Ele é ariano nascido e criado no bairro da
Garibaldi, perto do terreiro de Mãe Menininha de Gantois que foi amiga de sua
avó materna. Assim, desde criança ele ficava ouvindo os cânticos do candomblé.
Com o tempo já estava na roda de samba, cantando. Foi o samba que lhe deu base
rítmica desenvolvido nos redutos como as agremiações Cacique do Garcia e Bafo
de Jegue. Ele participou ainda de grupos folclóricos dos colégios ICEIA e
Severino Vieira. Das rodas do Garcia ele foi levado à grande inovação baiana
dos anos 70, o Ilê Aiyê, do qual fez parte entre 1979 e 1980. Estamos falando
de uma das melhores vozes masculinas da Bahia: Lazzo Matumbi. Conhecido pelas
interpretações carregadas de swing e lamento, o cantor é um dos ícones do
reggae brasileiro.
“Ôôô/Vem correndo me abraça e me beija/Vem
ver, chamar chamar/Vem provar do meu encanto/Vem dizer que eu não fui santo
nenén/Onda do mar me levou/E eu resisti//ôôô/Vem correndo me abraça e me
beija/Vem me dar, todo o chamego//Vem vem dia 20 de novembro/Se todo dia é
santo neném/Onda do mar me levou/Me levou, mas hoje estou aqui/Onda do mar me
levou/E eu resisti” (Me abraça e me beija)
Em maio de1980 no antológico show de
Gilberto Gil e Jimmy Cliff, onde eu era, na época, editor do caderno de cultura
do jornal Correio da Bahia e fazia a cobertura,. Lazzo estava presente e ficou
arrebatado pela batida do reggae e da força de sua mensagem política. No ano
seguinte ele fazia sua estréia solo: “Luz no escuro”, primeiro show de reggae
depois de Gil e Cliff.
A primeira música que gravou foi “Salve a
Jamaica” (Raí). Em 1983 lançou “Viver, sentir e amar” com a autoral “Do jeito
que seu nego gosta”, um dos seus maiores sucessos. Dois anos depois, em São
Paulo, vem “Filho da terra”. Nos anos 90 ele lançou dois discos: Arte de Viver
(1990) e Nada de Graça (1999) onde registrou músicas como “Alegria da cidade”
(parceria com Jorge Portugal) e “Coração rastafari” (Djalma Luz) ou imprimindo
sua releitura para “Gostava tanto de você” (Édson Trindade), “A tonga da
milonga do kabuletê” (Toquinho e Vinícius) e “Charlie Brown” (Benito Di Paula).
Depois vieram outros sucessos marcantes como “Me abraça e me beija” e
“Abolição” (parceria com Capinan).
“Tomara, tomara que a chuva/Tomara que a chuva
caia logo/Pra molhar você/Pingo de estrela cai do céu azul/Do jeito que seu
nego gosta/O jeito molhado do seu corpo nú/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito
que seu nego gosta/Te ver brilhando em meu olhar/Do jeito que seu nego gosta/E
te amando peço seu cantar/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu nego
gosta/Do jeito que seu nego gosta/Cortando espaço de norte à sul/Do jeito que
seu nego gosta/Gotas de mel no seu sorriso blue/Do jeito que seu nego gosta/Do
jeito que seu nego gosta/Te ver brilhando em meu olhar/Do jeito que seu nego
gosta/E te amando peço seu cantar/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito que seu
nego gosta/Do jeito que seu nego gosta/Cortando espaço de norte à sul/Do jeito
que seu nego gosta/O jeito molhado do seu corpo nú/Do jeito que seu nego
gosta/Do jeito que seu nego gosta/Te ver brilhando em meu olhar/Do jeito que
seu nego gosta/E te amando peço seu cantar/Do jeito que seu nego gosta/Do jeito
que seu nego gosta” (Do jeito que seu nego gosta)
Entre as várias experiências sem sua
trajetória se destaca a turnê ao lado de Jimmy Cliff, dez anos depois daquele
show da Fonte Nova que foi fundamental para suas convicções político musicais.
