12 agosto 2010

Manoel Tranquilino Bastos: o semeador de orquestras

Há 160 anos nascia no município baiano de Cachoeira, um gênio da música: Manoel Tranquilino Bastos. Este exímio clarinetista e compositor do século XIX foi um dos mais talentosos e produtivos da sua época. Nascido em 8 de outubro de 1850 da união de um português e de uma negra alforriada, ainda menino, Tranquilino aprendeu a tocar clarineta e se incorporou ao Coro de Santa Cecília, a padroeira dos músicos, mais tarde, passou a compor a Banda Marcial São Benedito, formada basicamente por músicos negros.


Segundo documentos escritos pelo próprio compositor, já aos 14 anos de idade, ele tocava clarineta profissionalmente em bandas em diversos eventos musicais que aconteciam em sua cidade natal. Tranquilino foi clarinetista, compositor, arranjador, professor e regente, tendo se envolvido ainda na fundação e atuação de diversas filarmônicas na região do Recôncavo baiano.


Tranquilino foi um autodidata em sua formação musical, aprendendo um pouco daqui, um pouco dali, como ele mesmo descreve em sua autobiografia: “Aprendi as principais noções de música sem mestre efetivo, mendiguei de uns e outros práticas... Caindo, levantando e ferido por mil espinhos consegui tocar clarineta, saxofone e flauta”. A formação musical de Tranquilino foi um misto de influências da cultura musical europeia, em particular da Itália, França e Alemanha, mas, principalmente das culturas italiana e francesa.


TRANSPÔS OS LIMITES - O talento do maestro transpôs os limites do Brasil, chegando à Alemanha e França, onde suas composições eram aplaudidas de pé e onde ele fora homenageado. Autor, juntamente com o poeta Sabino de Campos, do Hino da Cidade de Cachoeira, Tranquilino deixou, além de sua obra, o exemplo de amor à cultura musical, que a Lira Ceciliana mantém com o projeto Semente de Sonhos, voltado para ensinar música gratuitamente às crianças.


O músico cachoeirano foi representante na Bahia de fábricas francesas der instrumentos musicais, da Casa Sax do inventor do saxofone Adolf Sax e da casa franco-britânica Besson. Ele serviu de intermediário na compra de instrumentos musicais para diversas bandas do recôncavo baiano, além de orientar os fabricantes de tais instrumentos sobre as características de cada instrumento deveria ter para que obtivessem bons resultados sonoros e durabilidade no clima tropical. Dezenas de cartas trocadas entre Tranquilino Bastos e Adolf Sax narram essa relação.

Exímio clarinetista e compositor baiano do século XIX

MÚSICA E LIBERDADE - No Recôncavo baiano ele era chamado de “O Maestro da Abolição”, pois estava sempre à frente dos movimentos a favor da libertação dos escravos, compondo músicas como o “Hino Abolicionista”, “Airosa Passeata” (uma das composições mais conhecidas e executadas pelas filarmônicas da Bahia), além de outras, sendo esta última, uma peça que retratava o momento histórico em que Tranquilino sai às ruas de Cachoeira na noite de 13 de maio de 1888 à frente da Lyra Ceciliana (Filarmônica fundada por ele em 1870 com o nome de Euterpe Ceciliana) arrastando mais de 2 mil pessoas, a maioria negros recém-libertados, comemorando a assinatura da Lei Áurea. Ele também fundou, em 1877, a Sociedade Espírita Cachoeirana, a primeira da cidade.


Tranquilino talvez seja o primeiro compositor de banda a escrever música de câmara da Bahia. Não se tem conhecimento até agora de nenhum outro, mesmo porque não era de praxe Mestres de Banda escrever peças camerísticas, colocando assim, Tranquilino como uma das exceções. Ele teve dez filho, tendo três se tornado músicos, perpetuando o seu belo legado musical e humano. Dono de uma produção musical extensa que abrange 295 dobrados, 150 marchas festivas, 50 marchas fúnebres e 205 fragmentos de ópera transcritos para banda marcial, além de valsas e peças sacras, Tranquilino escreveu mais de 120 cronicas e artigos para jornais e revistas e deixou uma série de manuscritos e diários, além de cadernos de música e partituras.


Um dos maiores conhecedores da vida e obra de Tranquilino, o professor e estudante de regência da Escola de Música José Alípio Martins conta que se apaixonou pela trajetória do regente ao participar através da Universidade Federal da Bahia (UFBA), de um projeto sobre a música de Cachoeira: “Fui descobrindo aos poucos o trabalho do maestro e vi que se tratava de uma pessoa especial”. Há pelo menos 20 anos encontra-se no Setor de Obras Raras da Biblioteca Pública do Estado da Bahia um acervo de manuscritos, autógrafos e impressos musicais pertencentes ao maestro Manoel Tranquilino.

--------------------------------------------------

Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Um comentário:

derblay de almeida disse...

PREZADO JORNALISTA GUTEMBERG, O MAESTRO MANOEL TRANQUILINO BASTOS É MEU TIO-AVÔ. ENTÃO, EU GOSTARIA DE AGENDAR COM V.Sª UMA ENTREVISTA PARA A REDE BOA VONTADE DE TV E SUPER REDE BOA VONTADE DE RÁDIO. NORMALMENTE OS PROGRAMAS DO GÊNERO SÃO GRAVADOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO - AV. MAL. FLORIANO, 114-15º ANDAR - CENTRO-RJ. ONDE FUNCIONA A SUPER RÁDIO BRASIL Am 940. ASSIM, ESTÁ FEITO O CONVITE E AGUARDO RESPOSTA DO ILUSTRE JORNALISTA. MEU NOME: DERBLAY DE ALMEIDA. TELS. (21) 2216 7800 e CELULAR (21) 97367671