12 agosto 2010

Música & Poesia para o final de semana

Pelo Sabor do Gesto (Alex Beaupain/ Versão: Zélia Duncan)

(A-tu déjà aimé?)

Quem já tocou o amor pelo sabor do gesto?

Sentiu na boca o som? Mordeu fundo a maçã?

Na casca, a vida vem tão doce e tão modesta

Quem se perdeu de si?


Eu já toquei o amor pelo sabor do gesto

Confesso que perdi, me diz quantos se vão?

Paixões passam por mim, amores que têm pressa

Vão se perder em si


Se o amor durou demais, bebeu nas suas veias

Seus beijos de mentira não chegam muito longe

Paixões correm por mim, são só suaves febres

Seus beijos mais gentis derretem pela neve

Pra que tocar o amor pelo sabor do gesto

Se o gosto da maçã vem sempre indigesto?

Amarga essa canção, os dias e o resto

Se perde como um grão


Mas se eu ousar amar pelo sabor do gesto

Te empresto da maçã, vai junto o coração

Esquece o que eu não fiz

Te sirvo o bom da festa

De um jeito mais feliz


Paixões correm por mim, eu sei tudo de cor

carinho sem querer me cansa e me dói


Se o amor vem pra ficar, faz tudo mais bonito

Me basta ter na mão e o corpo tem razão




No caminho com Maiakóvski (Eduardo Alves da Costa)


Assim como a criança

humildemente afaga

a imagem do herói,

assim me aproximo de ti, Maiakósvki.

Não importa o que me possa acontecer

por andar ombro a ombro

com um poeta soviético.

Lendo teus versos,

aprendi a ter coragem.


Tu sabes,

conheces melhor do que eu

a velha história.

Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho e nossa casa,

rouba-nos a luz e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada.


Nos dias que correm

a ninguém é dado

repousar a cabeça

alheia ao terror.

Os humildes baixam a cerviz:

e nós, que não temos pacto algum

com os senhores do mundo,

por temor nos calamos.

No silêncio de meu quarto

a ousadia me afogueia as faces

e eu fantasio um levante;

mas amanhã,

diante do juiz,

talvez meus lábios

calem a verdade

como um foco de germes

capaz de me destruir.


Olho ao redor

e o que vejo

e acabo por repetir

são mentiras.

Mal sabe a criança dizer mãe

e a propaganda lhe destrói a consciência.

A mim, quase me arrastam

pela gola do paletó

à porta do templo

e me pedem que aguarde

até que a Democracia

se digne aparecer no balcão.

Mas eu sei,

porque não estou amedrontado

a ponto de cegar, que ela tem uma espada

a lhe espetar as costelas

e o riso que nos mostra

é uma tênue cortina

lançada sobre os arsenais.


Vamos ao campo

e não os vemos ao nosso lado,

no plantio.

Mas no tempo da colheita

lá estão

e acabam por nos roubar

até o último grão de trigo.

Dizem-nos que de nós emana o poder

mas sempre o temos contra nós.

Dizem-nos que é preciso

defender nossos lares,

mas se nos rebelamos contra a opressão

é sobre nós que marcham os soldados.


E por temor eu me calo.

Por temor, aceito a condição

de falso democrata

e rotulo meus gestos

com a palavra liberdade,

procurando, num sorriso,

esconder minha dor

diante de meus superiores.

Mas dentro de mim,

com a potência de um milhão de vozes,

o coração grita - MENTIRA!

*

Quando os nazistas levaram os comunistas,

eu calei-me,

porque, afinal,

eu não era comunista.

Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me,

porque, afinal,

eu não era social-democrata.

Quando eles levaram os sindicalistas,

eu não protestei,

porque, afinal,

eu não era sindicalista.

Quando levaram os judeus,

eu não protestei,

porque, afinal,

eu não era judeu.

Quando eles me levaram,

não havia mais quem protestasse.

(Martin Niemoller, pastor luterano alemão)

*

Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht (teatrólogo e poeta alemão)

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Um comentário:

Anônimo disse...

Anonimo ..Disse...
Que blog mas sem conteudo.