No mundo da música pop, o penteado é
fundamental. As estrelas do rock passaram boa parte do tempo preocupando-se com
seus cabelos. Futilidade? Uma arma para cada época. Protesto. A história do
rock prova que o que está dentro das cabeças pensantes, de uma forma ou de
outra – ou de um penteado ou de outro -, acaba por se refletir do lado de fora.
Qual é o pente que te penteia? Nos anos 50, Bill Haley e Elvis atacavam de
pega-rapaz e topetes. Nos anos 60, cabelos grandes eram sinal de rebeldia.
Setenta apareceu arrepiando as cabeças de muitos rebeldes, os punks.
Nos violentos anos 80, os cabelos foram
lançados ao vento, e muitos optaram pelo corte black lateral de Vernon Reid, do
grupo Living Colour, e da estonteante Grace Jones. Outros preferiram os
extensos fios metálicos de Axl Rose, do Guns´n Roses e companhia.
O estilo elegante de Mick Hucknal (do
Simply Red) e suas trancinhas avermelhadas não passaram despercebidos. Ou mesmo
o inglês Jazzie B e seu look rastafari de longos cachos de cabelos trançados (dreadlocks),
presos ao alto, responsável pelo som da Soul 2 Soul. Se a questão é muito
cabelo, a irlandesa Sinéad O´Connor prefere o tipo careca, contrariando o look
de cabelos fartos dos anos 90. O teu cabelo não nega. O visual do final do
século XX resgata o culto às longas cabeleiras e, mais uma vez, elas têm a
força.
As variações sobre o cabelo são o tema
da canção de Jorge Benjor e Arnaldo Antunes que Gal Costa interpreta em um de
seus CDs. Diz a letra: “Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada/quem disse que
cabelo não sente/quem disse que cabelo não gosta de pente/cabelo quando cresce
é tempo/cabelo embaraçado é vento/cabelo vem lá de dentro//Cabelo é como
pensamento/quem pensa que cabelo é mato/quem pensa que cabelo é pasto/cabelo
com orgulho é crina/cilindros de espessura fina//Cabelo quer ficar pra
cima/laquê, fixador, gomalina/cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada/quem
quer a força de Sansão/quem quer a juba de leão/cabelo pode ser cortado//Cabelo
pode ser comprido/cabelo pode ser trançado/cabelo pode ser tingido/aparado ou
escovado//Descolorido, descabelado/cabelo pode ser bonito/cruzado, seco ou
molhado”.
Nos anos 50, os cabelos eram lambuzados
de brilhantina e ondulados com os “bem trabalhados” topetes. Numa América com
corte reco, estilo militar, aquilo era provocante, tanto quanto a música que o
acompanhava. Ambos passaram para a história. “É a minha marca registrada. Clark
Gable tem as orelhas, Jimy Durante tem o nariz, e eu tenho o pega-rapaz...”.
Era a marca de Bill Haley mantida à custa de toneladas de brilhantina. Ao
contrário de Gable ou Durante, o rosto rechochudo e limpo do “pai do
rock´n´roll” não tinha qualquer característica em especial, nada que o tornasse
identificável pelo público – a não ser a mecha de cabelo, caprichosamente desajeitada,
a cair na testa.
O reinado de Bill Haley e seus Cometas
espalhou-se pelo resto do mundo. Dois anos depois, com a sensualidade de seus
requebros, aparecia Elvis Presley, mais jovem e bonito que Haley. Elvis Presley
imortalizou o topete esculpido com gomalina e acompanhado por costeletas.
Presley copiou o penteado de Tony Curtis, que aparecia de topete no filme Almas
Abandonadas (1949). Depois de Elvis, um séqüito de seguidores, menos
expressivos como Pat Boone, Gene Vincent e Paul Anka.
Desde que Tony Curtis e Elvis Presley
puxaram seus topetes para a frente, em claro desafio, o cabelo
passou a ser um
estandarte da revolta jovem contra os padrões estabelecidos e, principalmente,
uma forma de demonstrar sensualidade. James Dean, com sua massa de cabelos
revoltos, lançou o look despenteado da juventude transviada.
Os alegres e ingênuos anos 50, fifties
ainda não acabaram. São os rockabillies da cidade que resistem armados com
jeans, topetes, jaquetas e muito rock. E não falta o cabelo gomalinado e óculos
“Ronaldo”. Cresce a tendência pelo revival anos 50. Primeiro foi a publicidade
a resgatar a imagem daqueles anos otimistas, quando o mundo era risonho e
franco no embalo da euforia desenvolvimentista de JK. Os rockabillies seguem à
risca os modelos de comportamento da época – o mesmo chiclete na boca e o mesmo
pente no bolso de trás do jeans surrado, que o tempo todo ajeita o topete
Depois dos topetes, que infestaram o
mundo, chegou a vez do corte de cabelo estilo Príncipe Valente, dos Beatles. Guiados
pela mão forte de Brian Epstein, os Quatro de Liverpool foram ao barbeiro e
voltaram para casa com um visual que influenciaram meio mundo, inclusive
famosos “rivais” como os Rolling Stones e The Who. A franjinha dos Beatles foi
criada em 1963 pela modelo alemã Astrid Kirchher, namorada do ex-integrante
Stuart Sutclifffe. O corte foi um dos diferenciais da banda que usava topetes.
Os Beatles dançaram, gritaram e provaram
que cabelos longos não significavam ideias curtas. A imagem agressiva e rebelde
dos Rolling Stones fez contraste com os bem-comportados Beatles. As pedras
começaram a rolar, enfrentando o sistema, a família e os bons modos. Se os
Beatles tinham cabelos compridos mas bem aparados, os Stones não gostavam de
cortar os cabelos, deixavam crescer à vontade. Rebeldia pouca é bobagem! Amanhã
vamos conhecer os cabelos da Jovem Guarda.
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