01 outubro 2010

Música & Poesia

Samba Rap - SSA Bahia Lyrics (Olodum)


Nas esquinas do país

O mundo pode ver

Que tem gente abandonada ê

De fome vai morrer


Os erros acontecem

E nada se acerta

Época de eleição

La vem os falsos profetas


Ser idoso no Brasil

É motivo de castigo

Semore ganha como premio

Uma vaga nos abrigos


Trabalha a vida inteira

Pra se aposentar

O salario que recebem

Mal da pra se alimentar


Preconceitos continuam na sociedade

Pois quem tem dinheiro

Compra tudo com facilidade

O negro nos programas de televisão


Quando não e domestico

só pode ser vilão


fala nega

abre a boca negão

thup thu tererê


Sem transporte

Sem saúde

E sem educação

Com o povo vai fazer


Para ganhar o pão

Enquanto filhos d políticos

Estudam na Europa

Os iludidos ficam aqui


Comemorando a copa

No congresso nacional

Ja não existe razão

Gente rica em liberdade


Feliz por ser um anão

E você preste atenção

E leve fé no que eu digo

Ladrão no meu país

Só anda bem vestido.


O Guardador de Rebanhos (Fernando Pessoa)


Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas eu fico triste como um pôr do Sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo da planície

É se sente a noite entrada

Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego

Porque é natural e justa

E é o que deve estar na alma

Quando já pensa que existe

E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos

Para além da curva da estrada,

Os meus pensamentos são contentes.

Só tenho pena de saber que eles são contentes,

Porque, se o não soubesse,

Em vez de serem contentes e tristes,

Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva

Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos

Ser poeta não é uma ambição minha

É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes

Por imaginar, ser cordeirinho

(Ou ser o rebanho todo

Para andar espalhado por toda a encosta

A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol,

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz

E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos

Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,

Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,

Sinto um cajado nas mãos

E vejo um recorte de mim

No cimo dum outeiro,

Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,

Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,

E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz

E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,

Tirando-lhes o chapéu largo

Quando me veem à minha porta

Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.

Saúdo-os e desejo-lhes sol,

E chuva, quando a chuva é precisa,

E que as suas casas tenham

Ao pé duma janela aberta

Uma cadeira predilecta

Onde se sentem, lendo os meus versos.

E ao lerem os meus versos pensem

Que sou qualquer cousa natural —

Por exemplo, a árvore antiga

À sombra da qual quando crianças

Se sentavam com um baque, cansados de brincar,

E limpavam o suor da testa quente

Com a manga do bibe riscado.

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