Um grande impacto de rajada de tiros e
discursos numa alegoria do caos está presente no filme “Terra em Transe”, de
Glauber Rocha. Reflexão amarga sobre a derrota da esquerda, seu fluxo narrativo
obedece aos delírios do protagonista (um jornalista de classe média envolvido
com um político populista), ferido mortalmente. Na enxurrada de recordações do
protagonista podem-se ver as contradições de um país de terceiro mundo e da
pequena burguesia urbana, dividida entre o sonho revolucionário romântico e os
desejos mesquinhos da realidade.
A trama do filme de Glauber Rocha, Terra
em Transe é uma alegoria política, um texto que faz uso de elementos históricos
muito próprios do Brasil e da América Latina como um todo, especialmente porque
não se nega a mostrar as diferenças sociais, a larga oferta de posturas
político-ideológicas, o embate quase infantil entre povo e poder, o uso da
força militar ou do assassinato político. Através de todos esses fatos
observados no Terceiro Mundo, Glauber Rocha nos mostra a crônica de uma
ascensão ao poder e sua subsequente derrocada.
A política é um negócio sujo em
Eldorado. O país fictício tem governantes corruptos no poder, partidários e
aliados assassinos, fracos e extremistas — à direita e à esquerda — o que não
facilita em nada a vida do povo, que não sabe para qual lado seguir; é
facilmente enganado por palavras de consolo e de “estou anotando tudo,
tudinho!” e festeja a chegada de um líder populista como se esta fosse a
resposta para todos os problemas imediatos pelos quais passam: a falta de
terra, a falta de
emprego, a falta de comida.
Em A Chinesa, num certo momento, Anne
Wiazemski (a personagem universitária que quer destruir as universidades)
explica a Juliet Berto (a camponesa que não entende nada de marxismo-leninismo)
qual a importância da política na ação de um grupo revolucionário. Ao que a
outra pergunta: "quer dizer então que a França de 1967 se assemelha a
esses pratos sujos?" Em uma ocasião seguinte, Wiazemski explica a
Guillaume (ator revolucionário brecthiano, Jean-Pierre Léaud) o que é lutar em
duas frentes: lutar política e esteticamente.
Em A Chinesa, Godard nos dá várias
definições de sua profissão de fé. Para além de todas considerações de previsão
e análise sociológica a respeito desse filme, A Chinesa é, antes de qualquer
coisa, o filme em que Godard mais claramente expõe o seu projeto e sua ideia do
que seja fazer cinema.
Catherine Deneuve começa sua carreira
como heroína ingênua do cinema francês. Aos poucos, vai se transformando numa
deusa loira sofisticada, uma mulher independente que escolhe cada filme que vai
fazer.
Em “A Bela da Tarde” (1967) de Luis Buñuel ela faz o papel de pura e
perversa, até fundir num novo modelo de mulher que, desde então, sempre
acompanharia a atriz.
Libertária do ponto de vista sexual,
provocativa em política, conservadora na religião. Pasolini queria captar o
discurso do povo e não fazer um discurso sobre o povo.
Seus filmes mostram a
disposição de encontrar essa força primitiva que viria dos estratos populares,
livre de contaminação da cultura de elite. Forças primais, as forças da saúde –
o sexo, a fome, o riso, o prazer em todas as suas formas, mesmo as mais
escatológicas. Contra
o racionalismo pragmático, a magia e a força do irracional e do mito em
Édipo-Rei (1967)
A peça "O Rei da Vela" é
encenada no Teatro Oficina, em São Paulo, e revoluciona o teatro brasileiro. O
diretor José Celso Martinez Correa resgata o vigor e a
ousadia do texto de
Oswald de Andrade, que permanecia atual mesmo tendo sido escrito na primeira
metade da década de 1930. O experimentalismo do espetáculo mesclava linguagem
de circo e de chanchada e inaugurou o chamado teatro de agressão. Essa marca da
obra atraiu e chocou as plateias de classe média, que durante mais de um ano
lotaram o Oficina.
Ainda em 1967 um livro quebrou os
cânones, valorizando a macrovisão histórica e apontando tendências universais:
John Kenneth Galbraith lançou O Novo Estado Industrial alertando para uma
característica crucial do capitalismo contemporâneo, a separação entre
propriedade e gestão. Ele redescobriu e denunciou, as armadilhas do poder
coletivo e os fantasmas da organização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário