21 janeiro 2020

Obra revolucionária: Carnavais, malandros e heróis


Um novo tipo de antropologia, totalmente revolucionária, iluminada, numa época dde trevas, o regime militar. Carnavais, Malandros e Heróis, do antropólogo Roberto da Matta, 40 anos depois, continua atual. Trata da festa carnavalesca, da malandragem, do clientelismo e do autoritarismo embutido naquela  velha pergunta “você sabe com quem está falando?”.



Carnavais, malandros e heróis completou 40 anos de sua primeira publicação. A obra questiona: por que desrespeitamos tanto as regras enquanto clamamos por elas? No estudo do antropólogo é mostrado que seguimos uma determinada organização social, no entanto, sempre buscando certos privilégios. Roberto conta que surgiu dessa analise a expressão 'sabe com quem você está falando?'.




A obra mostra o dilema entre os aspectos extremamente autoritários, hierarquizados e violentos da sociedade brasileira e a busca de um mundo harmônico, democrático e não conflitivo nesta mesma sociedade. O lado autoritário e hierarquizado da sociedade brasileira tem três dimensões distintas. Uma é a existência de uma ordem formal, baseada em posições de status e prestígio social bem definidos, onde não existem conflitos e onde “cada um sabe o seu lugar”.



A outra é a existência de uma oposição sistemática entre o mundo das “pessoas”, socialmente reconhecidas em seus direitos e privilégios, e um universo igualitário dos indivíduos, onde as leis impessoais funcionam como instrumentos de opressão e de controle (“para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”).




A terceira é o mundo do sagrado, onde se opera uma suposta equalização da sociedade, mas ao mesmo tempo são mantidas estruturas claramente hierárquicas de santidade. Estes sistemas hierarquizados operam uma dissociação entre dois mundos ideais na mitologia brasileira: o mundo da casa, onde as pessoas valem pelo que são, onde reina a paz e a harmonia, e o mundo da rua, onde os indivíduos “lutam pela vida” em uma batalha impiedosa e anônima. Nesta batalha, as principais armas são, alternativamente, a afirmação dos privilégios de status das pessoas das classes dominantes (“você sabe com quem está falando?”) e a redução dos indivíduos às leis impiedosas do mercado e da burocracia.



Carnavais, malandros e heróis" de Roberto da Matta (Rocco) é um marco da Antropologia e Ciências Sociais. A obra foi progressivamente tornando-se referência uma referência, indispensável para quem quer compreender o país e em particular, o fenômeno do carnaval, deste que é o autor mais citado nas produções acadêmicas brasileiras.


Nenhum comentário: