O ano de 1967 foi importantíssimo para
as histórias em quadrinhos. Nesse período surgiu o escândalo visual da Saga de
Xam, o psicodelismo de Pravda, e as aventuras de Corto Maltese.
Saga de Xam, obra em quadrinhos desenhada
por Nicolas Devil e editada por Eric Losfeld em 1967, foi destinada a um
público adulto, que misturava erotismo e ficção científica. Conta a viagem de
Saga, a bela jovem de pele azul vinda do Planeta Xam para salvar um planeta
Terra, que não merece ser salvo, mas foi evoluindo, de forma orgânica, para se
transformar num manifesto coectivo, estético e político, que prenuncia o Maio
de 68 e onde encontramos como figurantes no último capítulo Barbarella, Bob
Dylan, Allan Gingsberg, Zappa Kalfon, Julian Beck, Lovecraft, Valérie Lagrange,
John Lennon, Cassius Clay, os Hell's Angels e os Rolling Stones, entre muitos
outros.
Ainda na França, Guy Pellaert lança
Pravda, La Survireuse. Reforma ao máximo os seus potenciais eróticos: mini-saia
pela cintura, coxas enormes e grandes botas pretas. Foi inspirada na cantora
Françoise Hardy. A heroína circula no seu bolide de duas rodas, chefiando uma
gang feminina, precursora das radicais Woman´s Lib. A personagem é da safra de
heroínas eróticas europeias que surgiram no rastro de “Barbarella”. Mas
“Pravda” bebia nas águas do psicodélico e da chamada “pop art”. Publicada
originalmente em capítulos, na revista francesa Hara-Kiri, a protagonista é
líder de uma gangue de motoqueiras que percorre os Estados Unidos quase nua,
vestindo vistosas botas pretas e com fisionomia calcada na cantora Françoise
Hardy.
Já o desenhista Georges Pichard lança
nessa época Blanche Epiphanie, uma heroína romântica ingênua. Com um humilde
emprego de entregadora de cheques, ela passava as noites remendando os trapos
que de dia eram rasgados pelos clientes do banco, que sempre a assediavam. Mas
a moça tinha um defensor mascarado, o herói Défendar, identidade secreta de um
estudante de ciências, vizinho do quarto da moça. A história foi publicada com
muito sucesso pela V Magazine e depois dela vieram outras heroínas criadas por
Pichard, a maioria loiras, rechonchudas e com sardas no rosto.
Nos Estados Unidos, Gilbert Sheldon, artista
underground bastante representativo, publica Freak Brothers: história de três
maconheiros ripongas, que dividem o mesmo
apartamento: Fat Freddy é um gordo
com apetite colossal; Phineas, um tímido bicho-grilo, e o último, Freewhelin,
um radical de esquerda que odeia o "sistema" e a política. Situações
engraçadíssimas baseadas na tríade sexo, drogas e rock-and-roll.
Na Itália, a revista Sgt. Kirk publica
pela primeira vez o marinheiro Corto Maltese, criação de Hugo Pratt, cujos
álbuns inauguram o chamado "romance em quadrinhos". Corto Maltese é a
grande criação de Hugo Pratt. Este marinheiro correu o planeta em aventuras
estranhas, sempre acompanhado pela magia e pelo mistério de grandes enigmas da
humanidade, misturando factos reais com uma vertente fantástica enorme. É muito
natural encontrar Corto sobre a influência de cogumelos, viajando no mundo dos
sonhos, tocando por vezes no mundo real.
Ainda em 1967, em São Francisco que
surgiam os yuppies ou hippies politizados, nome derivado do YIP (Youth
International Party - Partido Internacional da Juventude). Jerry Rubin,
ex-líder estudantil de Berkeley, proclamava: “Os yuppies são revolucionários.
Misturamos a política da Nova Esquerda com o estilo de vida psicodélico. Nossa
maneira de viver, nossa própria existência é a revolução”. Consumava-se, assim,
segundo alguns, a mistura da revolução cultural com a revolução política.
O jornalista Antônio Calado publicou em
1967 o romance “Quarup”, onde descreve o intelectual da cidade experimentando a
realidade da selva. Seus personagens vão viver no Xingu e, no caminho,
deparam-se com a repressão no Nordeste nos primeiros anos da Revolução de 1964.
E no carnaval de rua de Salvador, em 1967, a presença marcante do bloco Apaches
do Tororó, nova agremiação de jovens da comunidade negro mestiça, influenciados
pelos filmes de caubói norte americanos. Polêmico, agressivo, pioneiro no uso
de música própria e de um tema para cada carnaval, este bloco torna-se um dos
mais importantes da década seguinte, chegando a contar cinco mil participantes.
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