Para muitos críticos, o vilão clássico desapareceu do cinema nos últimos 40 anos, para dar lugar a personagens ambíguos. O ator Gerard Depardieu teve uma experiência n a pele ao desenvolver uma máquina que permite entrar no cérebro de um perigoso psicopata. Mas acaba descobrindo que sua vida está em perigo quando sua própria mente e corpo são transferidos, durante a experiência, para o criminoso. O filme é “Memórias do Mal”, de François Dupeyron. Outro filme, “O Poder da Sedução”, de John Dahl onde a atriz Linda Fiorentino fez o personagem de uma mulher fatal, sem pudor e sexy que dá o golpe no marido, seduz um interiorano e faz com que ele tome parte num crime. Tudo isso usando a mais antiga arma feminina de que se tem notícia.
E o Coringa de Jack Nicholson que roubou o filme do Homem Morcego? No terceiro episódio, Batman vem acompanhado de Robin para enfrentar dois vilões: o príncipe dos enigmas, Charada e o Duas Caras. Jimmy Carrey e Tommy Lee Jones dão um banho de interpretação e movimentam “Batman Eternamente”. Já a atriz Kathleen Turner é uma dona de casa prefeita na comédia “Mamãe é de Morte”, apenas gosta de assassinar pessoas. O cineasta John Waters, brincando, destruiu todos os valores politicamente corretos da classe média e realizou uma obra-prima do humor. Outro exemplo de malignidade é “Kika”, de Pedro Almodóvar. O cineasta cutuca fundo as convenções sociais, sempre de maneira “politicamente incorreta”, com Victoria Abril no papel principal.
Um dos nomes mais respeitados na indústria cinematográfica, o veterano Gene Hackman vive Herod, o senhor absoluto de uma cidade chamada Redemption no filme de Sam Raimi, “Rápida e Mortal”, onde duela com Sharon Stone. Hackman diz que “já fiz papéis de vilão,.mas este não é tão completamente mau. O desafio para mim foi tentar faze-lo parecer humano, o que o deixou ainda mais malvado, sob muitos aspectos. Você pode interpretar um monstro mas, se não colocar um traço humano, será só um esforço para atuar bem. Quando você decide colocar humanidade no personagem para convencer o público de que realmente pode haver gente assim, então acho que é um trabalho de artista”.
Os norte-americanos têm verdadeira fascinação por criminosos. Basta observar a lista de filmes e livros sobre serial killers (assassinos em série). Um bom exemplo desse fascínio é a obra de Oliver Stone, “Assassinos por Natureza”, onde um casal de serial killers enfileira 52 vítimas em três meses de estrada, vira celebridade graças à mídia. Isso sem falar no culto a Freddy Krueger, o demônio de garras de aço, ou Jason Vorhees da série Sexta-Feira, Leatherface, o assassino da serra-elétrica, entre outros. Até mesmo Macauley Culkin, tido como a criança número um da América teve seu dia de demônio. Quem vê a cara do anjinho não imagina o perigo do capeta que mora dentro do menino no filme “O Anjo Malvado”. O filme de Joseph Rubem mostra basicamente o quão cruel uma criança pode ser, contrariando a crença popular na ingenuidade infantil.
A TV traz altos índices de malignidade. Os atores Beatriz Segall e Antonio Fagundes permanecem na memória dos brasileiros como a Odete Roittman de “Vale Tudo” e o Felipe Barreto de “O Dono do Mundo”, duas novelas de sucesso. “O mal seduz porque ousa e rompe barreiras”, avalia Fagundes. “Sem a sedução, o mal decididamente não funciona”, confirma Beatriz. Diabólico ao encarnar Felipe Barreto, Antônio Fagundes acha que a maldade seduz porque rompe os limites, “como vemos desde a Bíblia. O Filho Pródigo não foi assim? Ele foi embora, gastou dinheiro com prostitutas, rompeu com tudo, mas voltou e tudo superou”.
A arquivilã de “Vale Tudo” Odete Roitman fascina o público. Beatriz Segall tem uma interpretação para a personagem criada por Gilberto Braga: “Foi ele quem denunciou, pela primeira vez, a corrupção em alta escala, quem abriu os olhos do público e o alertou antes que estourasse os escândalos do PC e Collor, ou da Máfia do Orçamento”. A mesma “Vale Tudo” foi marcada por outro grande personagem mau: a Maria de Fátima, de Glória Pires. A atriz diz que ela é a sua megera inesquecível: “É muito mais divertido fazer vilões porque eles não têm o comportamento que o público exige. Mas o importante é que a Maria de Fátima era uma personagem muito bem estruturada”. Com a experiência de quem é o maior vilão do cinema nacional, o ator José Lewgoy tem uma teoria muito simples para o amor do público pelos maus: “Os mocinhos não têm graça nenhuma, só são bonitinhos. Os vilões têm mais charme”.
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