O movimento punk, detonado a partir de
1976, colocou na moda o estilo mais agressivo de penteado da história do rock.
À base de sabão seco, criou-se um estilo pontiagudo cuja variante é o moicano.
Cabelos espetados, descoloridos, mais uma vez, o couro cabeludo fica
diretamente ligado à contestação. Johnny Rotten (Joãozinho Podre), dos Sex
Pistols, virou o rock pelo avesso. Cinismo e energia levados às últimas
consequências, olhando no olho da rainha e nos seus engomados súditos. Se havia
espaço para cortes moicanos, por que não esperar o surgimento do visual de uma
sioux? A sombra Siouxsie trouxe o visual gótico, negro como as trevas. Rainha
do pós-punk, musa dark. Siouxsie e sua banda Banshees apresentam músicas com
letras geralmente escuras e pesadas, estilo terror-soft. Tem a ver com o clima
fantasmagórico que o grupo cria em seu visual. O descabelante rock do grupo
estilhaçou as vitrinas.
O estilo romântico e rococó típico dos
anos 50 foi retomado, com exagero adicional, pelas duas
vocalistas da banda new
wave The B52´s, Cindy Wilson e Kate Pierson no fim da década de 70. E o reggae
jamaicano refletiu a filosofia rastafari com suas próprias interpretações
bíblicas. Partindo daí, com a certeza de que o “homem sagrado” não deve cortar
seus cabelos, surgiram as dreadlocks (algo como tranças terríveis),
mundialmente visualizadas através da figura de Bob Marley. As dreadlocks usadas
pelos adeptos da religião jamaicana rastafári começaram a fazer sucesso na
Europa a partir da explosão internacional de Bob Marley, em 1978. E influenciam
até hoje. No Brasil, as locks foram adotadas por gente como Gilberto Gil e
Margareth Menezes.
A irlandesa Sinéad O´Connor sacudiu o
círculo pop inglês, cruzou o oceano e freqüentou a lista dos top pop no final
dos anos 80. Cabeça raspada e olhar psicótico emolduram oi visual do primeiro
disco. Ela assume com garbo sua diferença pictórica e investe na paridade do
nome. Sinéad com a ferocidade da tribo Skinhead (“que mal há em cuspir no
palco? É como ir ao banheiro; do contrário você explode”). Cabeça barbeada,
outsider, introvertida, ela canta o abismo.
Enquanto Sinéad raspa a cabeça, quatro
baby faces de cabelos escondendo testas e olhos, com roupas negras, intitulados
The Jesus & Mary Chain trazem o som do desespero. Outra banda que não deve
ser tomada alegremente: The Sisters of Mercy (As irmãs da Piedade), que mostram
seu som pouco misericordioso para com as fraquezas humanas, povoado do niilismo
típico de tendência dark.
Algumas vezes careca, outras vezes com o
corte retro, a diva da pop music Grace Jones apresenta uma aparência
enigmática, como um andróide inviolável. O artista francês Jean Paul Gould foi
o responsável pelo design do cabelo, corpo e das capas de Grace. Combinação das
mais perfeitas já vistas na música pop. Cantora sedutora, ousada, que brilha
com, seu visual exótico e sua música dançante. Curtos ou longos, os cabelos têm
cotação, sua mitificação no mundo dos mitos, deuses do Olimpo.
A imagem vale mais que o conteúdo para
obter os 15 minutos de fama na década narcisista dos 80. Brotam os cabelos com
design, dos incríveis visuais de Grace Jones, a Boy George e Prince. Ninguém
podia ter cabelo “igual”. Ganharam destaque as trancinhas afro, também em
cabeças louras, e shaves variados. Nos anos 90 Madonna encarna Marilyn Monroe
com os cabelos louro-brancos. Ela muda de cor e penteado a cada show. E as
cabeças começaram a ficar quadradas.
O cabelo raspado na parte de baixo e
moldado geometricamente no alto é o estilo das cabeças gráficas, esculpidas no
topo em volumes cada vez mais altos que invadiu Nova York, Inglaterra e chegou
também ao Brasil. Bem ao estilo do desenho animado Bart Simpson entrou na onda
Lulu Santos, Shabba Ranks e muitos outros. O modismo recebeu a adesão da nova geração
reggae que trocou os antigos dreadlocks por cortes rentes ao crânio, marcado
por riscos e até mesmo pelo desenho do mapa da África, feitos com tesoura e
navalha. O visual pegou e, para ser mantido, exige cuidados constantes.
Desde Sansão sabe-se o valor de uma bela
cabeleira. Com a onda do interlace (cabelos postiços
amarrados na raiz dos
cabelos naturais), os astros televisivos abandonaram as antigas perucas para
mudar o penteado a cada novo trabalho. Postiços, tingidos ou descoloridos,
cabelos bem tratados são fundamentais para a imagem de qualquer estrela.
Assim, o cabelo, juntamente com as
roupas, é muito mais que um simples detalhe estético: compõe a identidade
visual de cada um, uma opção que revela o “mood” da pessoa e define a tribo a
que pertence. Os mil e um estilos de cabelos que surgiram nos últimos 60 anos
revelam a necessidade, individual e de grupos, de expressar sua liberdade de
escolha e uma variedade de tendências. Além do mais, os cabelos se prestam a
metáforas, servindo para situações assustadoras (“de arrepiar os cabelos”) ou
sofrimentos (“de deixar os cabelos brancos”).
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