Há 50 anos surgia Saga de Xam, a graphic novel francesa, escrita por Jean Rollin e
desenhada por Nicolas Devil, publicado pelo lendário editor Eric Losfeld.
Considerado pelo crítico Jacques Marny como um verdadeiro “escândalo visual”,
definição que traduz bem o impacto que o livro teve nos leitores da época, Saga
de Xam conta a viagem de Saga, a bela jovem de pele azul vinda do Planeta Xam
para salvar um planeta Terra.
Xam é um planeta habitado exclusivamente
por mulheres. Para salvar a raça xamiana, a Grande Senhora designa Saga em
missão à distante Terra, cujos segredos poderiam conter a chave da vitória. Em
sua espaçonave de luz, Saga atinge a Terra em plena época das cruzadas. A
partir daí começam as aventuras de Saga através de um verdadeiro redemoinho
espaço-temporal-visual, entre o surrealismo, a arte nouveau e o naturalismo
desenvolve-se o desenho de Devil, explodindo nos poemas visuais do fim.
É um dos mais raros e autênticos
exemplares de graphic novel psicodélica, sendo um símbolo artístico da segunda
metade do século 20. As detalhadas páginas de Saga de Xam foram desenhadas em
grandes quadros e, ao serem reduzidas ao tamanho de um livro, resultou-se na
diminuição das letras e é necessário uma lupa para lê-las. Verdadeira viagem
pela História de Arte Universal, do antigo Egito à Pop Art, passando pela
pintura flamenga, Saga de Xam é um belo e luxuoso livro-objeto, encadernado a
pano e impresso em papel de 300 gr, feito mais para ser visto do que para ser
lido.
O livro, impresso em papel de 300
gramas, é extremamente raro e muito valorizado ao longo dos anos por
colecionadores de todo o planeta, mesmo por nunca ter sido reimpresso. Esta
obra é relacionada à emancipação sexual feminina dos anos 60.
O enredo em geral trata de problemas
raciais e da violência. Esta obra é relacionada à emancipação sexual feminina
dos anos 60. Herdeira direta de Barbarella, de Jean-Claude Forest, Saga de Xam
foi revolucionária porque ousou perverter todas as regras dos quadrinhos, tanto
no conteúdo quanto nas técnicas. Tratou do liberalismo feminino com ousadia,
colocando em foco uma linda humanóide alienígena de exuberante corpo azul,
inspirado na modelo Handa Humbert, que aparece desnuda por quase toda a narrativa.
A personagem é independente, toma suas
próprias decisões e sustenta uma relação homossexual durante boa parte da
história. Os desenhos são psicodélicos, complexos e detalhistas, e os balões
enormes, com textos longos em letras bizarras.
Saga vem do planeta-mar de Xam, enviada
por sua soberana para estudar a Terra e desenvolver uma proteção psíquica
contra os invasores que ameaçam o seu planeta. Ela chega em meio a um grupo de
cavaleiros medievais que acabaram de devastar uma aldeia. Capturada, é levada a
um castelo onde as mulheres sofrem todo tipo de violência. Entregue ao
feiticeiro Abdul Alhazred, Saga escapa, mas é recapturada e amarrada a um poste
de pedra onde será queimada viva. Mas ela descobre um botão oculto que, ao ser
pressionado, transforma o poste de pedra em um veículo futurista com o qual
Saga foge para o mar.
Enquanto manobra pelas ondas, Saga
encontra um barco de guerreiros vikings com uma carga de mulheres sequestradas.
Uma delas, chamada Zo, está sendo torturada amarrada a quilha do barco. Saga a
liberta e ambas atacam os vikings, matando-os e assumindo o controle da
embarcação. Saga decide partir, mas Zo se revela apaixonada por ela e ambas
embarcam no veículo de Saga, deixando o barco viking entregue às mulheres. Nos
saltos seguintes, Saga e sua amante passam por várias épocas e ficam algum
tempo no antigo Egito. Mais tarde, Saga retornará para sua dimensão, onde irá
confrontar seus inimigos.
Saga de Xam foi o divisor de águas entre
o quadrinhos clássico e a moderna escola narrativa, abrindo o caminho para
obras como Paulette, de Wolinski e Pichard, Valentina, de Guido Crepax, 5 x
Infinitus, de Steban Maroto, Delirius, Philip Druillet, e toda a escola ligada
a revista Métal Hurlant.
A obra teve uma única tiragem de 5 mil exemplares e
nunca foi republicada; elevada a categoria de obra de arte, seus exemplares são
raros e valiosos.
Para além do editor, Eric Losfeld, outro
nome foi determinante para a concretização de Saga de Xam. O de Jean Rollin,
cineasta de culto com uma grande atração pelo fantástico e pelo erotismo, que
escreveu o argumento de Saga de Xam e apresentou Devil a Losfeld.
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