“Não
existe hora certa, existe o meu relógio,/Lembrando sempre com seu tic-tac/Que
há vida/Para ser vivida,/Que houve a vida/Que não se viveu./Não importa que o
rádio renitente ruja/São tal hora e tal minuto,/Hora oficial,/Afinal,/Que há de
oficial em minha vida?” (O meu tempo, Ildásio Tavares)
Há 80 anos, dia 25 de janeiro, nascia
Ildásio Tavares. Poeta, romancista, novelista, dramaturgo, ensaísta, tradutor, compositor,
Ildásio Tavares (1940 – 2010) pertenceu à geração da Revista Bahia, ao lado de
Cyro de Mattos, Marcos Santarrita, José Carlos Capinam, Ruy Espinheira Filho e
tantos outros.
Ildásio Marques Tavares nasceu na fazenda
São Carlos, atual município de Gongogi, região cacaueira da Bahia, no dia 25 de
janeiro de 1940, filho de Eduardo Tavares dos Santos e Hilda Marques Tavares.
Estudou em Salvador, onde se formou em Direito, e em Letras pela Universidade
Federal da Bahia. Fez mestrado na Southern Illinois University, dos Estados
Unidos, doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutorado na
Universidade de Lisboa.
Publicou artigos de filosofia, cotos,
poemas e traduções em revistas da Bahia, Rio e São Paulo. Pouco tempo depois
ampliou sua colaboração a Minas Gerais, Pernambuco e Portugal. Seu primeiro
livro de poesia, Somente um Canto, foi publicado em 1968 e a esse seguiram
outros, de poesia e em prosa: romances, teatro e ensaios.
Entre os livros publicados estão Imago,
Ditado, O canto do homem cotidiano, Tapete do tempo, Poemas seletos, Livro de
salmos, IX Sonetos da Inconfidência, Lídia de Oxum, O amor é um pássaro
selvagem, O domador de mulheres, A arte de traduzir... entre outros. É
ganhador, entre tantos prêmios, do Leonard Ross Klein, de tradução; do Afrânio
Peixoto, de ensaio; do Fernando Chinaglia, de poesia; e do prêmio nacional do
centenário de Jorge de Lima.
Seu trabalho como jornalista compreende
participação em vários periódicos, entre os quais, Diário de Notícias, Jornal
da Cidade, A Tarde e Tribuna da Bahia. Membro praticante do candomblé, foi
consagrado Ogan Omi L’arê, na casa de Oxum, e Obá Arê, na casa de Xangô e no
Axé Opô Afonjá. Como compositor teve 46
músicas gravadas por Vinícius de Moraes, Maria Bethania, Alcione, Toquinho,
Nelson Gonçalves e Maria Creusa.
Também foi autor da ópera Lídia de
Oxum.com música de Lindembergue Cardoso,
regida por Júlio Medaglia, levada às margens da Lagoa do Abaeté, em
Salvador, para um público de aproximadamente 30 mil espectadores. Depois, foi
apresentada em diversos palcos brasileiros. Tradutor e professor de Inglês,
durante quase vinte anos, serviu-se dessa experiência para o seu livro A Arte
de Traduzir. Faleceu no dia 31 de outubro de 2010, aos 70 anos, em razão de um
grave acidente vascular cerebral, que resultou em falência múltipla dos órgãos.
Grande perda. No meu livro Gente da Bahia, publicado em 1997, selecionei 100
personalidades baianas, incluindo Ildásio Tavares.
Restos
(Ildásio Tavares)
Há um resto de noite pela rua
Que se dissolve em bruma e madrugada.
Há um resto de tédio inevitável
Que se evola na tênue antemanhã.
Há um resto de sonho em cada passo
Que antes de ser se foi, já não existe.
Há um resto de ontem nas calçadas
Que foi dia de festa e fantasia.
Há um resto de mim em toda parte
Que nunca pude ser inteiramente.
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