Há 110 anos (dia 28 de janeiro de 2010)
morria Angelo Agostini (1843/1910) o mais importante artista gráfico do Segundo
Reinado. Colaborou tanto com desenhos quanto com textos com as publicações O
Mosquito, Vida Fluminense, Revista Ilustrada, Don Quixote, O Tico Tico, O
Malho, Gazeta de Notícias, entre outros. Publicou, a 30 de Janeiro de 1869,
Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte, considerada a primeira história
em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo. Mais tarde publica
outro personagem, Zé Caipora. Seu nome serviu de inspiração ao Prêmio Angelo
Agostini, concedido anualmente pela Associação de Quadrinistas e Caricaturistas
de São Paulo aos melhores do ramo e para a criação do Dia do Quadrinho
Nacional. Agostini esteve à frente de sua época, criou um estilo, influenciou e
tornou a caricatura, a sátira política e os quadrinhos parte de nossa nascente
imprensa.
Quando se investiga a origem das histórias
em quadrinhos no Brasil o principal nome é de Angelo Agostini (08/04/1843,
Vercelli/Itália, 23/01/1910, Rio de Janeiro). italiano de nascimento, mas
brasileiro por escolha. Artista gráfico, pintor e critico de arte, Agostini
trabalhou com os quadrinhos e com as caricaturas, que tinham como alvo os
políticos do Segundo Império e da futura República. Nhô-Quim, um caipira que
vive inúmeras aventuras cômicas na capital do Império é o nosso legítimo
personagem nacional.
Publicada na revista Vida Fluminense,
essas histórias não apresentavam os famosos balões de diálogos e o texto
narrativo era bastante simples e convencional. Porém, Agostini tinha um traço
elegante. Vale lembrar ainda que além do Nhô-Quim, o artista ítalo-brasileiro
criou também Zé Caipora e a primeira heroína, a índia Inaiá, que viviam
inúmeras aventuras na revista Revista Illustrada, de 1876 a 1891. Agostini
publicou também nas revistas O Arlequim, O Mosquito suas caricaturas, suas
ilustrações e, principalmente, suas ideias abolicionistas e republicanas, sempre
com humor e critica.
Num Brasil em profunda transformação
política, econômica e social, repleto de lutas pela abolição dos escravos e
pela proclamação da República, Ângelo Agostini produziu uma arte que se
recusava a ficar parada, estática. Avançando no tempo e no espaço, o artista
criou uma narrativa sequencial com cortes gráficos que futuramente apareceriam
nas histórias em quadrinhos. O mesmo pode-se dizer de suas caricaturas, pois
elas não foram apenas um retrato de uma época, mas um olhar critico de uma
sociedade que crescia em todos os sentidos. Ou seja, o pai de Nhô Quim e de Zé
Caipora, nos deixou como legado aventuras e caricaturas que revelam um tempo
histórico significativo, de um país que se tornará Nação, porém, com fortes
desejos de ser uma República.
Para Herman Lima, estudioso da obra de
Angelo Agostini, o artista tem grande valor. Segundo Lima, “durante quarenta e
seis anos, de 1840 a 1910, esse formidável polemista do lápis, sem descanso nem
folga, [...], sempre se afirmou como irreverente fustigador de homens e de
costumes, em milhares de charges, na época em coisa alguma inferior às melhores
dos seus contemporâneos europeus” (Cirne, 1990, p. 16-7). Isso significa que
esse ítalo-brasileiro foi um crítico feroz, que usou a pena como arma para
instigar e mostrar à sociedade seus problemas e falhas, contudo, fez de
belíssima e inovadora forma.
Essa inovação se faz presente
especialmente nos quadrinhos. Ao publicar as aventuras de Nhô Quim e de Zé
Caipora, Agostini traz os principais elementos visuais da narrativa
quadrinizada, mas incomuns para o século XIX. Waldomiro Vergueiro, do Núcleo de
Pesquisa de História em Quadrinhos da USP, comenta que ele usava “recursos
metalingüísticos ou de enquadramentos inovadores para a época (entre estes últimos
pode-se destacar, já no primeiro capítulo, uma sucessão de vários quadrinhos
utilizando um mesmo cenário de fundo, uma técnica que apenas muito tempo depois
foi explorada pelas histórias em quadrinhos)”.
Isso mostra que Angelo Agostini foi, sem
sombra de dúvida, o principio dos nossos quadrinhos. E também um artista que
por meio das histórias em quadrinhos, muito antes delas existirem como as
conhecemos; revelou um país repleto de divisões sociais, econômicas e
políticas, que começava a caminhar pelas próprias pernas, apesar delas serem,
ainda, bastante frágeis.
Revolucionária no uso de elementos
narrativos da linguagem dos quadrinhos que só viriam a ser “descobertos” no
século seguinte e por adotar um estilo realista de desenho indo de encontro à
estética cartunesca vigente no período, a saga de Zé Caipora começa com uma
deliciosa comédia de erros e depois se transforma numa grande aventura,
emocionante e realista onde o personagem aos poucos se revela um herói épico.
Agostini experimenta ousadas diagramações de página, enquadramentos
cinematográficos, grandes cenas panorâmicas, coloca os personagens em situação
dramática e cria a primeira heroína universal dos quadrinhos: a índia Inaiá.
Toda essa revolução pode ser apreciada no álbum As Aventuras de Nhô-Quim &
Zé Caipora: os primeiros quadrinhos brasileiros, um belíssimo trabalho
organizado pelo professor Athos Eichler Cardoso e publicado pelo Senado Federal
em 2002.
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