Samba Rap - SSA Bahia Lyrics (Olodum)
Nas esquinas do país
O mundo pode ver
Que tem gente abandonada ê
De fome vai morrer
Os erros acontecem
E nada se acerta
Época de eleição
La vem os falsos profetas
Ser idoso no Brasil
É motivo de castigo
Semore ganha como premio
Uma vaga nos abrigos
Trabalha a vida inteira
Pra se aposentar
O salario que recebem
Mal da pra se alimentar
Preconceitos continuam na sociedade
Pois quem tem dinheiro
Compra tudo com facilidade
O negro nos programas de televisão
Quando não e domestico
só pode ser vilão
fala nega
abre a boca negão
thup thu tererê
Sem transporte
Sem saúde
E sem educação
Com o povo vai fazer
Para ganhar o pão
Enquanto filhos d políticos
Estudam na Europa
Os iludidos ficam aqui
Comemorando a copa
No congresso nacional
Ja não existe razão
Gente rica em liberdade
Feliz por ser um anão
E você preste atenção
E leve fé no que eu digo
Ladrão no meu país
Só anda bem vestido.
O Guardador de Rebanhos (Fernando Pessoa)
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr do Sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
É se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me veem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
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