19 dezembro 2016

Gerônimo, coração de liberdade (1)



Ele é o melhor representante da raça mulata ascendente da Bahia. Nascido em Itaparica e absorvendo
os sons negros das vielas e ladeiras da cidade de Salvador, Gerônimo conseguiu estruturar uma nova linguagem para a nossa música, seguramente a mais forte depois do Tropicalismo. Na ilha aprendeu o gingado da gente e o balanço do mar. E foi dali que ele saiu para se tornar poeta.

Gerônimo cresceu ouvindo Nelson Gonçalves, Dolores Duran, Vicente Celestino e Rita Pavone. Um veranista apareceu com um disco dos Beatles e, neste momento, Gerônimo já fazia suas incursões como músico na filarmônica local.

Ele resgata o discurso popular porque combina a musicalidade bem dita com o sorriso folgado de gente brejeira. Gerônimo faz a festa e arrasta atrás de si uma multidão que conhece as letras que cria e o acompanha no ritmo temperado de salsas, rumbas, sambas reggae, ijexá e tantos outros. Na opinião de Jorge Amado ele é “o melhor letrista, o poeta mais terno, romântico e sensual, voz de dolência de desejo, morna e enluarada”. Gerônimo é de fato um artista de múltiplos talentos, que aliou seu nome o de movimentos musicais da Bahia, não se acomodou e continua um experimentalista.

Ele se firmou como um dos mais sólidos nomes da composição baiana, sem sair do lugar. Encontrá-lo na cidade, nas ruas do Pelourinho, Liberdade, Saúde ou em qualquer lugar onde o povo de Salvador está fazendo história. Aí está Gerônimo com um coração da liberdade

Signo de câncer, criado na Ilha de Bom, Jesus dos Passos (Baia de Todos os Santos), Gerônimo é um homem do mar que transmite em sua música fluência, simplicidade e riqueza.

TRAJETÓRIA - Gerônimo Santana Duarte nasceu no dia 26 de março de 1953, em Bom Jesus dos Passos, localidade próxima à Ilha dos Frades, Bahia. Iniciou sua carreira musical aos 14 anos. Passou a adolescência no Stiep, em Salvador, quando o bairro ainda era habitado pelos trabalhadores de petróleo. Seu avo Esmeraldo era muito conhecido no Recôncavo por tocar seu sax alto. No Nordeste de Amaralina participou do programa Calouros do Gustavo, realizado por um tenente reformado da polícia. E já participava do coral da professora Eva, do Colégio Manoel Devoto. Venceu um programa na TV Itapoan (Poder Jovem) e a partir daí, começou a compor com outros artistas.

Ele venceu com a música “Fim de Semana na Bahia”. Entre 1974 e 76 foi percussionista do Trio Elétrico de Dodô e Osmar que interpretou uma de suas primeiras composições, “Fazer” em 1974. Entre 1976 e 79, estudou com Smetak na Universidade de Música da UFBa. Fez curso técnico de composição e regência na Universidade Católica de Salvador. Por seu ecletismo musical (tocava guitarra baiana, harpa, violão, atabaque e agogó, além de ser capoeirista), foi convidado a integrar o Balé Brasileiro da Bahia, dirigido pela professora Emília Biancardi, excursionando pela Europa. Ao retornar, em 1980, partiu para carreira solo.

Incansável estudioso da salsa, soca, ritmo da Guiana Inglesa que se tornara muito popular na Bahia
após o corte das relações de Cuba e EUA, ele também se dedica profundamente à mitologia negra. Sua formação musical serve como força impulsora e transporta para os dias de hoje desses ritmos e melodias ancestrais. A fascinação que provoca a cultura negra fez do artista um defensor da identidade e conservação da memória de vida dos negros no Brasil, além de ser adepto da religião afro (candomblé). Utilizando recursos linguísticos do ioruba e até mesmo de dialetos indígenas do Brasil, Gerônimo constrói em suas letras versões sociológicas da cultura de seu povo.

Destaque do Trofeu Caymmi como Melhor Espetáculo, Melhor Intérprete, Melhor Arranjo, Melhor Composição (Marujada) e Melhor Banda no primeiro semestre de 1985.

DISCOS - “Página Musical”, seu primeiro disco gravado em 1983 pela gravadora Polygram teve como carro chefe a música “Cigarro Colomy” marcando o início de uma intensa produção musical. Seu segundo elepê, “Mensageiro da Alegria”. O segundo, através da Nova República, saiu em 1985.

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