Foram três anos de 50 apresentações de abertura para o jamaicano, passando pela
Europa, Estados Unidos e Ásia, visitando países como a Jamaica e o Senegal, e
conhecendo personalidades como Youssou N´Dour e Salif Keita.
Em maio de 2006 ele comemorou seus 25anos
de careira com show no Teatro Vila Velha. Teve uma época que o artista montou
um bloco sem cordas, o Coração Rastafari, com grande participação popular.
Lazzo trocou o abadá por três quilos de alimentos para distribuir com entidades
assistenciais. Por causa dessa ação social, foi muito criticado. “A Bahia e o
Brasil são ingratos porque valorizam muito mais o que vem de fora do que o que
se produz aqui dentro”, disse em uma entrevista.
“Do horizonte vai rasante o meu grito, vai
encontrar/aquele negro bonito/Que transava bem o corpo e o espírito, possuído
de/amor e conflito/No seu rosto sempre viam sorrindo/ôooo/No teu corpo moço,
moço... onde a paz fez abrigo/Foi no teu corpo moço, moço, moço onde a paz
fez/abrigo/Sempre amava a mother negra Jamaica/Era um pedaço da nossa mãe
África/Ele queria igualdade entre as raças/E batalhava nos palcos de praças/Cantando
reggae/Ele era o seu povo rasta/Falando a dor que fere a negra e oprimida
raça/A muita gente que não tem cidade/Ele deixou amor, tristeza e saudades/E
uma voz que floresce e invade e fortalece o grito de/liberdade/Liberdade, eu
grito, eu grito Liberdade/Grito aflito, eu grito ao meu coração
Rastafari/Liberdade, eu grito Liberdade... (Coração rastafari)
Foi no show de estreia Luz no Escuro, no
Vila Velha que Baby Santiago, outra grande voz, desta vez da rádio baiana,
chamou Lazzo para produzir um disco e perguntou-lhe seu nome. Na época seu nome
artístico era Lazinho Diamante Negro. Depois, por causa do Ilê, Lazinho do Ilê.
E Baby sugeriu Lazzo com dois zes e Matumbi, que segundo ele era uma pedra
sagrada da Nigéria. O nome ficou.
“A minha pele de ébano é.../a minha alma
nua/espalhando a luz do sol/espelhando a luz da lua (2x)//Tem a plumagem da
noite/e a liberdade da rua/minha pele é linguagem/e a leitura é toda sua//Será
que você não viu/não entendeu o meu toque/no coração da América eu sou o jazz,
sou o rock//Eu sou parte de você, mesmo que você me negue/na beleza do afroxé,
ou no balanço no reggae//Eu sou o sol da Jamaica/sou a cor da Bahia/eu sou você
e você não sabia//Liberdade Curuzu, Harlem, Palmares, Soweto//Nosso céu é todo
blues e o mundo é um grande gueto//Apesar de tanto não/ tanta dor que nos
invade, somos nós a alegria da cidade/apesar de tanto não/tanta marginalidade,
somos nós a alegria da cidade (2x)” (Alegria da Cidade)
“Duas coisas me enchem o saco. Uma é as
pessoas ficarem o tempo todo dizendo que ´você canta pra caramba´, mas não me
dão a oportunidade de cantar. Isso é de uma demagogia que é bem a cara da nossa
cidade, do nosso país. Eu adoro você, mas não lhe dou emprego. Acho você um
profissional maravilhoso, mas não lhe chamo para fazer nada. Outra, é quando eu
vou visitar um amigo, tô querendo curtir a amizade dele, o momento, e aí vem
alguém e pede pra que eu cante uma música. Isso é uma coisa que me aborrece e
algumas pessoas ainda dizem: ´esse cara é cheio de pose´. Outro dia eu
perguntei a um advogado amigo meu se ele podia bater uma petição, depois que
ele me pediu pra cantar. Ele pulou fora...”, disse Lazzo em uma das entrevistas
que deu. Verdadeiro!
"Passar quarenta anos, e não se
corromper, fazer música de qualidade, com compromisso, músicas que passado todo
esse tempo todo mundo canta até hoje, é uma 'responsa' que eu tenho, e que eu
preciso devolver ao meu público" disse em uma entrevista ao jornal
Correio.
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