01 abril 2016

Manifestação cultural é a raiz do povo baiano



Quem conhece a Bahia e tem a oportunidade de presenciar suas manifestações culturais sabe como nosso Estado é rico. Berço da cultura brasileira, a Bahia recebeu as mais diversas influências, tornando-se um lugar único, onde cores, músicas, danças, folclore, história, lendas, crenças e vivências compõem a origem do povo baiano. Cada município, cada região possuem suas expressões culturais mais marcantes, e que quase sempre tem haver com a vida de fé e força da população nativa. Conhecer cada uma dessas revelações de cultura é o mesmo que mergulhar dentro de si mesmo, e o que é melhor, encontrar-se mais belo, criativo e encantador.
 
A festa do Bumba-meu-boi é uma tradição que se mantém desde o século XVIII. O enredo da festa resgata uma história típica das relações sociais e econômicas da região durante o período colonial, marcadas pela monocultura, criação extensiva de gado e escravidão. Em uma fazenda de gado, o escravo Francisco mata um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, a escrava Catirina, que deseja comer língua de boi. Quando descobre o sumiço do animal, o senhor fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Francisco a trazer o boi de volta. Pajés e curandeiros são convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre.

Na Bahia, esta manifestação cultural reina absoluta em quase toda parte do Estado. No entanto, Cachoeira, Camamu, Canavieiras, Conde, Cruz das Almas, Ibotirama, Juazeiro, Inhambupe, Jequié, Monte Santo, Santo Antônio de Jesus, São Félix, Prado, Jiquiriçá, Itacaré, Nova Viscosa e Porto Seguro são algumas das cidades que mais mantém viva esta que é uma das maiores heranças seculares da cultura popular baiana, onde um boi é a principal atração. O bailado, marcado por tambores, pandeiro, zabumba e maracás e entoado por cantigas, fazem o boi dançar freneticamente, esbanjando cores e vitalidade.
 
“SOU EU, SOU EU, SOU EU MACULELÊ, SOU EU...” - Outra grande expressão popular da cultura da Bahia é o maculelê. Trazida pelos africanos, esta dança era mais uma forma de luta contra os horrores da escravidão. Enquanto os negros dançavam com os cepos de cana no meio do canavial, cantavam músicas que evidenciavam o ódio ao cativeiro. Porém, eles as cantavam nos dialetos africanos para que os feitores não entendessem. O maculelê era uma maneira de esconder os perigos das porretadas desta dança. Aos golpes e investidas dos feitores, os negros se defendiam com largas cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas do agressor.

Além dos golpes, os escravos pulavam de um lado para o outro dificultando ainda mais que fossem pegos. Atualmente o maculelê é encenado com bastões de madeira. Essa dança de forte declaração dramática é praticada somente por homens que dançam em grupo, batendo os bastões no ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em linguagem popular ou em dialetos africanos. A área de maior incidência do maculelê é a região de Santo Amaro, onde a dança é realizada em homenagem ao dia de Nossa Senhora da Purificação, padroeira do município, bem como no mês de maio durante os festejos pela Abolição da Escravatura, uma tradição mantida há mais de 100 anos na cidade.
 
“XÔ XUÁ, CADA MACACO NO SEU GALHO...” - Mas, se Santo Amaro abriga o maculelê, também resguarda com igual beleza o samba de roda. Forma mais popular e autêntica do samba brasileiro, o samba de roda é tido como a primeira forma do samba atual, era dançado pelos escravos nas senzalas durante suas poucas horas de descanso.Tradição milenar do recôncavo baiano, esta forte expressão popular é parte visceral de municípios como Cipó, Candeias e Cachoeira durante os festejos juninos e da Boa Morte. Em São Félix, Muritiba, Conceição do Almeida e Santo Amaro, o samba de roda é destaque na festa de Nossa Senhora da Purificação. São Francisco do Conde, Feira de Santana, Itacaré e Conceição do Almeida celebram o samba de raiz na festa de 2 de Julho. Acompanhado por atabaques, ganzá, reco-reco, viola e violão, o solista entoa
cantigas, seguido em coro pelo grupo a dançar. Ligado também ao culto de orixás e caboclos, à capoeira e às comidas à base de dendê, o samba de roda teve início por volta de 1860, como forma de preservação da cultura dos negros africanos escravizados no Brasil.

A influência portuguesa, além da língua falada e cantada, fica por conta da introdução da viola e do pandeiro. Essa manifestação concorre ao título de Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Presente no trabalho de renomados compositores como Dorival Caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso, esse misto de música, dança, poesia e festa se revela de duas formas especiais: o samba chula e o samba corrido. A chula, uma forma de poesia, é declamada pelo solista enquanto o grupo escuta atento, só se rendendo aos encantos da dança após o término do pronunciamento, quando um participante por vez adentra o meio da roda ao som da batucada regida por palmas. Já no corrido, o samba toma conta da roda ao mesmo tempo em que dois solistas e o coral se alternam no canto.

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