Um novo tipo de antropologia, totalmente
revolucionária, iluminada, numa época dde trevas, o regime militar. Carnavais,
Malandros e Heróis, do antropólogo Roberto da Matta, 40 anos depois, continua
atual. Trata da festa carnavalesca, da malandragem, do clientelismo e do
autoritarismo embutido naquela velha
pergunta “você sabe com quem está falando?”.
Carnavais, malandros e heróis completou 40
anos de sua primeira publicação. A obra questiona: por que desrespeitamos tanto
as regras enquanto clamamos por elas? No estudo do antropólogo é mostrado que
seguimos uma determinada organização social, no entanto, sempre buscando certos
privilégios. Roberto conta que surgiu dessa analise a expressão 'sabe com quem
você está falando?'.
A obra mostra o dilema entre os aspectos
extremamente autoritários, hierarquizados e violentos da sociedade brasileira e
a busca de um mundo harmônico, democrático e não conflitivo nesta mesma
sociedade. O lado autoritário e hierarquizado da sociedade brasileira tem três
dimensões distintas. Uma é a existência de uma ordem formal, baseada em
posições de status e prestígio social bem definidos, onde não existem conflitos
e onde “cada um sabe o seu lugar”.
A outra é a existência de uma oposição
sistemática entre o mundo das “pessoas”, socialmente reconhecidas em seus
direitos e privilégios, e um universo igualitário dos indivíduos, onde as leis
impessoais funcionam como instrumentos de opressão e de controle (“para os
amigos, tudo; para os inimigos, a lei”).
A terceira é o mundo do sagrado, onde se
opera uma suposta equalização da sociedade, mas ao mesmo tempo são mantidas
estruturas claramente hierárquicas de santidade. Estes sistemas hierarquizados
operam uma dissociação entre dois mundos ideais na mitologia brasileira: o
mundo da casa, onde as pessoas valem pelo que são, onde reina a paz e a
harmonia, e o mundo da rua, onde os indivíduos “lutam pela vida” em uma batalha
impiedosa e anônima. Nesta batalha, as principais armas são, alternativamente,
a afirmação dos privilégios de status das pessoas das classes dominantes (“você
sabe com quem está falando?”) e a redução dos indivíduos às leis impiedosas do
mercado e da burocracia.
Carnavais, malandros e heróis" de
Roberto da Matta (Rocco) é um marco da Antropologia e Ciências Sociais. A obra
foi progressivamente tornando-se referência uma referência, indispensável para
quem quer compreender o país e em particular, o fenômeno do carnaval, deste que
é o autor mais citado nas produções acadêmicas brasileiras.
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