguedos em torno da devoção a São Sebastião (incluindo ternos de Reis, puxadas de mastros e as embaixadas dramáticas conhecidas como Lutas de Cristão e Mouros) se destaca na região do sul. Já a cultura popular do Recôncavo é coreográfica (como mostrou a pesquisa de Nélson de Araújo), onde o povo tem um “gingado no corpo” que vem da pisada no massapé, terra argilosa onde se desenvolveu o plantio da cana de açúcar. Vários cantos religiosos, católicos, foram reelaborados com as músicas profanas de letras picantes, uma forma de satirizar a corte européia e os senhores do engenho.

 


Marujada é o nome de um folguedo também conhecido como Chegança de Marujos. No litoral extremo sul (Prado) e Chapada (Jacobina) são apresentados grupos de marujos e oficiais em uma embarcação imaginária fazendo um cortejo pelas ruas da cidade, batendo pandeiros e tocando violas. Enquanto nas cidades de Saubara (Recôncavo) e Paratinga (Vale do São Francisco) são as Marujadas que apresentam as danças dramáticas quando os marujos encerram episódios cômicos e trágicos relacionados à vida marítima.

 


REISADO - As festas de Reis (também conhecidas como Reisado ou simplesmente Reis) figuram entre os folguedos tradicionais mais difundidos no interior da Bahia e podem ser encontrados em quase todos os municípios do estado, durante o chamado Ciclo do Natal, entre o dia 25 de dezembro e 06 de janeiro, o dia dos Santos Reis Magos. Esse baile pastoril é comemorado em Lençóis, Andaraí, Mucugê, Palmeiras, Barra do Mendes, Morro do Chapéu, Piatã, Seabra, Conceição do Coité, Valente, São Francisco do Conde, entre outras cidades. O Bumba meu Boi é um folguedo popular considerado símbolo do folclore brasileiro e está presente no Recôncavo, no Litoral Norte, Sertão, Chapada e Vale do São Francisco.

 


As Burrinhas da Bahia vão para as ruas em diferentes épocas do ano (Reis, Carnaval, São João etc) ao som de pandeiros, violões, instrumentos de sopro, sanfona e arrastando um animado grupo de foliões. Podem ser vistas no Recôncavo (Jaguaripe, Santo Amaro, Saubara), Sertão (Amargosa, Araci e Irará), Vale do São Francisco (Carinhanha e Paratinga) e Litoral do baixo sul (Taperoá). Já o Nego Fugido é exclusivo do povoado de Acupe, distrito de Santo Amaro. Trata-se de um teatro de rua formado por adolescentes, filhos de pescadores. Eles encenam a luta pela libertação dos escravos.

 

A Chegança de Mouros é uma manifestação inspirada na saga marítima portuguesa e nas lutas medievais travadas pelos europeus contra árabes, turcos e mouros. São encenadas, principalmente por pescadores que representam marujos e oficiais de um navio. O ponto alto do espetáculo são as lutas contra os mouros. É apresentado nas cidades de Saubara, Camaçari (Arembepe), Cairu entre outras. Tem ainda as lutas de Cristãos e Mouros no litoral do extremo sul (Caravelas, Nova Viçosa), folguedo estruturado em torno dos embates dos europeus contra os árabes. As narrativas, ao contrário das Cheganças, não são cantadas. Há um verdadeiro duelo verbal. (Texto do livro Bahia, um estado d´alma que lancei em 2009)

 

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